Marco Paulo descreve o pior momento na recuperação do cancro
Visivelmente emocionado, o cantor confessa o sofrimento ao saber que tinha «dois meses de vida» quando entrou no hospital. E admite que chorou muito ao ver o cabelo cair.
Marco Paulo foi o último entrevistado de Daniel Oliveira, para o programa Alta Definição, na SIC.
Numa conversa intimista e emocionada, o cantor popular português falou do cancro no cólon que teve há cerca de 20 anos.
«Até ao cancro tinha dúvidas que as pessoas gostassem de mim. Mesmo com o sucesso dos discos, mesmo com as grandes afluências aos concertos, era uma ideia que eu tinha na minha cabeça. Quando tive a infelicidade de ter o cancro, isso mudou completamente. Pensei: “afinal os portugueses gostam do Marco Paulo.” Chegaram manifestações de carinho de todo o lado», começou por contar.
O artista descobriu o cancro numa noite em que acordou «com uma perna presa»
«A minha perna direita não mexia. Então, vim do andar de cima, de rastos, acordar os meus compadres e dizer o que se estava a passar. Eles ligaram ao meu médico que, às 5h da manhã, me mandou ao consultório. Pensámos que era um problema de coluna. Deu-me uma injeção, a perna começou a mexer. Mas, de repente, quando já estava a sair do consultorio, mandou-me voltar para trás», conta.
«E quando voltei, ele não me disse a mim. Disse ao meu compadre e à minha comadre: “o Marco tem um cancro, tem de ser já operado“. De manhã fui fazer exames ao hospital, estranhava tudo, a reação dos amigos chorosos, até que me disseram: “tens uma doença muito grave. Se não fores tratado já podes morrer», afirma.
Os médicos deram-lhe dois meses de vida. A sua primeira reação foi questionar-se. «Porquê? Porquê eu?»
Depois, agarrou-se com força à vida, à fé e às pessoas que estavam à sua volta. Especialmente ao afilhado, Marco António, que altura tinha 5 anos.
«Só sei que me agarrei a tudo. Agarrei-me a Deus, a Jesus, a Nossa Senhora, confiei nos médicos, naquele gente toda que estava à minha volta, em toda a minha familia mais próxima. E essencialmente a uma criança, que tinha 5 anos na altura, e que achava muito estranho o padrinho estar num hospital», relata emocionado.
«Ia-me visitar todos os dias, queria-me em casa, não queria que estivesse ali. Perguntava-me porque tinha tantas coisas no nariz e na boca. E um dia cheguei a casa careca (já estava a fazer as quimioterapias) e ele disse-me para ter força.. com apenas 5 anos disse-me: “tens de ter muita força, tu ainda vais cantar muito padrinho.” E foi essa criança que me deu muita, muita força.»
Outro momento difícil neste processo todo foi a queda do cabelo
«Foi duro. Tomava banho e o cabelo caia-me, ficava apavorado. Olhava para o espelho e chorava, chorava muito. Por isso, disseram-me para cortar o cabelo», conta.
«De chapéu, outra vezes de lenço, era assim que ia para as minhas sessões de quimioterapia, durante um ano e meio. Até ao dia em que um dos meus médicos me disseram: conseguimos matar o bicho.»
Depois dos tratamentos de quimioterapia, Marco Paulo ficou com o cabelo liso e perdeu os caracóis que foram, durante décadas de carreira, a sua imagem de marca.
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Fotos: Impala
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