Cinco mitos sobre a alimentação de que deve tomar nota

Comer fruta engorda? Beber água com limão ajuda a emagrecer? Carolina Reis, especialista em nutrição clínica, desmitifica alguns pontos.

Cinco mitos sobre a alimentação de que deve tomar nota

Existe cada vez mais informação sobre o que é ou não saudável, faz ou não engordar. Numa era em que a informação é constante, torna-se difícil separar o certo do errado. Para desmitificar algumas ideias, Carolina Reis, enfermeira especializada em nutrição clínica, esclarece alguns pontos.

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Água com limão em jejum alcaliniza o organismo

O limão é um alimento fonte de vitamina C e flavonoides e outras propriedades que podemos encontrar numa variedade de frutas e hortícolas. Diz-se que ajuda na alcalinização do organismo e com consequente desintoxicação. O limão é conhecido pelas suas propriedades em alcalinizar devido ao citrato e sais presentes na sua composição, que é um percursor de bicarbonato. O bicarbonato é um composto químico alcalino, muitas vezes presentes em fármacos como “anti-ácido” para reduzir a acidez estomacal.

Porém, o nosso corpo naturalmente tem um sistema natural de homeostase que mantém o pH sanguíneo entre os 7,35-7,45 e em casos de variações do mesmo, significa que existe uma emergência médica (seja uma acidose ou alcalose). A capacidade que o limão tem no processo de alcalinizar é mínima, pelo que não tem impacto realista em alcalinizar o sangue. E ainda bem.

Se saltar o pequeno-almoço, vou acumular mais «gordura»

Uma vez que a “acumulação de gordura” não está associada a horas ou a refeições específicas, mas sim ao balanço energético diário, esta ideia de que o pequeno-almoço é fundamental tem vindo a ser desmitificada. A distribuição alimentar (quantas refeições fazemos e quando fazemos) deve ter em consideração o estilo de vida da pessoa: Gosta de comer de manhã ou acorda enjoada e sem fome? É mais activa de manhã ou pelas horas mais nocturnas? Prefere fazer uma refeição mais consistente e calórica ao jantar, em família? Treina de manhã ou no final da tarde?

Todas estas questões são importantes para que a pessoa possa realizar uma alimentação que lhe permita criar adesão e ser consistente a hábitos que sabemos ser importantes para a manutenção de peso, sendo o mais importante: fazer um consumo calórico adequado às suas necessidades, ao invés de estar focando no Pequeno-almoço ou Snack da tarde.

Na simplicidade da questão “engorda ou não?”, a resposta culmina no «depende se estás ou não a fazer um consumo calórico adequado às tuas necessidades e se os teus hábitos são sustentáveis».

Fruta engorda

A OMS recomenda consumir fruta e hortícolas numa quantidade mínima de 400g diários e, no entanto, ainda é um mito bastante presente na nossa sociedade de que a fruta engorda. A fruta, no geral, é dos alimentos com menos densidade energética por 100 gramas. O que isto significa? Que é pouco calórico. Entre as diferentes frutas, existem também algumas com mais calorias por 100g (ex: banana, abacate..) mas, por norma, 100g fornece-nos entre 30-50kcal por 100g desse alimento. Para além da questão das calorias, a fruta é fonte de vitaminas, minerais e fibra, que é essencial a um bom funcionamento do trânsito intestinal.

Significa que uma peça de maçã média (140g) fornece apenas 73kcal e uma bela taça cheia de aproximadamente 8 morangos médios fornece apenas 64 kcal, por uma boa porção, em termos de quantidade e com uma grande riqueza nutricional. Deve fazer parte da alimentação de qualquer pessoa, mesmo que esta pretenda perder peso, uma vez que para além da sua riqueza nutricional, é também saciante. É um snack prático de colocar na mala, barato e pode até ser uma sobremesa para terminar uma refeição. Antes, após ou entre refeições, a fruta deve fazer parte do nosso dia alimentar.

Retirei o glúten e perdi peso

O glúten é uma proteína presente entre cereais como o trigo, centeio e cevada. Este tipo de cereais são fontes de hidratos de carbono como e estão presentes na maioria dos produtos de padaria, pastelaria e na maioria dos produtos processados como bolachas, pizzas, cereais, barrinhas de cereais, entre outros.

Quando uma pessoa decide retirar o glúten da alimentação, é muito provável que retire ou reduza a ingestão de alimentos que consumia mais facilmente em maiores quantidades e, com isso, reduziu a sua ingestão calórica. Ora, esta redução na ingestão calórica é que leva a uma diminuição do peso corporal e não necessariamente o glúten.

Comer hidratos de carbono à noite engorda

A longa história de que comer hidratos de carbono (HC) de noite engorda é um mito muito presente. O que realmente dita o ganho de peso será um consumo calórico excessivo de forma crónica, para a pessoa em questão, e esse excesso de calóricas pode ser proveniente tanto de HC como de fontes de gordura.

Por norma, é de noite em que estamos “menos activos”, o que levaria a pensar que faria sentido que não precisamos de tanta energia (calorias) e que o que comemos seria “acumulado” na forma de gordura. No entanto, caso a nossa alimentação esteja adequada em termos calóricos, não haverá acumulação de “gordura” simplesmente porque consumimos fontes de hidratos de carbono de noite.

No entanto, faz sentido existir uma distribuição alimentar harmoniosa pelas refeições que a pessoa realiza ao longo do dia, tendo em consideração o seu estilo de vida, actividade física e preferências alimentares, ao invés de impor determinada regra de horários não fundamentadas.

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