Os 7 pecados (e mais alguns) do rei emérito de Espanha
Juan Carlos envolvido em várias controvérsias, ao longo da vida. Recorde os 7 pecados (e mais alguns) do rei emérito de Espanha.
O pai de Felipe VI está novamente no centro de uma polémica porque corre o risco de ir a julgamento por perseguição e assédio sexual à ex-amante Corinna Larsen. Aos 84 anos e apesar de ter abdicado do trono, em 2014, por causa de escândalos, a verdade é que Juan Carlos continua a ser perseguido por episódios que continuam a manchar a imagem da família real espanhola. Os pecados de Juan Carlos são tantos que não cabem numa lista clássica de apenas sete.
As 1500 amantes e o casamento desastroso com Sofia de Espanha
O rei emérito tem uma longa lista de conquistas. Corinna Larsen pode ser a mais famosa, mas está muito longe de ser a única. Pilar Eyre, jornalista especialista em realeza, arrisca enumerar que são 1500 as mulheres que já dormiram com o rei emérito. Numa entrevista exclusiva dada à Nova Gente, no ano passado, aquando do lançamento do seu livro, Eu, o Rei, a escritora explicou que Juan Carlos se considera um verdadeiro Don Juan das conquistas. “Com quantas mulheres é que o rei tinha dormido (…) eu neste livro coloco 1500 mulheres. (…) Ele sente-se como o Julio Iglesias da monarquia, um homem que tinha todas as mulheres que queria, porque ele tinha de todos os tipos: plebeias, aristocratas, jovens, artistas, etc.”
Casado desde 1962 com Sofia de Espanha, esta união foi um autêntico desastre. Durante muitos e muitos anos, a rainha emérita fechou os olhos às sucessivas infidelidades do marido e engoliu em seco. Contudo, chegou a uma altura que mudou de atitude. A mãe de Felipe VI optou por viver uma vida completamente distante da do marido. Pilar Eyre conta, na mesma entrevista dada à revista do grupo Impala, que os dois viviam num “ambiente familiar desastroso com muitos gritos e rixas” e que Sofia de Espanha “aprendeu a defender-se ao longo dos anos. (…) Ela estava a par de todas as amantes do rei e Juan Carlos enviava mensagem às suas amantes”.
Corinna foi, de acordo com Pilar Eyre, o grande amor de Juan Carlos e este chegou mesmo a pedir a mão da empresária ao pai desta. Além disso, Juan Carlos chegou a passar noites de Natal com a amante e com o filho desta. Inclusive, Corinna vivia no perímetro da Zarzuela, mesmo à beira da rainha Sofia. “A Zarzuela é um espaço enorme, com alguns quilómetros, com um parque muito grande. No recinto da Zarzuela central viviam Juan Carlos e Sofia, a um quilómetro e meio está a casa onde vive Felipe e Letizia. E dois ou três quilómetros depois havia um pavilhão onde ela morava, que até a chamavam da ‘Senhora do Pavilhão’. Era uma casa, decorada por um decorador madrileno e era a casa onde Juan Carlos se sentia mais à vontade. Houve vezes e há fotos disso em que ele passou noites de Natal com a Corinna e o filho. (…) Eu digo que Corinna era a primeira família de Juan Carlos, porque ele passava mais tempo com ela, em festas e outros momentos do que com os filhos biológicos. Juan Carlos conheceu o filho de Corinna com dois anos e o menino chamava-o de papá. Os dois tiveram uma relação que Juan Carlos não teve com os próprios filhos.” Corinna pode ser a amante preferida, mas não se livrou de também ela ser traída com outra mulher. Terá descoberto a traição quando estava num processo de luto.
