Ómicron: 5 boas notícias para começar bem o ano

Embora não saibamos quanto vai a pandemia terminar, sejamos moderadamente otimistas. A situação piorou com a variante Ómicron, mas nem todas as notícias são más.

Ómicron: 5 boas notícias para começar bem o ano

A pandemia não acabou e não sabemos como ou quando vai acabar. O nível de incerteza permanece alto. Há ainda muito que desconhecemos sobre a variante Ómicron e prever como este coronavírus irá evoluir é arriscado. A situação poderá até vir a piorar, mas podemos igualmente encontrar boas notícias que nos permitem deixar moderadamente otimistas.

1. A Ómicron tem menor risco individual de hospitalização e de morte

Há cada vez mais evidências de que a infecção por esta variante representa risco menor de hospitalização. As primeiras análises vindas da África do Sul sugeriam risco reduzido de hospitalização entre pessoas infectadas pela Ómicron comparativamente a outras variantes, no mesmo período de tempo. Aliás, uma vez hospitalizadas, os pacientes de Ómicron tiveram risco reduzido de doenças graves em comparação com os da Delta e crê-se que parte desta redução deve-se provavelmente à cada vez mais alta imunidade na população. Noutros países, a dissociação entre os infectados por Ómicron e o número de pacientes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) que morrem devida à covid-19 também começa a ser ilustrativa, embora continue a ser difícil determinar se a nova variante é menos virulenta ou se é apenas um efeito da imunidade da população (relacionada com infecções anteriores e vacinação) ou se serão ambas em simultâneo. Na África do Sul, são relatadas menos 65% de hospitalizações e em Portugal menos 90%.

Um relatório recente do Colégio Imperial de Londres conclui que as pessoas que contraem Ómicron têm menor probabilidade de necessitar de cuidados hospitalares em comparação com as infetadas pela variante Delta. A Agência Para a Segurança da Saúde do Reino Unido, no recente relatório de avaliação de risco para a variante, classifica já a probabilidade de hospitalização por Ómicron como sendo de “risco relativo a moderado”, em comparação com Delta, ainda que admitindo que não haja por enquanto dados sobre a gravidade de um tempo no hospital ou mortalidade).

tabela ómicron
Relatório de avaliação de probabilidade de hospitalização por Ómicron da Agência Para a Segurança da Saúde do Reino Unido

2. Em alguns países, os casos estão já em queda

Noruega, Holanda, Bélgica, Alemanha, África do Sul ou Áustria, ao contrário de Portugal, o número de casos já começou a diminuir e é possível que em vários destes países o efeito da Delta e da Ómicron seja misto. A queda pode ainda ser explicada pelas medidas de contingência e restições implementadas atempadamente e por várias semanas.

Se, no entanto, olharmos para a África do Sul, o efeito Ómicron parece mais evidente. O aumento foi explosivo e exponencial, mas a queda parece estar a ser igualmente veloz. Sugere-se nos meios científicos que o pico de infeções leva quatro a cinco semanas atingir e o mesmo período a cair. Talvez esta seja esta a melhor notícia. Embora a possibilidade individual de hospitalização seja menor, uma escalada vertical de casos é extremamente perigosa para o sistema de saúde e o colapso é o seu maior, e quase único, perigo. Por essa razão, a queda no número de casos é uma notícia muito boa.

3. A vacinação protege-nos da Ómicron

Pessoas com duas doses de vacinação estão muitíssimo mais protegidas de efeitos que obrigam a hospitalização, mesmo tendo perdido ao longo do tempo parte da proteção contra a infecção. Isso ocorre porque, provavelmente, a maioria das vacinas fornece uma resposta celular que não é afetada por esta variante. Também há dados que indicam que uma terceira dose de vacinas de RNA mensageiro tem a capacidade de potenciar a neutralização da Ómicron. Além disso, novas vacinas universais contra SARS-CoV-2 e todas as suas variantes, incluindo o Ómicron, já estão a ser desenvolvidas.

4. Existem medicamentos eficazes contra a Ómicron

A revista Science apresenta como tema de capa o medicamento Paxlovid, novo antiviral oral já aprovado pela FDA que funciona como inibidor da protease viral, com capacidade de reduzir o risco de covid-19 grave em mais de 90%. O Paxlovid é um inibidor da 3CL, uma das proteases SARS-CoV-2. O tratamento consiste na combinação com outro inibidor da protease, ritonavir, que tem sido usado com sucesso contra o VIH (vírus da imunodeficiência humana que causa a SIDA). Uma vez que a variante Ómicron não tem mutações nas proteínas que são o alvo Paxlovid, é altamente provável que esta droga seja igualmente eficaz contra as novas variantes. Pelo menos, conforme relatado pela Pfizer, testes in vitro comprovam-no.

Mas há mais. O anticorpo monoclonal Sotrovimab, da GSK, também parece ser eficaz contra a Ómicron. Trata-se de um anticorpo que se liga a uma área específica (epítopo) no SARS-CoV-2 partilhado com o SARS-CoV-1 (o vírus que causa a SARS), significando que este epítopo é altamente conservado, e dificultando o desenvolvimento de resistência nas novas variantes. O Remdesivir, um inibidor da RNA polimerase viral, é outro antiviral que, em pacientes não hospitalizados com sintomas de covid-19, resultou num risco 87% mais baixo de hospitalização ou morte do que o placebo utilizado em pacientes graves. A Gilead, fabricante do Remdesivir, fez uma análise da informação genética da Ómicron e não encontrou mutações que afetassem o alvo deste medicamento. Por isso, é altamente provável que este antiviral ainda esteja ativo contra esta variante. Até ao momento, a atividade antiviral do Remdesivir foi confirmada in vitro contra todas as outras variantes do SARS-CoV-2, incluindo a Alfa, a Beta, a Gama, a Delta e a Epsilon.

5. A Ómicron infecta menos as células do pulmão

Pelo menos em modelos de células e em hamsters, a Ómicron é menos infecciosa do que as anteriores variantes. É verdade que não há dados em humanos, mas há vários estudos preliminares que sugerem que a variante Ómicron multiplica-se pior nas células pulmonares, o que poderá ser um indicativo da sua virulência mais baixa, ainda que seja igualmente necessário verificar o que acontece noutros órgãos. A situação ainda é delicada, principalmente pelo aumento explosivo de casos que podem levar ao temido colapso do sistema de saúde. Mas se antes um em cada 100 casos acabava no hospital, agora, graças às vacinas, a relação é, internacionalmente, de um para mil.

Porém, se o número de casos explodir, as hospitalizações também crescerão de forma incontrolável e o sistema entrará mesmo em colapso, como já se prevê, podendo Portugal atingir muito em breve 37 mil ou mais casos diários. Devemos continuar a ser muito cautelosos, de acordo aliás com o que a ministra da Saúde, Marta Temido, não se tem cansado de repetir. No entanto, esta notícia, embora preliminar, é boa e permite-nos manter o otimismo. O ano 2020 foi o ano do vírus, 2021 o das vacinas de RNA mensageiro e, com prevenção e, também, alguma sorte, 2022 será o início do fim da pandemia.

Texto: Luís Martins

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