Bruno de Carvalho: Da cadeira de sonho ao banco dos réus. O que se passou?
Ex-presidente do Sporting vive momento mais negro da sua vida após ter realizado um desejo de infância.
Em pequeno, Bruno de Carvalho confidenciava junto da família que o seu sonho não era, como seria normal numa criança, ser jogador do Sporting, mas sim ser presidente do seu clube do coração.
O Sporting era o clube da sua família, e o pai e avô fizeram questão de transmitir ao jovem essa paixão pelo símbolo do leão.
Nascido em Lourenço Marques, actual Maputo, a 8 de fevereiro de 1972, o amor pelo clube de Alvalade cedo moldou a vida de Bruno de Carvalho. Durante a adolescência, o jovem Bruno era visto com regularidade na bancada sul do velhinho Estádio José de Alvalade, usando roupa da claque Juventude Leonina, da qual fez parte entre 1985 e 1990, e apoiando a equipa verde-e-branca. Mais tarde chegou a fazer parte da Torcida Verde, outra claque de apoio aos leões.
Vida Académica e profissional
Com a passagem à fase adulta, Bruno de Carvalho rumou à faculdade e, tendo sido um excelente aluno a matemática, foi com naturalidade que começou o seu percurso académico no Instituto Superior de Gestão da Universidade Lusófona, no Lumiar, onde tirou Gestão. Mais tarde, foi formado mestre em Gestão do Desporto de Organizações Desportivas pela Faculdade de Motricidade Humana e pelo Instituto de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa.
O amor pelo Sporting e pelo desporto em geral sempre estiveram presentes na vida de BdC; o ex-presidente dos leões tem mesmo o primeiro nível de treinador, e o segundo nível da UEFA e mesmo antes de assumir a presidência chegou a ser um dos responsáveis pela secção de hóquei do clube de Alvalade.
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Contudo, nem só de Sporting é feita a vida profissional do agora ex-líder do clube. Bruno esteve ligado entre 1992 e 2008 a diversas empresas: Reviloc (Director Comercial – 1992-1994); “Bruno de Carvalho, Revestimentos, Soluções de Interior e Representações Comerciais (sócio-gerente 1996-2009); “Polibuild, Construção Civil” (sócio-gerente 2001-2005) e da “Soluções Atelier, Carpintaria Mecânica” (sócio-gerente 2002-2005).
De 2009 a 2013, passou a dedicar-se à Fundação Aragão Pinto, tendo assumido o cargo de Presidente do Conselho de Administração. Esta fundação tem raízes de ligação profunda ao clube de Alvalade, devendo o seu nome a um antigo atleta campeão do clube e posterior Vice-Presidente das Modalidades. Foi a partir desta fundação que o nome de Bruno de Carvalho se tornou mais conhecido dos adeptos do clube, tendo sido inclusivamente responsável pela iniciativa de levar diversas crianças desfavorecidas a jogos de futebol da equipa sportinguista ou a promover acções de solidariedade entre atletas do clube (como Madjer) e instituições de apoio a crianças e jovens.
Em 2006, Bruno de Carvalho foi também fundador do website Centenário Sporting, que assinalava os 100 anos do clube de Alvalade.
As relações de Bruno de Carvalho
A nível pessoal, Bruno casou-se com Irina Yankovich, uma bielorrussa que conheceu no L Club, nos Anjos. Em entrevista à ‘TV Guia’ em julho de 2018, Irina revela que o relacionamento começou com um namoro quente e onde o empresário mostrava ser «um príncipe», mas que com o tempo tudo mudou. «Começou a gritar comigo. Primeiro gritava sobre situações de trabalho. Irritava-se com imensa facilidade quando qualquer coisa não corria bem», conta a bielorrussa de 44 anos. Da relação com Irina nasceu a primeira filha de Bruno, de seu nome Ana Catarina.
Em 2011, Bruno de Carvalho e Cláudia Dias Gomes casaram-se em Bora-Bora, na Polinésia Francesa. O primeiro encontro entre os dois teve o Estádio José de Alvalade como local e foi já ao lado de Cláudia que Bruno assumiu a presidência do clube. Em 2015 nasceu Diana, a segunda filha de BdC, e a primeira (e única) com Cláudia. Em entrevista ao jornal ‘Record’, Bruno admitia que: «A Cláudia é uma força da natureza e uma companheira para a vida», mas tudo mudou no final do ano seguinte, com Bruno a ser fotografado com Joana Ornelas em Londres. Seguiu-se a oficialização do namoro e o consequente divórcio entre Cláudia Dias Gomes e Bruno no último mês de 2016.
