Pandemia antecipou puberdade das raparigas e cientistas descobriram porquê
Cientistas concluíram que ratos utilizados no estudo que foram expostos ao dobro da duração da luz azul passaram pela puberdade numa idade mais jovem que os restantes.
Os múltiplos impactos que a covid-19 teve a nível sanitário, económico, mas também social continuam a ser estudados. Um dos fenómenos mais fascinantes diz respeito ao aumento do número de raparigas que vivenciaram a puberdade precoce idiopática. Isto é, experimentaram um início anormalmente precoce da puberdade, sem que a origem seja conhecida. Esta define-se como sinais de características sexuais secundárias que surgem antes dos oito anos de idade.
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De acordo com o Science Alert, vários estudos detetaram um pico dos números referentes a este problema durante os primeiros meses da pandemia, destacando uma potencial ligação entre o a infeção e um gatilho para o início da adolescência. No entanto, uma investigação apresentada no 60.º Encontro Anual da Sociedade Europeia de Endocrinologia Pediátrica, em Roma, dá conta de que pode não ter qualquer relação (direta) com o vírus. Ao invés, aponta o tempo gasto nos dispositivos móveis durante os confinamentos como o grande culpado.
Luz azul é capaz de alterar níveis de hormonas reprodutivas
Uma equipa de investigadores da Universidade de Gazi e do Hospital da Cidade de Ancara, na Turquia, utilizaram 18 ratos fêmeas imaturas. Estas foram expostas a um espectro de luz predominantemente emitido pelos mesmos ecrãs LED durante períodos relativamente curtos ou longos todos os dias. Assim, a conclusão principal deu conta de que aqueles expostos durante períodos mais longos mostraram marcas da maturidade mais cedo do que os restantes.
“Descobrimos que a exposição à luz azul, suficiente para alterar os níveis de melatonina, é também capaz de alterar os níveis de hormonas reprodutivas e causar um início mais precoce da puberdade no nosso modelo de rato. Além disso, quanto mais longa for a exposição, mais precoce é o início”, descreveu o endocrinologista e autor principal Aylin Kilinç Uğurlu da Universidade de Gazi.
O número de raparigas que relatavam uma forma idiopática de puberdade precoce na Turquia sofreu uma variação superior a 100% em menos de um ano. Em abril de 2019, o número apontava para 25 relatos. Onze meses depois, este valor já se situava nos 58. Foi então que começaram a surgir várias teorias, passando pela alimentação baseada em altas calorias até ao medo da pandemia. Uma possibilidade particularmente intrigante foi o aumento acentuado da utilização de dispositivos eletrónicos.
Ratos apresentaram níveis mais altos dos sinais químicos reprodutivos
Sendo o ser humano um animal diurno, a evolução moldou os nossos corpos para interpretar o tom azul da luz do dia como a principal hora de despertar, e o brilho menos vibrante do amanhecer, do entardecer e da noite como ideais para descansar. Esta relação poderia estar tão profundamente ligada à nossa funcionalidade, que qualquer perturbação grave do padrão poderia mexer com a nossa saúde de formas profundas, muito provavelmente perturbando as marés de uma hormona chamada melatonina.
Embora seja geralmente vista como o químico que nos ajuda a adormecer à noite, a inibição da melatonina num momento crucial do nosso desenvolvimento poderia também dizer ao corpo que está na hora de acelerar as hormonas que preparam o corpo para a puberdade. Não só os ratos expostos ao dobro da duração da luz azul todos os dias passaram pela sua versão roedora da puberdade numa idade relativamente mais jovem que os, como também apresentaram níveis mais baixos de melatonina e níveis mais altos dos sinais químicos reprodutivos estradiol e hormona luteinizante.
Não obstante, tal não invalida a possibilidade de existirem outros fatores envolvidos. A biologia da puberdade é incrivelmente complexa, deixando muito espaço para que uma grande variedade de influências esteja a moldar a linha temporal da adolescência nos humanos. “Sendo este um estudo sobre ratos, não podemos ter a certeza de que estas descobertas seriam replicadas em crianças, mas estes dados sugerem que a exposição à luz azul poderia ser considerada como um factor de risco para o início precoce da puberdade”, explica Uğurlu.
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