A alegada perseguição e assédio sexual à ex-amante
Corinna Larsen é o nome que mais vezes está ligado aos escândalos de Juan Carlos. A mulher que durante muitos anos foi amante do rei acusa-o agora de perseguição e assédio sexual. E o pai de Felipe VI pode mesmo vir a ser julgado no Reino Unido. É que, recentemente, o Tribunal Superior de Londres recusou conceder imunidade ao rei emérito de Espanha neste caso. Devido ao facto de já não ser soberano efetivo, dado que abdicou a favor do filho, em 2014, e de o processo judicial decorrer noutro país, o Tribunal Superior de Londres entendeu que Juan Carlos não tem direito a imunidade. “O arguido não pode esconder-se atrás de qualquer posição, poder ou privilégio para evitar estes procedimentos”, defendeu a acusação.
O palácio real não comentou esta decisão judicial, nem é expectável que o faça. Mas, anteriormente, Juan Carlos tinha descrito as alegações de Corinna Larsen como “não fundamentadas”. Refira-se que os dois mantiveram uma relação extraconjugal entre 2004 e 2009. Após a rutura ainda ficaram amigos, até que o pai das infantas Elena e Cristina terá tentado a reconciliação. Corinna alega ter sido vítima de assédio e perseguição entre 2012 e 2020, facto que lhe terá causado “angústia e ansiedade”.
Escondeu dos espanhóis e da mulher o seu estado de saúde
A lista de operações de Juan Carlos é longa. Há muitos anos que tem um estado de saúde frágil e tenta, a todo o custo, fugir da cadeira de rodas. Contudo, nem sempre os espanhóis foram os primeiros a saber como estava a saúde do monarca. Em 2010, terá tentado esconder que tinha um tumor num pulmão. Apenas a amante Corinna e poucas pessoas sabiam do seu estado de saúde. A mentira tem perna curta, por isso a Imprensa descobriu. E mais uma vez Sofia de Espanha teve de “engolir um sapo” e representar em frente à comunicação social, fingindo que tinha visitado o marido no hospital e estava a par do seu estado de saúde.
“A rainha Sofia estava em Madrid, não tinha intenção nenhuma em vir, uma vez que sabia que Corinna estava com o rei. Mas com a pressão da imprensa ela acabou por vir. Ela subiu num elevador e a Corinna desceu pelo outro, ao mesmo tempo e nem chegou a entrar no quarto de Juan Carlos. Fez um compasso de espera e depois desceu e falou com a imprensa e contou-nos umas tremendas mentiras, porque não tinha estado com ele”, contou a cronista Pilar Eyre.
A caçada aos elefantes no Botswana
Em abril de 2012, Juan Carlos enfrentou um dos maiores escândalos e aquele que fez os espanhóis mudarem de opinião para sempre. O rei emérito resolveu divertir-se a caçar elefantes no Botswana. As imagens do monarca junto a um animal morto com mais de 50 anos, cinco toneladas e presas de marfim de mais de um metro chocam o Mundo. Aliás, neste safari, Juan Carlos estava acompanhado… pela amante Corinna. Espanha ficou chocada com a barbárie e ficou indignada com a infidelidade do rei, que ousava fazer sofrer a rainha Sofia.
À medida que a Imprensa avançava mais pormenores sobre a caçada, mais o rei borrava a pintura. Descobriu-se que o safari tinha sido um presente de Juan Carlos para o filho de Corinna, pelo décimo aniversário. Este escândalo só veio a público porque o pai de Felipe VI caiu na caçada e fraturou o quadril. Teve mesmo de ser operado à anca de urgência no regresso a Madrid. Nesse ano, Espanha enfrentava uma grave crise económica. Os súbditos perceberam também que o monarca vivia uma vida de luxo. Juan Carlos foi obrigado a pedir desculpas em público. “Não se voltará a repetir”, garantiu. Mas nunca mais os espanhóis o viram com os mesmos olhos.
As acusações de fraude fiscal e as contas em paraísos fiscais
Este escândalo também não vai ser esquecido tão cedo. Em 2020, Juan Carlos enfrentou acusações de fraude fiscal e corrupção. Alegadamente, terá recebido (em 2008) 100 milhões de dólares do rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz, devido a um negócio de construção de uma linha de velocidade entre Meca e Medica, que estava a cargo de um consórcio espanhol. Dinheiro esse que alegadamente terá sido escondido em contas em paraísos fiscais, nomeadamente na Suíça. A justiça espanhola investigou o caso, mas este foi arquivado já neste ano. O ministério público espanhol sublinhou as “irregularidades fiscais” de Juan Carlos, mas explicou que não podia processá-lo por causa da sua imunidade como Chefe de Estado.
