Como ganhar o Euromilhões muda a vida de uma pessoa
Ganhar grandes prémios na lotaria ou no Euromilhões influencia a forma como passamos a ver a vida, mas não altera significativamente o nosso dia-a-dia, as nossas relações nem a nossa saúde.
Qualquer um de nós sonhou em ganhar muito no Euromilhões. O sonho tornou-se recentemente realidade para um casal francês, que ganhou um jackpot de 218 milhões de euros. Uma receita repentina deste nível muda a vida de uma pessoa, mas o que sabe realmente a ciência sobre os efeitos dos ganhos nos jogos de sorte nas nossas vidas? Vencer o jackpot deixa-nos mais felizes?
A editora de política da revista Conversation admite ter passado “muito tempo” ao longo da carreira “a pesquisar sobre como a nossa felicidade e bem-estar podem ser afetados por mudanças de vida, decisões e sorte, incluindo o Euromilhões. De acordo com a investigação de Laura Hood, “ganhar uma quantia moderada de dinheiro afeta quem somos, como gastamos o nosso dinheiro e o que queremos fazer das nossas vidas”. De facto, “vários estudos, colegas meus e eu própria descobrimos que ganhar pelo menos 500 euros em jogos de sorte torna as pessoas significativamente menos igualitárias, mais propensas a mudar para um seguro de saúde privado e a tornarem-se autónomas”.
As evidências sobre se ganhar o Euromilhões nos deixam mais felizes são contraditórias. Uma amostra britânica de mais de 16 mil vencedores com ganho médio de vários milhares de euros, os economistas Andrew Oswald e Jonathan Gardner – e mais tarde os economistas Benedicte Apouey e Andrew Clark – relataram grandes e positivos efeitos na saúde mental dos vencedores dois anos após a vitória.
Contudo, um estudo mais recente da Lotaria Postal Holandesa, com enfoque num ganho maior – em média 20 mil euros – encontrou poucas evidências de que os ganhos na influenciaram a felicidade das pessoas de forma estatisticamente significativa. A maioria dos estudos anteriores analisou os efeitos de ganhar vários milhares de euros, mas e os grandes vencedores? Até recentemente, “não tínhamos muitas observações de sobre vencedores de grandes quantias, para conduzir um estudo significativo dos efeitos”, explica Laura Hood. “Indivíduos que ganham mais de 85 mil euros normalmente não aparecem nos estudos, por não serem em número suficiente para constituírem uma amostra suficientemente credível.”
A conclusão indica portanto que “qualquer estudo anterior que tentasse estimar os impactos psicológicos de grandes prémios em jogos de sorte teria uma amostra muito pequena para se obterem resultados estatísticos conclusivos”. Na tentativa de resolver esta falha, os economistas Erik Lindqvist, Robert Östling e David Cesarini realizaram um dos maiores estudos de sempre sobre os efeitos a longo prazo em quem ganha grandes prémios como os da lotaria ou o do Euromilhões no bem-estar psicológico.
Com um ganho médio de 90 mil euros e uma amostra de mais de 2.500 vencedores na Lotaria sueca, descobriram que a satisfação geral com a vida dos grandes vencedores é “significativamente maior” do que a de pequenos vencedores e não vencedores com características semelhantes, constatações que se mantêm “mais de cinco anos após a vitória”.
A satisfação com a vida é uma medida do bem-estar avaliativo – a avaliação geral de como alguém vê a sua vida. Isto é diferente do bem-estar experimentado – as emoções positivas por que passamos no dia-a-dia. O estudo encontrou poucas evidências de que ganhar uma grande quantia tenha tido algum impacto significativo na felicidade dos vencedores, que é uma medida de bem-estar experimentado. Também descobriram que ganhar muito em jogos de sorte “não melhora substancialmente a saúde mental atual das pessoas”.
As conclusões anteriores são consistentes com um outro estudo dos economistas vencedores do Prémio Nobel Daniel Kahneman e Angus Deaton, que mostrou que além do limite dos 65 mil euros, as medidas de avaliação do bem-estar “continuam a aumentar com com as receitas”, mas “as medidas de bem-estar experimentado, como felicidade e a saúde mental, não”. Além do mais, não foram determinadas “evidências no estudo sueco de que os ganhos melhorassem significativamente a satisfação das pessoas, a saúde ou os relacionamentos”.
As evidências destes estudos “sugerem que ganhar o jackpot do Euromilhões melhoraria de forma significativa e sustentável a forma como pensamos sobre as nossas finanças e como as nossas vidas se desenrolariam no longo prazo”, conclui Laura Hood. “Mas é menos provável que transforme a vida quotidiana em algo mais agradável”, avisa.
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