Como devemos lidar com a dor de perder um pai? Psicóloga explica
Pedro Lima faleceu inesperadamente, deixando cinco filhos. Agora, será a mulher o principal pilar dos meninos. A psicóloga Marta Dias explica as etapas que devem ser concretizadas para restabelecer o equilíbrio emocional.
Pedro Lima perdeu a vida cedo demais, aos 49 anos, deixando cinco filhos a chorar a sua morte. Existem várias formas de lidar com o luto e, segundo a psicóloga Marta Dias, várias etapas que devem ser concretizadas para restabelecer o equilíbrio emocional.
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«A experiência de luto representa um acontecimento marcante para quem perde um ente querido e acarreta uma nova forma de lidar com a realidade. A ausência de uma figura materna ou paterna, que até então, exercia o papel de apoio incondicional, representa um confronto com um conjunto de emoções, nunca antes vivenciadas. Envolve também uma nova forma de estar e enfrentar o mundo, que se faz acompanhar de um elevado sofrimento e uma sensação de desamparo», começa por à NOVA GENTE.
Para além de João Francisco, de 21 anos, Emma, de 15, Mia, de 12, Max, de nove, e Clara, de três, também a mulher do ator, Anna Westerlund, terá de fazer o luto e, ao mesmo tempo, apoiar os filhos.
«Para quem perde o seu cônjuge, este processo torna-se igualmente difícil e exigente, porque para além do mesmo ter que lidar com o seu próprio sofrimento, compete-lhe também, a tarefa de substituir o papel da figura que agora se encontra ausente», explica a psicóloga.
Embora cada pessoa tenha diferentes formas de lidar com a morte, existem algumas etapas, segundo Marta Dias, que devem ser concretizadas para que se restabeleça o equilíbrio e para que o processo de luto possa ficar completo.
Aceitar a realidade da perda
Chegar a uma aceitação da perda leva tempo e é marcada por crenças e descrenças, pois envolve não só uma aceitação intelectual, mas também emocional. Alguns passos nesta etapa passam por:
Ir ao encontro dos factos da perda, sem entrar em negação do sucedido, compreendendo os motivos da morte;
Encontrar um significado para a perda, através da procura de um sentido para a morte do ente querido, procurando não minimizar o sofrimento causado e atribuindo-lhe um verdadeiro valor;
Aceitar a irreversibilidade da perda, acreditando na finalidade da morte e no facto de nunca mais poder voltar a estar na presença do falecido.
Elaborar a dor da perda
Atravessar a dor causada pela morte e a mágoa associada é uma tarefa difícil, mas necessária, para que não haja um prolongamento do processo de luto e envolve:
Permitir-se a sentir emoções negativas, evitando barrar os sentimentos associados;
Compreender a necessidade de experienciar a dor que está presente, através da verbalização com terceiros acerca do que está a sentir, sabendo que um dia o sofrimento irá passar;
Evitar a utilização de outros meios para esquecer a dor, tais como, estupefacientes, álcool ou a cura geográfica, isto é, viajar de sítio para sítio, tentando encontrar algum alívio das suas emoções.
Ajustar-se a um ambiente em que o falecido está ausente
Ajustar-se a um novo ambiente envolve significados distintos para diferentes pessoas, dependendo do tipo de relação estabelecida com o falecido e com os vários papéis que a mesma desempenhava. Adaptar-se ao novo ambiente passa por:
Compreender a implicação da perda em termos de vida diária, através de uma constatação do que a perda pode causar, por exemplo, no caso de uma viúva, a perda de um marido pode significar a perdas de um parceiro sexual, um companheiro, um contabilista, etc., dependendo dos papéis que eram normalmente desempenhados pelo seu marido;
Redefinir a perda, constatando os benefícios que pode trazer, por exemplo, um homem que perde a sua mulher, que tinha como um dos vários papéis cuidar dos filhos e que passa a ter que desempenhar essa tarefa, isso pode-lhe dar um enorme prazer, chegando à conclusão que se a mesma não tivesse falecido, provavelmente não o ia fazer.
Procurar ajustar-se às várias áreas que o rodeiam, encontrando um sentido para o seu lugar no mundo, através de ajustamentos externos (funcionamento diário no mundo), ajustamentos internos (sentido de si mesmo) e ajustamento de crenças (valores, ideias, considerações sobre o mundo).
Reposicionar-se em termos emocionais à pessoa que faleceu e prosseguir com a vida
Esta etapa surge quando deixa de haver uma necessidade de reativar a representação do falecido com uma intensidade exagerada no quotidiano e quando consegue dar continuidade à vida, sem estagnar, sendo possível que nesta etapa possa:
Investir em novas vinculações, encontrando um equilíbrio entre o espaço guardado para a pessoa falecida, mas também para investir em outros relacionamentos significativos;
Para quem perde um marido ou mulher, permitir-se com o tempo a voltar a amar, sem deixar de amar a pessoa que perdeu;
Procurar combater a sobre-idealização da pessoa falecida, sentimentos de deslealdade em investir em novos laços afetivos e o medo catastrófico de uma nova perda, libertando-se do medo;
Já a forma como as crianças reagem à morte, torna-se bastante distinta dos adultos. A perda de um progenitor ou de alguém significativo é diferentemente vivida consoante a idade:
Na idade pré-escolar: associam a morte a uma fase de grande tristeza, pois é a imagem espelhada pelos adultos, não reconhecendo a morte como irreversível e podendo haver a fantasia de voltar a estar com o falecido, que muitas vezes se deve às explicações que os adultos dão, nomeadamente, que o mesmo foi descansar, dormir ou fazer uma viagem.
Entre os cinco e os nove anos: vão construindo uma representação da morte, como algo irreversível e expressam curiosidade sobre o destino do falecido. Porém, habitualmente a morte é concebida como um acontecimento que pode acontecer nos outros, mas não no próprio e naqueles que lhe são significativos.
Entre os nove e os doze anos: interiorizam a morte como um fenómeno universal, irreversível e comum a todos os seres vivos.
Independentemente da idade, a forma como as pessoas reagem à perda, ocorre através de um caminho marcado por altos e baixos, que não deve ser vivenciado em solidão, mas sim contando com o apoio de outras pessoas significativas ou através de ajuda profissional especializada.
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