Cinco factos sobre por que a Rússia invadiu a Ucrânia

Putin invadiu a Ucrânia, mas com que objetivo? Os Estados Unidos da América envolveram-se na crise e ameaçam consequências sem paralelo. Porquê?

Cinco factos sobre por que a Rússia invadiu a Ucrânia

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse, em 19 de janeiro de 2022, que acha que a Rússia invadirá a Ucrânia e alertou o presidente russo, Vladimir Putin, de que “se arrependerá de fazê-lo”, após meses de tensão crescente. A Rússia acumulou cerca de 100 mil soldados ao longo da fronteira ucraniana nos últimos meses. Em meados de janeiro, começou a mover tropas para a Bielorrússia, país com fronteira com a Rússia e a Ucrânia, em preparação para exercícios militares conjuntos em fevereiro.

Putin emitiu várias exigências de segurança aos EUA, antes de retirar as forças militares. A lista inclui a proibição de a Ucrânia de entrar na NATO e o acordo de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte removerá tropas e armas em grande parte da Europa Oriental. Há precedentes para que a ameaça seja considerada séria: Putin já anexou a parte da Crimeia da Ucrânia em 2014. A história recente ucraniana oferece uma janela para a nação complexa que é hoje – e por que está continuamente sob ameaça. Como especialista da Europa Oriental, Tatsiana Kulakevich destaca cinco pontos-chave a ter em conta.

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1. O que devemos saber sobre o relacionamento dos ucranianos com a Rússia?

As tensões entre Rússia e Ucrânia “atingiram o pico em fevereiro de 2014, quando manifestantes violentos derrubaram o presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych

A Ucrânia conquistou a independência há 30 anos, após a queda da União Soviética. Desde então, “tem lutado para combater a corrupção e superar divisões internas profundas”. A região ocidental ucraniana “apoiou de forma quase regular” a integração com a Europa Ocidental. O lado leste do país, por sua vez, favoreceu laços mais estreitos com a Rússia. As tensões entre Rússia e Ucrânia “atingiram o pico em fevereiro de 2014, quando manifestantes violentos derrubaram o presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, no que hoje é conhecida como a Revolução da Dignidade“.

Na mesma altura, a Rússia anexou a Crimeia à força. A Ucrânia estava numa “posição vulnerável para autodefesa, com um governo temporário e militares impreparados”. Putin moveu-se de imediato para atacar a região de Donbas, no leste ucraniano. O conflito armado entre as forças do governo ucraniano e os separatistas apoiados pela Rússia matou mais de 14 mil pessoas. Ao contrário da resposta à Crimeia, “a Rússia continua a negar oficialmente o envolvimento” no conflito de Donbas.

2. O que pretendem os ucranianos?

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, que chegou ao poder em 2019, “fez campanha numa plataforma de combate à corrupção, renovação económica e paz”

A agressão militar da Rússia em Donbass e a anexação da Crimeia “galvanizaram o apoio público às tendências ocidentais da Ucrânia”. O governo ucraniano afirmou que “solicitaria a adesão à União Europeia em 2024” e “anunciou ambições” de ingressar na NATO. O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, que chegou ao poder em 2019, “fez campanha numa plataforma de combate à corrupção, renovação económica e paz” na região de Donbas. Em setembro de 2021, 81% dos ucranianos disseram ter “perceção negativa em relação a Putin”, segundo o site de notícias ucraniano RBC-Ukraine. Apenas 15% dos ucranianos entrevistados relataram perceção positiva em relação ao líder russo.

3. Por que Putin ameaça invadir a Ucrânia?

Decisão de Putin de se envolver em uma escalada militar ao longo da Ucrânia “está ligada a uma sensação de impunidade”

A decisão de Putin de se envolver em uma escalada militar ao longo da Ucrânia “está ligada a uma sensação de impunidade”. Putin também “tem experiência em lidar com políticos ocidentais que defendem os interesses russos e se envolvem com empresas russas assim que deixam o cargo”. Os países ocidentais impuseram sanções – “principalmente simbólicas” – contra a Rússia por interferência nas eleições presidenciais dos EUA em 2020 e um enorme ataque cibernético contra cerca de 18 mil pessoas que trabalham para empresas e o governo dos EUA, entre outras transgressões. “Sem repercussões, Putin apoiou a brutal repressão do presidente da Bielorrússia”, Alexander Lukashenko, aos protestos em massa na capital, Minsk.

Em vários casos, Putin “beneficiou do facto de que alguns importantes políticos ocidentais se alinham com a Rússia”. Estas alianças “podem impedir que os países ocidentais forjem uma frente unificada” contra o regime russo. O antigo chanceler alemão “Gerhard Schroeder, por exemplo, defendeu a cooperação estratégica entre a Europa e a Rússia enquanto estava no cargo”. Mais tarde, “juntou-se à petrolífera russa Rosneft, como presidente”, em 2017. Outros proeminentes políticos europeus que promovem uma posição branda em relação à Rússia enquanto estão no cargo incluem o ex-primeiro-ministro francês François Fillon e a ex-ministra das Relações Exteriores austríaca Karin Kneissl. “Ingressaram ambos nos conselhos de administração de empresas estatais russas depois de deixarem os cargos” políticos.

4. Qual é o objetivo de Putin?

Putin está a “usar a Ucrânia como alavanca” para as potências ocidentais levantarem as suas sanções

Putin “vê a Ucrânia como parte da “esfera de influência” da Rússia – um território e não um estado independente”. Este sentimento de propriedade levou o Kremlin a tentar impedir a Ucrânia de ingressar na União Europeia e na NATO. Em janeiro de 2021, a Rússia assistiu a “uma das maiores manifestações antigovernamentais” em anos. Dezenas de milhares de russos protestaram em apoio ao líder da oposição política Alexei Navalny, após sua detenção na Rússia. Navalny tinha regressado recentemente da Alemanha, “onde foi tratado por envenenamento pelo governo russo”.

Putin está igualmente a “usar a Ucrânia como alavanca” para as potências ocidentais levantarem as suas sanções. Atualmente, os EUA têm várias sanções políticas e financeiras contra a Rússia, bem como contra potenciais aliados e parceiros de negócio para a Rússia. Um ataque russo “pode levar a mais diligências diplomáticas que podem levar a concessões sobre essas sanções”. Os custos para a Rússia de atacar a Ucrânia superariam significativamente os benefícios. Embora seja improvável uma invasão em grande escala, “Putin pode retomar os combates entre o exército ucraniano e os separatistas” apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia.

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5. Por que querem os EUA envolver-se neste conflito?

Apoio militar à Ucrânia e sanções políticas e económicas são formas de os EUA deixarem claro a Moscovo que haverá consequências pela invasão de um país independente

Com a anexação da Crimeia e o apoio ao conflito de Donbas, a Rússia “violou o Memorando de Budapeste de Garantias de Segurança para a Ucrânia, acordo de 1994 entre EUA, Reino Unido e Rússia que visa proteger a soberania da Ucrânia em troca do seu compromisso de desistir de armas nucleares”. As ameaças de Putin contra a Ucrânia ocorrem em simultâneo com a movimentação de forças russas para a Bielorrússia, o que “levanta também questões sobre os planos do Kremlin para invadir outros países” vizinhos.

O apoio militar à Ucrânia e as sanções políticas e económicas são formas de os EUA deixarem claro a Moscovo que haverá consequências pela invasão de um país independente. O risco, caso contrário, é que o Kremlin possa realizar outras ações militares e políticas que ameacem ainda mais a segurança e a estabilidade europeias.

Luís Martins

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