De Jolie a Clinton: Como Hollywood se manteve em silêncio sobre os abusos sexuais de Weinstein
Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow juntam-se às dezenas de mulheres que afirmam ter sido assediadas e abusadas sexualmente pelo produtor de cinema Harvey Weinstein.
Harvey Weinstein, fundador da Weinstein Company, é o responsável por grandes êxitos das carreiras de atores como Ben Affleck, Gwyneth Paltrow, Meryl Streep.
É também, desde a investigação levada a cabo pelo The New York Times, um abusador sexual. Ao longo de várias décadas, o produtor terá protagonizado dezenas de episódios de assédio e abuso físico e emocional de atrizes, manequins, produtoras, realizadoras, anónimas.
Agora, quase uma semana depois do escândalo se ter tornado público, uma verdadeira avalanche de estrelas vem falar publicamente sobre algo que, na realidade, todos sabiam mas ninguém tinha coragem de assumir: Harvey Weinstein é um abusador sexual.
Angelina Jolie e Gwyneht Paltrow são as mais recentes estrelas a assumir que também viveram na pele os avançados não autorizados do produtor. Em 1996, Gwyneth Paltrow protagonizava o filme Emma. Uns meses antes – como relata agora ao The New York Times – foi contratada por Weinstein para esse filme.
Na reunião, no hotel do produtor, este pediu-lhe “uma massagem”. “Eu era uma miúda. Fiquei petrificada”, recorda. A atriz recusou os avanços e, nessa altura, achou que ia ser despedida. Brad Pitt, seu namorado na altura, teve de intervir. Weinstein não continuou com as tentativas de actos físicos com Paltrow mas submeteu-a a anos de pressão psicológica. Passaram-se 21 anos e, agora, Paltrow afirma: “era suposto ter de guardar esse segredo”.
A atriz, que continuou a trabalhar com a Weinstein Company no filme A Paixão de Shakespeare, pelo qual ganhou um Óscar, diz: “esta forma de tratar as mulheres termina agora”.
Angelina Jolie também já falou publicamente sobre o seu caso, vivido sensivelmente na mesma altura da de Paltrow.
“Tive uma má experiência com ele na minha juventude e, por isso, escolhi não voltar a trabalhar com ele e fiz questão de avisar os meus pares”.
Ameaças, masturbação e silêncio
Após o primeiro artigo do The New York Times, a New Yorker publica uma investigação onde são compilados relatos horrendos de dezenas de episódios protagonizados pelo produtor de cinema: sexo oral e vaginal não consentido, ameaças, masturbação à frente das mulheres com quem se encontrava. Sempre em quartos de hotel, sempre com o pretexto de reuniões de trabalho.
O artigo explica também algumas das razões que permitiram que, durante anos, este fosse o segredo mais bem conhecido de Hollywood.
“Poucas pessoas estavam dispostas a falar [as atrizes Mira Sorvino e Rose McGowan foram das poucas, em anos recentes, a abordar publicamente a conduta de Weinstein], muito menos a deixar que os seus nomes fosse publicados. Weinstein e os seus sócios usaram acordos de confidencialidade, indemnizações monetárias e outras ameaças legais para impedir a revelação pública destas histórias”.
Os pormenores agora tornados públicos são, à falta de melhor palavra, nojentos. Em 2004, Lucia Evans, aspirante a atriz, teve várias reuniões com Weinstein. Numa delas, relata, forçou-a fazer-lhe sexo oral, tirando o pénis das calças e agarrando a cabeça de Evans.
“Eu disse, vezes sem conta, ‘não quero fazer isto, pára, não’. Tentei fugir mas, se calhar, não tentei o suficiente. A determinado ponto, acho que desisti. A parte mais horrível disto tudo, e é por isso que ele conseguiu fazer isto durante tanto tempo a tantas mulheres é porque, a determinada altura, as pessoas desistem porque acham que a culpa é delas”.
Os relatos descritos na New Yorker são, em tudo semelhantes. Weinstein conhece as atrizes, convida-as para reuniões em locais isolados (maioritariamente quartos de hotel). Pergunta primeiro se elas lhe fazem uma massagem e, qualquer que seja a resposta, a situação termina com um acto sexual forçado. Masturbação, maioritariamente, por vezes sexo oral. E as ameaças às carreiras, caso contem publicamente o que se passou.
Rossana Arquette recorda como ter negado contacto físico com o produtor quase lhe custou a carreira. “Ele dificultou-me a vida durante muito tempo”. Tudo porque, no início dos anos 90, a atriz se negou a fazer sexo oral a Weinstein. “Eu nunca vou fazer isso”, disse a atriz, ao que Harvey respondeu que ela estava a cometer um grande erro ao rejeitá-lo.
Os milhões da política
Outro factor, que está a ser amplamente usado pela ala mais conservadora do jornalismo e da política, é o facto de, ao longo de décadas, Harvey Weinstein ter sido um generoso financiador do partido democrata. Milhões de dólares foram doados para as campanhas eleitorais de Bill Clinton, Barack Obama e, mais recentemente, Hillary Clinton.
A candidata derrotada às eleições presidenciais norte-americanas de 2016 pronunciou-se esta terça-feira sobre as revelações:
“Fiquei chocada e horrorizada. O comportamento descrito por estas mulheres não pode ser tolerado. A sua coragem e o apoio dos seus pares é crucial para impedir que este tipo de comportamento volte a acontecer”.
Leonardo diCaprio, Ben Affleck, Barack e Michelle Obama e Jennifer Lawrence são apenas algumas das estrelas que já falaram publicamente sobre este tema, condenando publicamente o comportamento de Weinstein.
Mulher coloca ponto final no casamento
Georgina Chapman anunciou, esta quarta-feira, que vai divorciar-se de Harvey Weinstein. Em comunicado, a atriz britânica de 41 anos condenou o comportamento do marido.
“Tenho o coração destroçado por causa do sofrimento causado a estas mulheres por estas acções imperdoáveis. Decidi deixar o meu marido. Cuidar dos meus filhos é a minha prioridade”.
Weinstein e Chapman casaram-se em 2007. Têm dois filhos em comum: India, de sete anos e Dashiell, de quatro.
Texto: Raquel Costa | Fotos: Reuters
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