Dúvidas na adoção dos filhos leva Luís Aleluia a sentimento de rejeição

Luís Aleluia deixa dois filhos adotivos, mas o processo de adoção não foi fácil e o ator pensou até em desistir quando esteve com as crianças pela primeira vez.

Dúvidas na adoção dos filhos leva Luís Aleluia a sentimento de rejeição

Luís Aleluia abriu o coração a Daniel Oliveira em 2018 e, para além de recordar a infância difícil, abordou o tema da adoção e das incertezas que caracterizaram esse período. O ator, que morreu nesta sexta-feira, 23 de junho, aos 63 anos teve um passado dramático.

Entregue à casa do Gaiato com apenas 10 anos, por sofrer violência doméstica do padrasto, confessa o grande amor pela mãe. “Éramos vítimas de violência doméstica. A minha mãe apanhou muitas vezes porque metia-se à minha frente. Foi a mulher que mais amei. Já morreu, mas, se existem santas, ela é a minha santa”, revela.

O eterno Menino Tonecas, como tão bem ficou conhecido, chegou a admitir que do nada teve tudo. “Passei de um estado de pobreza extrema para um nível de riqueza extraordinário. A filosofia da Casa do Gaiato faz com que tudo o que haja na casa pertença a todos os rapazes. Eu antes não tinha nada. Portanto, e de repente, tinha tudo.” Apesar da dor e da mágoa, a mãe encontrou outro homem que a fez feliz e foram buscá-lo à instituição. “A minha mãe arranjou um homem fantástico, que quis adotar-me. Ainda viveu com ele 22 anos.”

Complicações na adoção dos filhos levou Luís Aleluia a “incertezas”

Já em adulto, quis adotar dos meninos irmãos: José e João. Contudo, nem tudo foi fácil. Chegou a pensar que devia desistir depois de ter estado com as crianças pela primeira vez. “Quando os vi, tive um medo imenso e rejeição. Não por eles, mas pela minha incapacidade e por pensar que eles podiam estar melhor com outros. Hoje em dia, digo que não adotei ninguém. Eles é que me adotaram. Eu é que tinha necessidade de afetos.”

Apesar disso, na época, ficou assustado com a situação e as dúvidas falaram mais alto. “Vi uma figurinha a correr para mim, a agarrar-me e a dizer: ‘mano, vamos, que o pai já chegou’. Foi a primeira vez que me chamaram pai”, conta. “Chegámos ao hotel e chorámos. No dia seguinte, procurei uma igreja, porque precisava daquela paz. Quando fui à instituição outra vez, disse que já não os queria. Ficaram apavorados.”

Em conversa posterior com a psicóloga – e quando lhe disse que não ia ficar com os meninos porque não estava preparado –, a clínica disse-lhe uma frase que o marcou e que mudou todo o rumo. “Um pai que manifesta essa preocupação vai ser um grande pai.”

Texto: Maria Constança Castanheira;
Foto: Arquivo Impala

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