Eleições: O que mais valorizam os eleitores nos seus políticos?
Ser um bom exemplo na vida particular e íntima ou o cumprimento das promessas são duas das coisas que os eleitores mais valorizam nos políticos. Porém, há outra qualidade acima destas.
É a caminho das eleições, na procissão da campanha eleitoral, que os políticos fazem promessas e é o exatamente o cumprimento daquilo que apresentam ao país que os eleitores mais valorizam. Cumprir o que prometem e ser um bom exemplo na vida particular e íntima são duas das principais qualidades que os eleitores valorizam nos políticos, mas, acima de tudo, aquilo que é mais importante num político é, de acordo com um recente estudo britânico, a honestidade.
Enquanto em Portugal decorre a campanha para as eleições de domingo, no Reino Unido a questão prende-se exatamente com a perda de confiança na honestidade do primeiro-ministro, Boris Johnson. Johnson que, além de ter participado em festas ao mesmo tempo que impunha confinamento aos britânicos, mentiu, ao negar, inicialmente, que o tivesse feito. Boris perdeu por isso a qualidade mais apreciada pelos eleitores num político, a honestidade, além de ter deixado de ser um bom exemplo na vida particular e íntima.
Alan Renwick, professor de Política Democrática da UCL – University College London, preside ao estudo Que Tipo de Democracia as Pessoas Querem. A equipa da Unidade da Constituição da UCL conduz neste momento “um estudo alargado sobre as atitudes do público em relação à democracia no Reino Unido”. O documento produzirá “uma nova luz sobre o que mais importa para os eleitores”, explicita. “As nossas últimas descobertas de uma pesquisa em larga escala da população do Reino Unido – realizada no verão passado – sugerem que os parlamentares conservadores estão certos em preocuparem-se com as consequências do ‘partygate‘. A integridade [honestidade] é extremamente importante para os eleitores. Na verdade, é valorizado acima de todos os outros traços de um político”, observa.
“Quando perguntamos sobre o tipo de características que os políticos deveriam ter, ‘ser honesto’ veio em primeiro lugar”, diz. “Ao que se segue o ‘assumirem quando cometem erros’. ‘Cumprir as promessas’ e ‘ser inspirador’ ficaram muito atrás” no estudo de Renwick. Johnson tem uma “tática de marca registrada” – observada repetidamente nas perguntas do primeiro-ministro – de “rebater os críticos afirmando estar focado em cumprir as prioridades do povo”. “Quando questionado sobre qualquer comportamento ou incidente potencialmente questionável, [Boris Johnson] insiste em que os membros do público se preocupam mais em ‘concluir o Brexit‘ do que em qualquer outra coisa”, constata o professor especialista em política democrática.
Porém, as respostas resultantes da investigação “sugerem o contrário”. “Quando pedimos aos entrevistados para imaginarem ‘que um futuro primeiro-ministro tenha de escolher entre agir honestamente e executar a política que a maioria das pessoas deseja’, 71% escolheram honestidade e apenas 16% o cumprimento das políticas prometidas. “Quando perguntámos se os entrevistados concordariam mais que 2a democracia saudável exige que os políticos ajam sempre dentro das regras’ ou que ‘a democracia saudável significa cumprir as promessas, mesmo que isso às vezes exija que os políticos quebrem as regras’, 75% escolheram a primeira e apenas 6 % esta última”, elucida. “Vale a pena repetir que estas descobertas vêm do verão – antes do caso Owen Paterson e do partygate. Não são reações instintivas a manchetes de curto prazo. A grande maioria dos eleitores espera que os políticos aja honestamente e siga as regras.
Prioridade é limitar o poder dos políticos
Outro padrão “menos óbvio, mas igualmente importante, emergiu das nossas descobertas”. Os eleitores “não querem que o poder seja indevidamente concentrado nas mãos do primeiro-ministro e do seu governo”. “Muitos são favoráveis a poderes pelo menos um pouco maiores para o parlamento – 45% acham que os parlamentares devem decidir o que a Câmara dos Comuns debate, contra 30% que acham que o primeiro-ministro e o governo devem fazê-lo”; o que, na prática, significa a recusa de maiorias absolutas e a aceitação de maiorias relativas.
“Mais claramente, e talvez até surpreendentemente, a maioria dos eleitores questionados “quer que os juízes também restrinjam os ministros”. “Pedimos aos entrevistados para imaginar ‘que há uma disputa sobre se o governo tem autoridade legal para decidir um assunto específico por conta própria ou se precisa da aprovação do parlamento’ e considerar como a disputa deve ser resolvida. A maioria (51%) disse que deveria ser resolvida por juízes e apenas 27% escolheram ministros do governo ou políticos no parlamento. Também questionámos se os juízes deveriam desempenhar um papel ativo na resolução de uma nova lei que viole direitos. Dependendo dos direitos sobre os quais perguntámos, entre 65% e 77% dos entrevistados disseram que os tribunais deveriam aplicar os seus poderes atuais sob a Lei de Direitos Humanos ou mesmo ter poderes mais fortes para derrubar leis diretamente”.
Larga maioria também disse que “os funcionários públicos deveriam ser ‘neutros e permanentes’ em vez de ‘nomeados pelo governo em funções'”. “E a maioria dos entrevistados achava que alguém que havia dito anteriormente que a BBC deveria ser neutra nas suas reportagens poderia ser um candidato adequado para a presidência da BBC, mas alguém que dissesse que a BBC deveria ser menos crítica ao governo não poderia.” A razão para estas respostas parece clara: “a maioria das pessoas não confia nos políticos e confia menos nos políticos mais próximos do poder”. Os eleitores, portanto, são “favoráveis a limites ao que os políticos no poder podem ou não fazer”, constata Alan Renwick.
Falta de honestidade e de integridade na política
O estudo investiga ainda “as atitudes dos eleitores em relação à democracia não apenas através de investigações, mas também através de uma assembleia de cidadãos”, que mostra se as pessoas pensam da mesma forma ou de forma diferente depois de terem aprendido e pensado em profundidade sobre as questões” que lhes apresentam. Os resultados completos desta variante do estudo “serão publicados na primavera”. As descobertas iniciais, contudo, “encaixam-se nas respostas da pesquisa”. “Os membros desta Assembleia afirmam que se sentam ‘insatisfeitos com a forma como a democracia está hoje a funcionar’ porque há falta de honestidade e de integridade na política”. A grande maioria favorece “maiores poderes do parlamento e dos tribunais vis-à-vis o executivo” governamental.
As atuais ruínas do Partido Conservador desenrolam-se nas próximas semanas e aqueles que estão no poder – ou que, no caso de Portugal, em período eleitoral – “devem ser claros, pois os eleitores esperam que os seus líderes ajam com integridade e esperam que um sistema de travagem e contrapeso no poder executivo seja mantido”. Um líder que viola estes princípios “prejudica-se e prejudica a confiança na democracia”, conclui Alan Renwick.
Luís Martins;
Fotos: Lusa
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