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Funcionária do Sporting desde 2011, Joana Ornelas iniciou funções no departamento de Marketing do clube e foi subindo internamente. O casamento entre Bruno de Carvalho e Joana Ornelas ocorreu a 1 de julho de 2017 e foi motivo para várias críticas e polémicas, uma vez que se sobrepôs à Gala Honoris Sporting e inclusivamente obrigou à antecipação da mesma para o dia anterior.
Do casamento entre Joana e o ex-dirigente verde-e-branco nasceu Leonor, a 9 de abril de 2018, numa altura em que o clima em Alvalade já não era o melhor, com Bruno de Carvalho e o plantel do Sporting de candeias às avessas. Contudo, o casamento entre Ornelas e BdC demorou pouco mais de um ano e quatro meses, tendo sido o próprio Bruno a afirmar: «Não vale a pena inventar mais ‘amigas’! Esta é a mulher que amo. E sim, vamos divorciar-nos».
Chegada à cadeira de sonho
Após ter perdido as eleições de março de 2011 para Luís Godinho Lopes, num voto eleitoral bastante polémico e onde ficou famosa a expressão ‘churrasquinho’, Bruno de Carvalho não desistiu do seu sonho de menino e conseguiu mesmo assumir a presidência do clube, em 2013.
O Sporting vivia momentos conturbados, atingindo a sua pior classificação de sempre na Primeira Liga, e BdC assumiu-se como o rosto da mudança para milhares de adeptos do clube que se encontravam inconformados com o rumo que o clube levava então.
Ao serviço do clube leonino, a primeira tarefa do então presidente foi reestruturar as dividas do emblema, tendo renegociado com diversas entidades financeiras planos de pagamento mais atractivos para o Sporting. Para além deste trabalho, as principais ‘bandeiras’ do trabalho de Bruno de Carvalho foram o alegado regulamento das contas do Sporting que permitiu a construção do Pavilhão João Rocha – inaugurado em junho do ano passado – o reforço desportivo e financeiro nas modalidades e o investimento mais forte no futebol que culminou com a contratação do treinador Jorge Jesus após sair do Benfica em 2015.
O início do pesadelo
As polémicas com outros clubes, principalmente com o rival da segunda circular, marcaram a presidência de Bruno de Carvalho no Sporting. Desde o Facebook ligado 24 horas por dia até ao episódio do fumo com o presidente do FC Arouca, Bruno de Carvalho parecia ter balas para disparar em todas as direções.
Tudo ficou pior no início deste ano. Após a derrota leonina frente ao Atlético de Madrid, Bruno de Carvalho criticou os jogadores no seu Facebook; os atletas reagiram e ameaçaram fazer greve nos compromissos seguintes. Depois disto, o desagrado entre adeptos com o clube continuou a afetar os jogadores, após o Sporting ter perdido o último jogo do campeonato, na Madeira, frente ao Marítimo, e falhar o acesso à Liga dos Campeões para esta temporada.
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Do aeroporto do arquipélago para os incidentes na Academia de Alcochete a 15 de maio e consequentes rescisões de contrato, derrota na Taça de Portugal e das suspeitas no caso Cashball, deu-se um volte face de muitos sportinguistas para Bruno de Carvalho. O ex-presidente foi ficando mais exposto ao longo dos anos a todos os níveis.
Todas estas questões levaram ao pedido de uma Assembleia-Geral de destituição, marcada para o dia 23 de junho. Nessa AG votaram14 735 sócios, com os resultados a serem bastante claros. A favor da destituição votaram 71,36% dos sócios, perante os 28,64% que optaram pela não destituição.
A possível chegada ao banco dos réus
Depois de todos as polémicas e de ter sido impedido de participar no acto eleitoral de 8 de setembro por estar suspenso de sócio do clube leonino, Bruno de Carvalho vive agora o momento mais negro da sua ligação ao Sporting.
A detenção ocorrida no dia 11 de novembro em sua casa, no Lumiar, levou o ex-líder dos leões até a uma cela no posto da Guarda Nacional Republicana. Contra si foram apresentados 56 crimes, entre os quais sequestro e até terrorismo, tendo sido considerado um dos autores morais do ataque aos jogadores que ocorreu em Alcochete, a 15 de maio.
Face a estes processos, e se os mesmos evoluírem até aos tribunais, Bruno de Carvalho poderá ser preso durante um período de 10 anos.
Texto: Vítor Miguel Gonçalves | WIN
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