Varíola dos macacos e o medo de uma nova pandemia
Nos últimos dias, a nova doença viral varíola dos macacos tem feito notícia e levantando inúmeras questões. Fabiano de Abreu Agrela, biólogo, ajuda a retirar dúvidas.
A monkeypox – ou, em português, varíola dos macacos – tem surgido em vários países do mundo nos últimos dias. Como nos refere o cientista Fabiano de Abreu Agrela, “a varíola dos macacos, infecção viral que se parece com a varíola, foi reconhecida pela primeira vez em primatas cativos em 1958 e identificada pela primeira vez em humanos em 1970, na República Democrática do Congo”.
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“Infecções que ocorreram precedentemente foram, provavelmente, diagnosticadas como varíola, devido aos resultados clínicos semelhantes. Só depois de a varíola ter sido erradicada desta área e de ter sido instituída a vigilância de infeções semelhantes à varíola é que este vírus foi identificado. Ao contrário do da varíola, cujo único hospedeiro é o humano, a varíola dos macacos é uma zoonose, embora possa ocorrer propagação de humano para humano”, explica o biólogo.
A varíola dos macacos é sexualmente transmissível?
Sendo que esta transmissão de humano para humano é possível, convém saber como ocorre. Abreu esclarece que “a transmissão ocorre provavelmente como resultado do contacto próximo da pele com a pele que ocorre durante o sexo, em vez de ser uma infeção de facto sexualmente transmissível”, como o HIV, por exemplo.
“Isto é semelhante à natureza sexualmente transmissível de alguns agentes patogénicos diarreicos que são normalmente transmitidos por via fecal, entre os homens homossexuais.” Contudo, “a via sexual não é a única forma de transmissão”. O cientista alerta ainda que “a varíola dos macacos é transmitida entre pessoas em estreito contacto, através de fluidos corporais, gotículas respiratórias, lesões ou mesmo materiais contaminados, tais como roupa de cama ou banho ou outros objetos pessoais”, acrescenta.
Abreu destaca ainda que “devemos ter a noção de que não há provas de que se trate de um vírus transmitido sexualmente, tal como o HIV”. “É mais pelo contacto próximo durante a atividade sexual ou íntima, incluindo o contacto prolongado de pele com pele, que pode ser o fator-chave durante a transmissão. O mesmo processo de contágio acontece, por exemplo, com outras outras infeções como a sarna. O modo mais provável de propagação é através de contacto próximo: tocar a pele ou a roupa de cama ou outros utensílios partilhados. Não há necessidade de postular a transmissão sexual através de secreções genitais ou orais” – atesta Fabiano de Abreu Agrela.
Vacina da varíola é eficaz para a monkeypox?
No que diz respeito à mortalidade, o cientista explica que depende da variante em questão. “Há duas estirpes desta doença. A do Congo é mais grave (até 10% de mortalidade) e, provavelmente, mais transmissível em humanos. A da África Ocidental, fonte destes últimos casos, a taxa de mortalidade estimada é de cerca de 1%.”
Em conclusão, Abreu acrescenta ainda que “não há tratamento eficaz e a maioria dos casos recuperará por si só num período de algumas semanas”. Contudo, “aparentemente a vacina contra a varíola também é eficaz contra a varíola macaco”.
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