Carta de uma mãe a um pai: “Marido, preciso de mais ajuda”
Celeste escreveu uma carta ao marido. Mãe de dois filhos, pede-lhe que a ajude nas tarefas domésticas. Terá esta carta de uma mãe a um pai resultado?
Ser mãe não é fácil. De dois filhos pequenos não é fácil. Mas ser mãe e não contar com a ajuda do marido torna o processo bastante mais complicado. Celeste é mãe de dois filhos e tem 35 anos. Numa carta de mãe para pai, pede ajuda. “Sou humana. E estou a funcionar com cinco horas de sono e cansada como tudo. Preciso de ti”, escreve Celeste. A carta – publicada nas redes sociais – está a ser partilhada maciçamente por mães que se identificam com a luta.
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“De manhã, preciso que arranjes o miúdo, para que eu consiga tratar do bebé e fazer os almoços de toda a gente. E tomar um café, vá… E não, arranjar o miúdo não é deixá-lo à frente da televisão. É ter a certeza de que ele foi à casa de banho, dar-lhe o pequeno-almoço, ver se ele quer água e arrumar a mochila dele para a escola”, pode ler-se.
Eis a carta de uma mãe para um pai completa
“Querido marido,
Preciso. De. Mais. Ajuda.
A última noite foi difícil para ti. Pedi-te para tomares conta do bebé para que eu pudesse ir para a cama mais cedo. O bebé chorava. Conseguia ouvi-lo lá de cima e o meu estômago deu um nó com o barulho. Pensei se devia descer e ajudar-te ou se devia fechar a porta e conseguir dormir o sono de que precisava desesperadamente. Escolhi o segundo.
Apareceste no quarto 20 minutos depois, com o bebé ainda a chorar freneticamente. Puseste o bebé no berço e, de forma gentil, puxaste o berço para o meu lado da cama. Um claro gesto de que a tua vigília tinha terminado.
Quis gritar contigo. Quis começar uma luta épica naquele momento. Tinha estado a vigiar o bebé e a criança o dia inteiro. Ia ser acordada pelo bebé a porcaria da noite toda. O mínimo que podias fazer era ficar com ele um par de horas para eu conseguir dormir. Apenas umas horas de precioso sono. É pedir muito?
Sei que ambos vimos os nossos pais fazer os típicos papéis de mãe e de pai enquanto crescemos. As nossas mães eram as principais cuidadoras e os nossos pais estavam relativamente livres. Foram excelentes pais. Mas não se esperava que passassem muito tempo a mudar fraldas, a alimentar, a dar carinho e atenção aos filhos. As nossas mães eram as super-mulheres que mantinham a dinâmica de família. A cozinhar, a limpar, a educar as crianças. Qualquer ajuda dos pais era agradecida. Mas inesperada.
Vejo-nos a cair nessa dinâmica a cada dia que passa. A minha responsabilidade de alimentar a família, manter a casa limpa e tomar conta dos nossos filhos foi assumida, mesmo quando voltei ao trabalho. Culpo-me pela maior parte das coisas. Instalei o precedente de que o conseguia fazer. E na verdade até o quero fazer. Sem ofensa, mas não sei se quero saber o que é uma semana de jantares nas tuas mãos.
Também vejo os meus amigos e outras mães a fazer tudo e a fazê-lo bem. Sei que também o vês. Se elas conseguem, se as nossas mães conseguiram, porque não consigo eu? Não sei.
Talvez os nossos amigos estejam a mostrar uma coisa em público e a lutar em segredo. Talvez as nossas mães tenham sofrido em silêncio por muitos anos e agora, 30 anos depois, elas simplesmente não se lembrem do quão difícil foi. Ou então eu não sou suficientemente qualificada para a tarefa, como toda a gente será. E por muito que me encolha, só de pensar nisso. Vou dizê-lo: preciso de mais ajuda. Parte de mim sente que é um grande falhanço apenas pedi-lo. Quer dizer, tu ajudas, és um pai maravilhoso e fazes um ótimo trabalho com os miúdos. E, além disso, isto deveria ser fácil para mim, certo? Instintos maternais, não é?
Mas sou humana e estou a funcionar com cinco horas de sono e cansada como tudo. Preciso de ti.
De manhã, preciso que arranjes o miúdo, para que eu consiga tratar do bebé e fazer os almoços de toda a gente. E tomar um café, vá… E não, arranjar o miúdo não é deixá-lo à frente da televisão. É ter a certeza de que ele foi à casa de banho, dar-lhe o pequeno-almoço, ver se ele quer água e arrumar a mochila dele para a escola
À noite, preciso de uma hora para descomprimir na cama, sabendo que o miúdo está a dormir no quarto e que o bebé está contigo. Eu sei que é difícil ouvir o bebé chorar. Acredita, eu sei. Mas se eu consigo tomar conta do bebé a maior parte do dia, tu consegues fazê-lo uma hora ou duas por noite. Preciso de ti.
Nos fins-de-semana, preciso de mais pausas. Alturas em que possa sair de casa sozinha e sentir-me uma pessoa. Mesmo que seja só uma volta pelo quarteirão ou uma viagem à mercearia. E nalguns dias, quando marcar aulas de natação e brincadeiras, e parecer que tenho tudo sob controlo, preciso que te ofereças para me ajudar. Ou que sugiras que me vá deitar enquanto os miúdos estão a dormir a sesta. Ou que comeces a tirar a louça da máquina sem que tenha de ser eu a pedir-to. Preciso de ti.
Por último, preciso de ouvir que estás agradecido por tudo o que eu faço. Preciso de saber que reparaste que a roupa estava passada e que um bom jantar estava feito. Quero saber que estás agradecido que eu amamente a toda a hora. Espero que repares que nunca te peço que fiques em casa quando tens eventos com os teus colegas ou quando vais fazer desporto. Como mãe, assumo que vou estar em casa o tempo todo e sempre disponível para tratar das crianças, enquanto estás fora.
Sei que não foi como os nossos pais fizeram e odeio pedir-to. Gostava de conseguir fazer tudo e fazê-lo parecer fácil. E gostava de não precisar de elogios por fazer coisas que a maioria das pessoas espera de uma mãe. Mas estou a acenar com uma bandeira branca e a admitir que sou apenas humana. Estou a dizer-te o quanto preciso de ti. E se continuar ao ritmo em que estou, vou acabar mal. E sei que isso te ia magoar. E às crianças. E à nossa família.
Porque, vamos admiti-lo: tu também precisas de mim.”
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