Cristina Ferreira emocionada: “Pode ser um deles a não aguentar e suicidar-se a seguir”
Cristina Ferreira marcou presença no “Jornal das 8” para discutir o tema do cyberbullying. Pautada por momento de emoção, a apresentadora revelou, durante a conversa, que pretende levar o tema para discussão em Assembleia da República.
Cristina Ferreira lançou o seu mais recente livro “Pra Cima de P***” no qual denuncia os comentários de ódio que tem recebido nas redes sociais. A apresentadora foi, por isso, convidada para debater o tema de cyberbullying no “Jornal das 8” deste sábado, 28 de novembro. Antes do arranque da conversa, teve lugar uma reportagem sobre o tema que contou com o testemunho de Carolina Deslandes, Rita Pereira e Isabel Figueira.
No início da conversa com José Alberto Carvalho, a Diretora de Entretenimento e Ficção da TVI voltou a explicar que a sua nova obra surge na sequência da “saída da SIC para regressar” àquele que sente ser “o seu lugar.”
“Recebi centenas de mensagens a partir do momento em que anunciei o livro […]. Não são criticas, sao ofensas, injúrias. São uma tentativa clara de destruir a minha moral, de destruir quem sou profissional e pessoalmente […]. A minha passagem da TVI para a SIC nada teve a ver com o meu regresso à TVI. As pessoas não entendem porque é que houve uma mudança, porque é que tinha corrido tão bem esta mudança e porque é que eu queria voltar. Não entenderam que era uma escolha minha pessoal. Era uma escolha que só eu sabia porque. Ninguem tem noção do que é a minha vida”, disse.
Ainda durante a conversa, o rosta da TVI afirmou querer levar o tema do cyberbullying para discussão na Assembleia da República. “O próximo passo é uma petição pública. Pretendo não me calar, pretendo que a discussão chegue a quem de direito”, afirmou Cristina Ferreira. Esta é uma “discussão urgente, deve haver uma aplicação de lei ou até de novas leis que tenham de ser criadas”, contou em entrevista. Para que isso aconteça, Cristina Ferreira precisa reunir um mínimo de quatro mil assinaturas para conseguir que a proposta dê entrada direta para o plenário na Assembleia da República e o texto seja, assim, avaliado pelos deputados.
“Este livro não é uma vigança nem um caso pessoal”, diz Cristina
Depois de anunciar o seu regresso à TVI, Cristina esperava algumas reações mais negativas por parte dos telespectadores, mas o “sem número de ofensas” foi algo inesperado que a fez reagir escrevendo este livro, com a ajuda de especialistas para tentar ajudar todos aqueles que passam por este tipo de bullying nas redes sociais.
“Se senti, por vontade própria, que queria aqui regressar, têm de aceitar. As consequências são minhas, sou eu que as pago, mas estas não. Isto estava a fazer-me muita confusão. Eu questionava-me porque é que isto está a acontecer. Isto não acontece só comigo e este livro não é uma vingança nem um caso pessoal. Este livro é acima de tudo para que a sociedade possa refletir sobre ele. Para que cada um de nós saiba que, no momento em que faz um comentário numa rede social, está a atingir o outro”, explicou.
Depois de lançar o livro “Pra Cima de P***”, Cristina Ferreira recebeu uma mensagem que a marcou e que garantiu ser a descrição “perfeita” daquilo que é a sua obra: “Dizia-me esta senhora: ‘No secundário, alguém escreveu na capa do meu livro “Os Bichos”, de Miguel Torga, és uma puta. E lembro-me como se fosse hoje o que senti, como era injusto nunca saber quem o fez e nada poder fazer para que essa pessoa não saísse impune desse ato miserável. Estávamos em 1990. 30 anos depois, persiste este desfiar de injúrias hediondas e a impunidade para quem as destila. A Cristina está a travar quem manchou o meu livro e a minha dignidade. Obrigada por lutar por todos’.”
“A mim não me dói, mas tenho medo que doa a outras pessoas e não resistam”
A apresentadora da TVI quis ainda deixar claro que as ofensas que recebe diariamente nas redes sociais “não a tocam” e que este livro não se trata de “um caso pessoal”, mas sim da exposição de uma realidade que afeta muitas pessoas.
