Conceição Queiroz foi ameaçada nesta segunda-feira, 3 de maio, quando estava em direto para a TVI24. A jornalista estava em reportagem numa rua de Lisboa, para tentar perceber junto dos portugueses como está a ser o desconfinamento, quando uma mulher a insultou.

Tudo começou quando Conceição Queiroz questionou uma transeunte sobre o regresso à “normalidade”, agora que o nosso país entrou na última fase do desconfinamento, com o levantamento da maioria das restrições que estavam em vigor devido à pandemia de covid-19. A mulher provocou a jornalista, que prontamente avisou: “Estamos a trabalhar“.

Os insultos continuaram, com Conceição Queiroz a ter de agir. “Ficamos por aqui neste direto, porque as pessoas também se exaltam de alguma maneira. Só para dizer que estas medidas foram implementadas neste quarto desconfinamento…”, tentou prosseguir a repórter, tendo sindo interrompida pela agressora. A jornalista sentiu-se, então, na obrigação de a afastar e o direto passou para o estúdio.

Veja o momento:

«És uma rata, vai trabalhar para as obras»

À Nova Gente, Conceição Queiroz, de 47 anos, explicou que aquele era “o sexto ou sétimo direto” que fazia naquele dia. “Aquela senhora estava acompanhada por um senhor. Estavam ali a assistir aos vários diretos que eu tinha feito. Eu aproximei-me e perguntei-lhes como estava a ser o desconfinamento. Ele respondeu: ‘Está a ser uma merd*‘”, recordou à nossa revista.

“Foi então que me afastei, porque aquele tipo de linguagem não é admissível, muito menos em televisão, e fui falar com outras pessoas. Ela veio ter comigo e insultou-me”, prosseguiu a jornalista. “Disse-me que eu não servia para nada, que não servia para estar em televisão, que eu era uma rata, para eu ir trabalhar para as obras. Levou-me às memórias dos meus 15 anos, quando uma professora me disse que eu não ia ser ninguém na vida“, lamentou a jornalista.

O momento em que Conceição agiu, afastando essa mulher, aconteceu porque esta se aproximou demasiado. “Ela veio para cima de mim. Estamos em pandemia, não a queria junto a mim. Ela levou-me quase ao limite”, confessou.

«Eu mato-te»

Já com a câmara desligada, a mesma pessoa ameaçou Conceição Queiroz de forma mais agressiva. “Gritava ‘eu mato-te‘. O companheiro agarrou-a, mas mais tarde foi ele quem acabou por ameaçar o meu colega, o repórter de imagem, porque pensava que ele estava a filmá-lo. Tive de ser eu a interromper aquela escalada de discussão e a avisar que a câmara estava voltada para mim. Acabámos por meter o equipamento no carro e sair dali”, remata.

A jornalista acredita que este foi mais um ato de racismo. “É para falar a verdade, não é? Eu sou a única negra com destaque na TV portuguesa. Sou uma voz destemida. Saio em defesa da comunidade africana. Isto é uma raiva“, lamenta.

De lembrar que, em fevereiro do ano passado, Conceição Queiroz foi ameaçada com uma faca por um grupo de jovens caucasianos. “Percebi que era sério, vi a morte. O que me ocorreu foi fingir que estava armada. Aqueles miúdos tinham idade para ser meus filhos”, explicou na altura.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Reprodução TVI e DR

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