Por que passam os morcegos doenças aos humanos?

Zoóloga Isabelle Catherine Winder explica por que é que os morcegos transmitem doenças mortais como a covid-19 ou a ébola aos humanos.

Por que passam os morcegos doenças aos humanos?

O motivo por que os morcegos transmitem ao humanos doenças como a covid-19 ou a ébola “é uma questão que médicos e cientistas investigando há algum tempo”, constata Isabelle Catherine Winder, professora de zoologia da Universidade de Bangor. Julga-se que “tem que ver com o estilo de vida único e como eles evoluíram”. Os morcegos têm de facto, “maior probabilidade do que outros animais de ter uma ampla variedade de doenças como ébola, raiva e coronavírus e mais probabilidade de transmiti-las a humanos”, confirma. “São os únicos mamíferos que voam livremente, e muita da sua biologia é sobre o vôo. Voar requer muita energia. Por isso, os morcegos precisam de dietas de alta qualidade. Uma dieta de folhas, com baixo teor de energia, não seria suficiente para a maioria destes mamíferos. Geralmente, preferem alimentos ricos em açúcar e proteínas, como frutas, pólen, insetos, aranhas, pequenos animais e, até, sangue.”

A maior parte da energia de um morcego é despendida nas “asas”. Por essa razão, explica Winder, os “outros aparelhos do corpo evoluíram para ser extremamente eficientes”. “O sistema imunológico é um exemplo particularmente bom. Os cientistas demonstraram repetidamente que, quando um morcego contrai uma doença que pode ser séria ou fatal para os humanos, mal parece adoecer. Enquanto o nosso corpo pode ter de lutar muito para vencer uma doença, enfraquecendo-nos durente esse processo, o organismo de um morcego limita-se a tolerar a batalha. Significa isto que eles permanecem saudáveis ​​e capazes de voar e continuarem a alimentar-se, mesmo infectados.” Na verdade, “o organismo de um morcego é tão eficaz a tolerar doenças que eles tendem a ter mais doenças do que nós”. Um morcego aparentemente saudável pode ser portador de várias doenças.”

Os morcegos – “na sua larga maioria” – vivem em “grandes grupos sociais e interagem intimamente uns com os outros, cuidando uns dos outros, no mesmo grupo”. “Os morcegos vampiros, por exemplo, regurgitam a comida para amigos que não conseguiram encontrar alimento. Vivem mais, em média, do que outros mamíferos de tamanho semelhante. O tamanho de um mamífero intimamente relacionado com a expetativa de vida” – os maiores vivem mais tempo. “Uma vez que os morcegos toleram bem as doenças, a atividade social intensa significa igualmente maior probabilidade de transmitirem doenças, mas provavelmente não morrerão. Isto torna qualquer grupo típico de morcegos num foco de doenças e que estas podem tomar novas formas, evoluírem. Uma vez que o sistema imunológico dos morcegos os protege de doenças, estas podem permanecer presas nos seus organismos durante meses, ou anos, e ter muito tempo para evoluir. É exatamante esta a razão por que podem ser ‘terreno’ fértil de novas doenças, além de transmitirem doenças mais antigas”, explica Winder.

“Os morcegos proliferam em todo o Mundo e existem mais de 1.200 espécies. Quer isto dizer que nunca estamos muito longe de um, especialmente porque eles podem voar longas distâncias. Em algumas zonas, não precisamos de preocupar-nos com a sua presença – com os que se alimentam de insetos, por exemplo, que apenas transmitem doenças ao ser humano por contato direto ou se contaminarem os nossos alimentos com as suas fezes, o que é muito raro”, descansa a zoóloga. Noutros lugares, porém, “podem alimentar-se dos mesmos frutos que os humanos, que acabam por ser contaminados através da saliva de morcego”. Em casos “mais raros”, os próprios morcegos são aliemento para os humanos”. Como se viu, os morcegos podem estar contaminados, mesmo não parecendo, e comê-los é particularmente arriscado.

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