Guilherme Moura: «Não sabia nada sobre o autismo. Nunca tinha ouvido falar»
Guilherme Moura, que dá vida a Bernardo Blanco, na novela Nazaré, da SIC, foi o convidado do programa Alta Definição, deste sábado, dia 11 de janeiro.
Guilherme Moura, de 22 anos, ficou conhecido do público com a participação em Nazaré, novela da SIC, na qual dá vida a Bernardo Blanco, um jovem que sofre de autismo. Este sábado, 11 de janeiro, o ator foi o convidado do programa Alta Definição, apresentado por Daniel Oliveira.
O seu papel da trama da estação de Paço de Arcos tem sido muito comentado pelo público e Guilherme confessa sentir-se feliz ao ver que o seu trabalho tem ganho grande reconhecimento num curto espaço de tempo.
«[Na rua] Dão-me os parabéns pelo meu trabalho. E acho que isso é muito bom para mim, enquanto ator, saber que o meu trabalho está a ser reconhecido», começou por revelar, confessando que é um jovem inseguro. «Normalmente não tenho muita confiança em mim. Não percebo por que é que às vezes me escolhem para fazer as coisas. Não sei se vou fazer bem ou se vou fazer mal, mas esse reconhecimento eleva um bocadinho a minha confiança», frisou, garantido que prefere focar-se no trabalho, invés de entrar em ilusões.
Timidez e vergonha são algumas das características mais comuns de Guilherme, embora as tenha tentado contornar ao longo dos anos. O jovem garante que a fama «não o ilude» e que a educação que a família lhe transmitiu irá sempre prevalecer. «Os meus pais sempre me apoiaram. Ensinaram a não desistir e a trabalhar. Ensinaram a não me iludir e a não cantar vitória muito cedo para não sofrer. Sempre foram muito protetores mas sempre me mostram o mundo lá fora. O meu pai tinha menos paciência. A minha mãe compreendi-me melhor», disse, destacando os tempos de infância que sempre teve medo de ficar sozinho e de ir para a escola. «Ficava a chorar. Chorava muito em pequeno por não ter os meus pais».
Guilherme admite ainda que a família não costuma demonstrar os sentimentos, no entanto, sabe que existe amor, «Não damos assim tantos abraços, não digo muitas vezes ‘gosto de ti’ porque acho que sabem. A família é para sempre. Ninguém me pode tirar isso. Vão ser sempre os meus pais e não outros.»
O primeiro confronto com a morte
Guilherme foi confrontado com uma pergunta intimista: o pior dia da sua vida. E, emocionado, recordou o trágico dia em que soube da morte do avô. «O meu primeiro confronto com a morte foi com o meu avô. Foi a única vez na minha vida que eu tive nesta relação com a morte. Estava no meu nono ano, foi o pior dia da minha vida. Esta coisa de perder uma pessoa e não a voltar a ver. Quem me contou foi a minha irmã. Estava em casa. Chegou e disse ‘o avô faleceu’. Só me lembro de ir tomar banho e ficar a chorar no banho. É uma imagem que tenho na cabeça».
Guilherme Moura contou todos os pormenores acerca do seu percurso até aqui, e, ainda, os maiores obstáculos com que se deparou para este enorme desafio. É engraçado que desde cedo tive a paixão pela arte. Quando era mais miúdo era ginasta, fiz tumbling em competição até aos 16 anos e houve uma proposta de fazer um espectáculo. Foi algo novo porque queria ser dono de uma papelaria…acho que era por causa dos cromos de futebol. Na altura gostava de coleccionar», disse, em tom de brincadeira. «Quando fiz esse espectáculo gostei de experimentar. Entrei para a escola do teatro, em Cascais, depois fiz a licenciatura e tenho vindo sempre a fazer teatro.»
«Não sabia nada sobre o autismo, nunca tinha ouvido falar»
Guilherme Moura recorda ainda o dia em que fez a audição para fazer parte do elenco de Nazaré. «Quando fiz o casting já sabia que era para um personagem com autismo. Não sabia nada sobre o autismo, nunca tinha ouvido falar ou pesquisado sobre isto. Foi meio ambíguo não saber o que estava a fazer», contou.
Foi numa ida à Federação Portuguesa de Autismo, onde conheceu um jovem pouco mais velho do que ele, que o ator perceber com o que estava a lidar. Foi nesse jovem que se baseou para construir a personagem. «Foi o primeiro contacto que tive com alguém com autismo. Foi muito bom poder estar e falar com ele. Mostrou-me que somos pessoas iguais e fiquei comovido por ver que são pessoas puras e que sofrem quando não deviam sofrer. Não são compreendidos, muitas vezes pela família e pelos colegas que os discriminam», adiantou, garantido que ficou comovido com a história: «Contou-me uma história sobre o pai que não o aceitava. Que o via como um peso».
Guilherme garante receber grande feedback e que chega a receber mensagens de mães que têm filhos com o mesmo problema. «Tenho recebido maioritariamente mensagens de familiares de pessoas com autismo. Agradecem-me por estar a conseguir sensibilizar as pessoas».
Texto: Inês Marques Fernandes com Márcia Alves; Fotos: Paula Alveno e Divulgação SIC
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