Marina Mota arrasa Governo de Costa: “Chega de hipocrisia estúpida”
Marina Mota esteve no “Em Família” da TVI e, em direto, fez um discurso sobre o estado do setor da Cultura, entre outros, no nosso País. “Não venham dizer que vão dar 400€ e um saquinho de batatas. Por amor de Deus!”, disse.
O discurso de Marina Mota no programa “Em Família“, da TVI, da passada terça-feira, 1 de dezembro, tornou-se viral. A atriz, que é conhecida por ser frontal, arrasou o Governo por ter deixado o “setor da Cultura, entre outros”, chegarem ao estado em que chegaram, devido à pandemia da covid-19.
“Eu uso poucas cábulas, mas o que é que o amor à arte, por exemplo, me levou a fazer? Levou-me a ler um bocadinho da Constituição da República Portuguesa e é o que eu quero partilhar hoje com os portugueses lá em casa, com o tempo de antena que tiver aqui convosco”, começa por dizer a artista, em conversa com Cláudio Ramos e Maria Cerqueira Gomes.
“O artigo 58.º da Constituição Portuguesa diz: ‘Todos têm direito ao trabalho. Diz ainda que o dever de trabalhar é inseparável do direito ao trabalho. Diz ainda que incumbe ao Estado, através da aplicação de planos de política económica e social, garantir o direito ao trabalho, assegurando:
a) A execução de políticas de pleno emprego;
b) A igualdade de oportunidades de escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado (…).
Isto está na Constituição por isso eu acho que é inconstitucional o que estão a fazer ao setor da Cultura, entre outros, ressalvo, e que estão a inibir os meus colegas. E quando digo colegas, refiro-me aos técnicos de som, luz, auxiliares de camarim, criativos, primeiro os que pensaram neste cenário, depois os carpinteiros que o construíram, as pessoas dos adereços que depois os decoram e não somos nós, nós os privilegiados que estamos em televisão e normalmente pagos para isso. Não é o meu caso, que hoje estou aqui de borla, mas vim de borla só para dar este recado. Há muita gente a passar fome”, continua.
Marina Mota apoia empresários em greve de fome
Marina Mota aproveitou o momento para manifestar a sua solidariedade “com os trabalhadores que estão a defender os seus postos de trabalho à frente da Assembleia da República”, como é o caso do chef Ljubomir Stanisic e para “dizer que a Cultura faz parte”. “A Cultura é a identidade de um povo e a identidade de um povo não é Shakespeare, porque senão não temos identidade. É por isso que eu cá estou. Eu não sou jurista, mas era bom que os juristas se debruçassem sobre isto e que defendessem, de uma vez por todas, esta classe”, apela.
O apresentador da estação de Queluz de Baixo concordou “em absoluto” com o que acabara de ouvir. “Temos tido muitas conversas com colegas que são da nossa área e que não são privilegiados como nós [apontando para os três]. Nós somos uns privilegiados”, frisa.
A atriz quis ainda assegurar que, apesar de tudo o que disse, não minimiza “nada os efeitos trágicos desta pandemia”. No entanto, atira: “As pessoas que dizem ‘fiquem em casa, protejam-se’ são seguramente aquelas que têm a sua subsistência assegurada no final do mês. Eu também o faço… se o Governo me pagar para ficar em casa. Aliás, qualquer um destes meus colegas aqui atrás das câmaras, se ficarem em casa e lhes mandarem o ordenado para casa, ou se puderem fazer teletrabalho, fá-lo-ão, seguramente, com todo o prazer. Paguem às pessoas para ficarem em casa como pagam a outras entidades. Nós não somos menores!”
“Não venham dizer que vão dar 400€ e um saquinho de batatas. Por amor de Deus!”
A intérprete pede, porém, que “não venham dizer que vão dar 400€ e um saquinho de batatas”. “Por amor de Deus! Chega desta hipocrisia estúpida que estamos a viver e alguém tem que fazer alguma coisa. E não é a criar a ‘associação A’, ‘associação B’, que defende, cada uma, o seu nicho, que lá vamos. Temos de ser unidos e todos temos importância. Pela defesa dos meus ideais, eu vou a qualquer lado! Temos, de uma vez por todas, de ter um Ministério da Cultura e alguém que o represente, que nos represente, que nos defenda e que nos salve. Ponto final parágrafo”, afiança.
“O Parlamento é um teatro”
Por fim, a convidada do formato da TVI referiu o facto de os teatros terem sofrido restrições tremendas no que ao público diz respeito. E pegou no caso do Parlamento. “Não pode haver público no teatro porquê? O Parlamento é um teatro. É um espaço fechado, é um auditório, onde estão pessoas a representar-nos e com público. Não funciona todos os dias? É um perigo para a saúde pública? Então paguem-nos para não sermos um perigo para a saúde pública”, remata.
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Texto: Ivan Silva; Fotos: Reprodução Instagram
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