Como as catástrofes naturais afetam os cérebros dos recém-nascidos

O stresse sofrido pelas grávidas causado por desastres naturais como o que assolou várias zonas de Espanha pode atravessar a placenta e atingir o feto, afetando os recém-nascidos.

Como as catástrofes naturais afetam os cérebros dos recém-nascidos

O Dana devastou parte da Espanha, destruiu casas, carros e vidas humanas. Este não é, contudo, um acontecimento único. Mais de 400 desastres ocorrem todos os anos no mundo (furacões, terramotos, inundações, tempestades de areia, fortes nevões, erupções vulcânicas e outras catástrofes naturais) que causam terror, sofrimento, enormes perdas económicas e muito nervosismo e stresse que afetam ainda “recém-nascidos e até bebés ainda na barriga das mães”, diz Rafael A. Caparros-Gonzalez, professor na Universidade de Granada.

No caso da gravidez, o stresse causado por catástrofes naturais “pode atravessar a placenta e atingir o feto”. Um estudo recente da Universidade de Granada, baseado em 1,3 milhões de mães e recém-nascidos dos Estados Unidos da América, Canadá, China, Chile e Índia, revelou que o stress materno provocado por um desastre natural durante a gravidez tem impacto negativo no desenvolvimento cerebral dos bebés.

Os investigadores observaram que crianças expostas a altos níveis de stresse por este motivo “começam a apresentar, a partir dos quatro anos, alterações como sintomas de depressão e ansiedade”. Foi encontrada também “uma associação com sintomas de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade e transtorno do espectro do autismo”, indica Caparros-Gonzalez.

“Como se não bastasse, os bebés expostos a catástrofes naturais durante o desenvolvimento intrauterino “obtiveram notas mais baixas em testes de matemática, leitura e vocabulário a partir dos dez anos de idade”.

O stresse materno atravessa a placenta, atinge fetos e deixa sequelas nos recém-nascidos

O stresse psicológico materno durante a gravidez é capaz de atravessar a placenta e atingir o bebé em desenvolvimento “por diversas vias”. Segundo um estudo de investigadores alemães, as vias de transmissão incluem “substâncias como adrenalina, triptofano (relacionado com a depressão), cortisol (hormona do stresse) e microbiota intestinal e vaginal materna”.

Em relação ao cortisol, uma investigação de 2022 de um conjunto de universidades de Granada, Oxford e Belfast revelou que níveis elevados de cortisol materno “foram capazes de prever resultados negativos em recém-nascidos, como diâmetro reduzido da cabeça e desenvolvimento neurológico deficiente na infância”.

“Mesmo que um bebé tenha sido exposto a muito stress durante a gravidez (por exemplo, devido a uma catástrofe natural), nem tudo está perdido. Existem formas de diminuir o impacto”, atenua Caparros-Gonzalez. Especificamente, “passar tempo com o recém-nascido, segurando-o nos braços, abraçando-o e olhando-o nos olhos reduz esse impacto”.

A importância da saúde mental materna

A saúde mental materna durante a gravidez “é uma prioridade”. E “ainda mais em tempos de crises climáticas como a que vivemos”, confirma, como evidencia um estudo de 2022 publicado pela revista JAMA.

As situações de emergência climática “têm impacto negativo na saúde mental materna”, que, por sua vez, “afeta a saúde do bebé antes mesmo do nascimento”. Assim, investigações concluíram recentemente que a saúde mental da mãe é alterada tanto por catástrofes naturais como por “dificuldades no parto, falta de acesso a serviços básicos de saúde, alteração das condições de vida dos lares, stresse no trabalho e preocupações com a própria saúde e a dos filhos”.

“É evidente que ao cuidarmos da saúde mental das gestantes estamos também a cuidar da das gerações futuras”, conclui Rafael A. Caparros-Gonzalez, professor na Universidade de Granada.

The Conversation

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