Os milhões que deu a Corinna Larsen
Descobriu-se, contudo, que Corinna Larsen tinha sido beneficiária de parte deste dinheiro saudita, que levou Juan Carlos a ser investigado por fraude fiscal. A própria ex-amante assumiu, perante as autoridades suíças que também investigavam os milhões, que o monarca lhe dera de 65 milhões de euros. A empresária garantiu que o dinheiro que recebeu foi “um presente”. A alemã confirmou que Juan Carlos lhe transferiu 64,8 milhões de euros para a sua conta, mas diz que o fez “não para se livrar do dinheiro”, mas sim “por gratidão e amor” e para “garantir o seu futuro” e o do seu “filho”.
Forçado ao exílio
No meio de um turbilhão mediático e “perante as repercussões públicas” que acusações de fraude fiscal tiveram no seio da família real espanhola, Juan Carlos foi forçado ao exílio. Em agosto de 2020, teve de abandonar Espanha para não prejudicar ainda mais o reinado do filho. Foi em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que encontrou refúgio. “O meu legado, e a minha própria dignidade como pessoa assim o exigem”, explicou no comunicado que anunciava que estava de partida de Espanha. “Fui Rei de Espanha durante 40 anos e durante todos eles sempre quis o melhor para Espanha e para a Coroa.” Mesmo depois do arquivamento das três investigações judiciais, o pai de Felipe VI fez saber, este ano de 2022, que prefere continuar a viver em Abu Dhabi, onde diz ter encontrado finalmente a “paz”. “Considero o meu regresso a Espanha, mas não imediatamente.”
Felipe VI renuncia à herança e Juan Carlos perde a pensão
Ainda no rescaldo deste escândalo financeiro que envolve alegadas contas obscuras de Juan Carlos na Suíça, Felipe VI foi forçado a tomar uma posição no sentido de limpar um pouco a própria imagem e reparar alguns danos. Em março de 2020, o marido de Letizia emitiu um comunicado a confirmar que tinha renunciado à herança paterna. Mas o atual rei de Espanha foi ainda mais longe: cortou a subvenção de dinheiro anual que a Casa Real espanhola atribuía ao rei emérito.
“¿Por qué no te callas?”
Em 2007, Juan Carlos foi notícia no mundo inteiro depois de, literalmente, ter mandado calar Hugo Chávez. Aconteceu durante a XVII Conferência Ibero-Americana, realizada em Santiago do Chile. O então Presidente venezuelano estava constantemente a interromper José Luís Rodríguez Zapatero, que defendia o antigo primeiro-ministro José Maria Aznar. Juan Carlos aborreceu-se e mandou calar Hugo Chávez: “¿Por qué no te callas?”.
A morte acidental do irmão com um tiro de pistola
De todos os escândalos protagonizados pelo monarca, este é o mais perturbador e também aquele que permanece em maior segredo e mistério. Trata-se da morte acidental de Alfonso, infante de Espanha e irmão mais novo de Juan Carlos. A tragédia aconteceu numa quinta-feira santa, no dia 29 de março de 1956, na Villa Giralda, no Estoril, onde a família real espanhola vivia em exílio durante a ditadura de Franco. Facto é que o acidente fatal aconteceu quando Alfonso, com 15 anos, e Juan Carlos, de 18, limpavam armas. Contudo, nunca se confirmou oficialmente quem foi o autor do disparo acidental da pistola, que estava guardada na secretária do rei emérito. Porém, no livro O Segredo do Rei, de José Maria Zavala, é lançada uma suspeita.
Texto: Ricardina Batista ([email protected]) com Levi Filipe Marques ([email protected])
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