“Estou revoltada e tenho algo a dizer. Acabei de estar seis horas no ar e nunca estive nervosa, agora estou aqui aflita. É que a mim não me dói, mas eu tenho muito medo que isto doa a outras pessoas e que elas não resistam. Tem sido muito difícil lidar com uma campanha destrutiva. O meu filho lê todos os dias, o meu pai lê todos os dias, a minha família lê todos os dias. E eles sabem a filha, a mãe, a pessoa que têm na família. E não é isto, não é estes comentários”, afirmou, de lágrimas nos olhos. “Cada um de nós já sentiu isto na pele. Imaginem o que é sentir isto diariamente, em milhares de comentários”, acrescentou para depois dizer que não se importa que os telespetadores “comentem o seu trabalho”, mas não pode admitir “ataques pessoais.”
Nas redes sociais, são vários os comentários de cariz sexual que a apresentadora recebe e, em relação a essas abordagens, Cristina Ferreira considerou que se deve ao facto de “estarmos no meio de uma cultura machista em que o homem se sobrepõe.”
Porque é que as mulheres são acusadas de más, agressivas, de falarem mais alto, de imporem a sua opinião… Porque é que quando um homem o faz, não se diz essas coisas? Isso faz-me muita confusão. Se eu posso usar a minha imagem pública, o meu próximo passo é que exista uma petição pública para que isto possa ser discutido. Pretendo não me calar. Pretendo que a discussão chegue a quem de direito, pretendo que essas pessoas percebam que estes últimos anos as redes sociais já nos mostraram que caminho levam. Esta discussão é urgente e a aplicação de leis tem de ser pensada o mais rápido possível”, disse. “Temos de alterar esse sentimento de impunidade. Não o podes dizer, não o podes fazer”, acrescentou.
“Pode ser a sua filha. Pode ser o seu filho. Um dia destes, pode ser um deles a não aguentar o que lhe dizem e suicidar-se a seguir. Este livro não é meu, este livro é de todos”, terminou.
Todas as receitas vão ser entregues a associações que combatem o bullying
Cristina Ferreira explicou ainda que todas as receitas do livro “vão ser entregues a associações que combatem o bullying”.
“Mesmo que fosse para vender, todas as receitas vão ser entregues a associações que combatem o bullying. E por isso mesmo, qualquer euro que este livro possa vir a dar, não me será entregue a mim, será entregue a quem ao meu lado, a partir deste momento, luta pela dignidade de todos os outros e isso é o principal no meio de tudo isto. Estamos a falar daquilo que já está convencionado, não só na nossa constituição, como também na declaração universal dos direitos humanos. Temos todos direito à nossa dignidade, à nossa vida, à nossa privacidade, à nossa vida familiar e isso está ali, não está é aplicado na lei. É preciso fazê-lo”, disse.
“Pretendo não me calar”
“Imaginem o que é sentir isto diariamente em milhares de comentários…”, dispara. “Este é o meu trabalho, esta é a minha vida. Comentar o meu trabalho… só isso é que o podiam fazer. Isto é o meu trabalho”.
No final da entrevista, a estrela da TVI mostrou-se indignada. “Estive seis horas em direto e não estive nervosa. Aqui (no “Jornal das 8″) estou aflita. A mim não me dói, mas tenho medo que doa a outras pessoas”, continua. “O meu filho lê todos os dias, o meu pai lê, todos os dias, a minha família lê todos os dias…”
“Pretendo não me calar. Essa discussão é urgente”, finaliza,
“O medo não pode ser superior à mudança”, diz Carolina Deslandes
Isabel Figueira, Rita Pereira e Carolina Deslandes foram as figuras de centrais da reportagem de Susana Pinto, na qual falaram sobre o cyberbullying a que são sujeitas todos os dias.
“Não vale tudo”, diz a autora de “A Vida Toda”. “Os meus pais, os meus avós, os meus amigos, o Diogo (n.r.: ex-companheiro).. pior do que falarem de nós é falarem das nossas pessoas”, acrescentou.
“Quando falo de coisas que considero importantes, as pessoas têm reações para eu não ir buscar mais assunto, mas eu estou-me a borrifar. O medo não pode ser superior à mudança”, continuou Deslandes.
Também Isabel Figueira demonstrou o seu descontentamento com este tipo de situações, das quais também já foi vítima. “Quem escreve não pensa que há filhos que estão na escola e que lidam com outras crianças. E as crianças às vezes são cruéis”, realçou.
Texto: Alexandre Oliveira Vaz, Andreia Costinha Miranda e Mafalda Mourão; Fotos: Reprodução Instagram
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