Albano Jerónimo Revela infância de pobreza e discriminação: “Tomávamos banho uma vez por semana”

Num raro momento de partilha, o ator conta que teve uma infância difícil: cresceu numa família pobre, foi discriminado pela professora devido à sua classe social e tinha uma má relação com o pai.

Albano Jerónimo é, hoje em dia, um dos atores mais reconhecidos e requisitados no panorama português. Um estatuto conquistado a pulso e que esconde uma infância dura.

Num raro momento de partilha, o ator, de 45 anos, falou sobre o seu passado e de como foi crescer no seio de uma “família pobre” em Alhandra. “Nós tomávamos banho uma vez por semana. Usávamos sempre a mesma roupa para ir para a escola. E isso potenciou, por exemplo, uma grande união entre mim e os meus irmãos. Não tenho complexos em falar disto e até acho importante (…) Isso não me faz menos. É a minha vida, a minha educação, eu não escolhi, foi aquilo que me foi dado”, disse no podcast Geração de 70 de Bernardo Ferrão, diretor-adjunto da SIC, para o qual levou a única fotografia de criança que tem. Está sentado num triciclo no quintal da “avó emprestada”. “A minha família era pobre, não havia dinheiro para fotografias”, confessou.

Nasceu em Lisboa, mas cresceu em Alhandra, uma zona piscatória à beira-Tejo. “Os meus amigos de infância eram filhos de peixeiros e ciganos. E muitos ainda hoje em dia são meus amigos. Cresci com eles sempre com uma avidez muito grande de fazer coisas e de acreditar que existe um certo tipo de esperança”, afirmou, adiantando: “A escassez foi muito útil porque catalisou a minha imaginação.” 

“O meu pai ensinou-me aquilo que não devo fazer”

A mãe trabalhava na TAP, e foi a sua fonte de amor. O pai tinha um talho e uma relação difícil com o ator. “A minha família… Tenho dois irmãos mais velhos que amo profundamente. Uma mãe trabalhadora e uma relação peculiar, para não dizer outra coisa, com algum sofrimento à mistura… Vi coisas em criança… Dito de uma forma mais concreta, o meu pai ensinou-me a não ser, ensinou-me aquilo que não devo fazer. Os ensinamentos que me deu foram muito úteis. A minha mãe, por outro lado, foi toda a vertente de amor que tenho dentro de mim e uso, resistência, resiliência, inconformismo, inquietação latente… Os meus irmãos são exemplos. São dois homens incríveis, pessoas que me inspiram e são sempre exemplos de vida e luta”, contou.

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“Passei uma boa parte da minha infância sem ir ao recreio”

As dificuldades que viveu não foram apenas em casa. Na escola sentiu a discriminação dos professores devido à sua classe social. O recreio foi-lhe vetado pela professora durante parte da infância e, ainda hoje, não sabe o porquê. Pensa que seria devido a uma possível distinção da professora entre quem tinha dinheiro e quem, como ele, era pobre. “Sofri um bocadinho com aquele modelo de ensinar os alunos com reguadas. Ainda levei com reguadas, com canas e tudo o mais. Havia uma distinção entre quem tinha mais dinheiro e quem não tinha na turma. A professora em causa era muito chata. Passei uma boa parte da minha infância sem ir ao recreio, por exemplo. E não sei porquê. Eu não me portava mal. Tudo isto, formas de estar e ensinar que me foram moldando e educando, umas vezes com muito medo de existir… até certa altura em que o espanto se sobrepôs ao medo. E o espanto é isso que hoje me guia”, confessou.

Apesar de todas as dificuldades, Albano Jerónimo guarda boas memórias desses tempos em Alhandra, que visita com alguma frequência e onde é, hoje, um orgulho. “Ainda hoje quando vou lá vejo alguns amigos que ainda se mantêm por lá. Às vezes, as pessoas tratam-me de forma diferente. Mas os meus amigos, que jogaram à bola comigo quando era criança, mantêm-se muito terra a terra e dizem-me coisas interessantes como: ‘conseguiste, tu furaste, sempre foste um lutador, temos orgulho em ti’”, assumiu. 

Albano Jerónimo, recorde-se, é casado com Francisca Van Zeller, com quem tem uma filha. Tem ainda uma filha mais velha fruto do anterior casamento com Cláudia Lucas Chéu.

 

Revista NOVA GENTE vence Prémio Cinco Estrelas em Revistas Sociais

Texto: Inês Neves; Fotos: Arquivo Impala. 

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