Carlos Cruz recorda vida na prisão: «Sinto-me mais preso no confinamento»

Em 2003, Carlos Cruz foi condenado a sete anos de prisão por crime de abuso de menores. O apresentador abre o coração a Júlia Pinheiro para falar sobre a vida na prisão e sobre todo o processo Casa Pia.

Carlos Cruz foi um dos convidados especiais da emissão de Júlia” desta quinta-feira, 6 de maio. O apresentador abriu o coração para falar sobre a sua vida profissional, pessoal e sobre o tempo em que esteve preso no seguimento do Processo Casa Pia.

O comunicador foi acusado pela prática de abuso de menores em 2002, foi preso por três vezes entre 2003 e 2016, ano em que acaba por sair em liberdade condicional. Em conversa com Júlia Pinheiro, Carlos Cruz assume que este foi um período muito difícil, principalmente para a sua filha, Marta Cruz, que ainda hoje tem “marcas” do processo.

“A Marta, houve um período difícil da vida dela, que coincidiu com um período difícil da minha vida, sofreu muito com isso. Não é uma mulher traumatizada, mas está marcada por isso”, começou por dizer o apresentador. “A fragilidade da Marta é causada do processo (…). Orgulho-me da maneira como tenho sido pai. Não sou uma pessoa traumatizada, ao contrário do que as pessoas pensam. Estou de consciência tranquila“, acrescentou.

«Tenho tranquilidade para me olhar ao espelho»

Carlos Cruz assumiu a Júlia Pinheiro que nunca se sentiu deprimido enquanto esteve a decorrer o processo Casa Pia. Para o comunicador, “estar a ser acusado de algo de que sabia estar inocente, deu-lhe uma força do caraças“. “Sei que estou inocente, as pessoas que me acusaram sabem que estou inocente, as pessoas que me julgaram sabem que estou inocente. Não tenho teias na cabeça, tenho tranquilidade de espírito para me olhar ao espelho. Não estive deprimido porque tinha a força da razão“, explicou.

O antigo apresentador da RTP foi preso pela primeira vez em 2003. Em 2004 passou para regime de prisão domiciliária. Voltou a ser condenado a pena de prisão em 2010, saiu em liberdade em 2013 e, no mesmo ano, apresentou-se no Estabelecimento Prisional da Carregueira para cumprir o resto da pena de prisão de sete anos a que foi condenado. Para Carlos Cruz, estar preso foi “uma experiência muito enriquecedora do ponto de vista humano”, para o bem e para o mal.

«Fui beber um whisky»

“Na prisão não há amizades, mas tem comportamentos no limite da amizade, acarinhavam-me, ajudavam-me quando precisava. Estive numa cela com mais quatro pessoas. Nunca me senti preso, o que estava preso era o meu corpo, mas o meu espírito, o meu pensamento, as minhas impressões, estavam todas cá fora”, afirmou.

“Nunca me senti verdadeiramente preso, sinto-me mais preso no confinamento do que quando estive preso. Prendaram o meu corpo e ninguém conseguiu prender o meu espírito. Esse é o meu segredo para não ter traumas por ter sido preso”, acrescentou, para depois admitir que sempre se sentiu seguro: “Havia presos que diziam: ‘Senhor Carlos Cruz, se houver algum problema, estamos aqui'”.

O pai de Marta Cruz saiu da prisão no dia 7 de julho de 2016 e revelou, entre risos, a primeira coisa que fez: “Fui beber um whisky“.

Texto: Mafalda Mourão; Fotos: reprodução SIC

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