Quem é Mara Soki, primeira transgénero angolana a desfilar no Carnaval do Rio

Há oito anos no Brasil, Mara Soki sofreu vários casos de preconceito, mas nenhum se compara à intolerância que sofria em Luanda, de onde fugiu. Pela primeira vez, samba este ano no Carnaval do Rio de Janeiro.

Quem é Mara Soki, primeira transgénero angolana a desfilar no Carnaval do Rio

Negra, mulher, cabeleireira, refugiada e transgénero angolana, Mara Soki tem 38 anos. Há quase uma década no Rio de Janeiro, sofreu alguns casos de preconceito, mas “nenhum se compara” à intolerância que sofria em Luanda, Angola. “É muito difícil para a sociedade africana aceitar a minha escolha de identidade. Tive muitos problemas e por isso tive de vir embora”, conta – em entrevista a Vitória Benício para um trabalho de conclusão de curso em Jornalismo na Universidade Veiga de Almeida – Campus Tijuca. Mara é primeira transgénero angolana a desfilar no Carnaval do Rio de Janeiro.

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​A descoberta de Mara sobre a identidade de género começou cedo. Ainda na infância já se sentia diferente, o que não foi surpresa para família. “Sempre mostrei quem eu era. Toda a gente me conhecia assim. Por isso, não era algo estranho”, afirma. Se por um lado tinha a aceitação da família, por outro era fortemente reprimida pela sociedade. A homofobia ocorre de diversas formas, desde comentários ofensivos e e humilhantes até atos de violência física. “As outras famílias não percebiam que isto é natural. A gente nasce assim”, diz. Em Angola, “a cultura é fechada”. “Chamavam-se bruxa”, relata Mara.

​Já no Brasil, descreve que se sentiu “abraçada” pela diversidade. Além de bem acolhida, sempre foi respeitada. “Agora sou carioca. Todas as minhas amigas me deram força para continuar aqui”, diz. Entretanto, de acordo com a linha brasileira de apoio Disque 100, num só ano são realizadas 1.876 denúncias de violações dos direitos humanos contra a comunidade LGBT.

Hoje, Mara passa por um processo de reconhecimento e transformações no corpo. Nasceu num corpo masculino, mas sempre se identificou com o universo feminino. E por isso decidiu fazer tratamento hormonal para se sentir bem com a aparência física e foi submetida a uma cirurgia de implante mamário – “o meu sonho”. “Eu queria mudar, colocar seios maiores”. Mara Soki tem outro sonho: uma cirurgia definitiva de mudança de órgão sexual. “As pessoas estão cheias de preconceito e não conseguem entender o que nós queremos e o que nós gostamos. Ninguém me obrigou a ser assim. Eu nasci, cresci e vou morrer assim”, afirma.

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