Que alternativas a Europa tem ao gás natural russo?
A União Europeia anunciou sanções contra Moscovo que espera virem a ter “consequências maciças” para a economia de Putin, mas não se atreveu a embargar a importação de petróleo ou gás natural russo.
A União Europeia anunciou sanções contra Moscovo que espera virem a ter “consequências maciças”, mas não chegou a um embargo ao petróleo ou ao gás natural russo. Por enquanto, só o Reino Unido anunciou, nesta terça-feira, 8 de março, deixar de importar produtos petrolíferos russos até final do ano. Enquanto as conversas sobre o petróleo estão a intensificar-se, a Rússia pode vencer os países europeus no gás. Na noite de segunda-feira, o vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak disse em comunicado que o Kremlin poderia cortar o gasoduto Nord Stream 1 como retaliação contra a Alemanha por retirar o apoio ao Nord Stream 2, quase concluído. Novak também afirmou estar certo de que a Europa levaria mais de um ano a substituir o petróleo atualmente comprado na Rússia e que o barril poderia atingir os 300 dólares ou até mais.
Com a Rússia a fornecer atualmente 40% do gás natural importado pela UE, quais serão as alternativas para os países europeus se Moscovo fechasse a torneira? O velho continente teria de procurar fornecedores de gás natural liquefeito (GNL), que normalmente chega por navio. Os principais países exportadores de GNL do mundo em 2020 foram Austrália, Catar e Estados Unidos, segundo a BP. Embora esteja mais próximo da Europa, o Catar tem sido lacónico quanto a intervir como fornecedor de gás à UE, justificando não estar disposto a quebrar os atuais contratos de longo prazo por causa de uma possível crise de gás na Europa. Poderiam estar interessados num novo contrato de longo prazo com países europeus, mas isso é algo que a UE já tinha rejeitado devido a preocupações de antitrust – confiança, mas as alegadas violações dos direitos humanos no Catar são outra área que pode levantar questões aos compradores da UE.
As alternativas ao gás natural russo e o bom exemplo de Portugal
Com o fornecimento ainda incerto, embora com as negociações em andamento, o governo alemão já anunciou a construção de dois terminais de GNL no litoral norte do território, que seriam os primeiros do país. Outras nações, especialmente no sul da Europa, já estão a empregar este método. Em 2020, o último ano em que há dados disponíveis, Portugal importou 56% do gás da Nigéria e 17% dos EUA, enquanto a Espanha comprou mais de 35% do seu gás como GNL. A Itália e a Grécia também compraram gás aos EUA e ao Catar em 2020. Um terminal de GNL em Klaipedia, na Lituânia, está a trabalhar no sentido da independência energética nos Bálticos, na Finlândia e, em breve, na Polónia. Mais nenhum país se ‘mexeu’ no sentido de evitar a dependência do gás natural de Putin…
Atualmente, quase 75% do suprimento da UE (UE-27 e Reino Unido) chega ao continente por gasoduto, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA. Além da Rússia, a Noruega e a Argélia também canalizam grandes volumes para a Europa, mas não têm capacidade real de produção para evitar uma escassez no caso de um corte por parte da Rússia. De acordo com cálculos do Instituto Económico de Kiel, o fim das vendas de gás natural para o Ocidente constituiria um doloroso rombo na economia russa, cortando quase 3% do PIB do país. Em suma, e de novo, a interdependência acabará por, muito provavelmente, ser a grande arma para a pacificação no leste europeu.
Luís Martins
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