Ainda é uma boa ideia tomar aspirina para prevenir doenças cardíacas?
“Uma pequena dose diária de aspirina pode reduzir o risco de desenvolver doenças cardíacas.” A afirmação é corrente, mas novos estudos colocam-na em causa.
Já deve ter ouvido dizer que tomar uma pequena dose diária de aspirina pode reduzir o risco de desenvolver doenças cardíacas” é uma afirmação corrente, mas, a menos que o seu médico tenha lhe dito que pode fazê-lo, pense duas vezes porque, “para muitos, os riscos superam os benefícios”, avisa Alex Bye, professor de Farmácia da Universidade de Reading.
De acordo com um novo estudo, os adultos mais velhos nos EUA continuam a tomar aspirina, apesar das “crescentes evidências que questionam os seus benefícios para aqueles sem histórico de doença cardiovascular”.
Durante anos, a aspirina foi considerada uma forma simples e económica de reduzir o risco de ataques cardíacos e derrames. A ideia é simples: “a aspirina dilui o sangue, ajudando a evitar a formação de coágulos que podem bloquear as artérias e causar ataques cardíacos ou derrames”, diz o farmacêutico. Estudos recentes, no entanto, “levantaram preocupações sobre a segurança e a eficácia desta abordagem, especialmente para pessoas sem histórico de doença cardíaca”.
No Reino Unido, por exemplo, de onde é Alex Bye, “as diretrizes evoluíram para refletir este novo entendimento”. O National Institute for Health and Care Excellence (NICE), do Serviço Nacional de Saúde (NHS) na Inglaterra e no País de Gales, “desaconselha agora o uso rotineiro de aspirina em baixas doses para prevenir doenças cardíacas em pessoas que não tiveram problemas cardíacos anteriores, como um ataque cardíaco, pois o risco de sangramento é muito grande para justificá-lo”.
A NICE “alterou a sua orientação sobre o uso de aspirina para prevenir um ataque cardíaco inicial ou derrame em 2009”. Os Serviços Preventivos dos EUA, que emitem orientações nos no país, “atualizou a sua recomendação sobre a aspirina apenas em 2022“.
A alteração na recomendação “decorre de pesquisas abrangentes”. Por exemplo, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association constatou que, em idosos saudáveis, a aspirina não reduziu significativamente a incidência de ataque cardíaco ou derrame. Aumentou no entanto o risco de hemorragia com risco de vida. Outro grande estudo publicado no The Lancet corroborou estes resultados, enfatizando o “delicado equilíbrio entre benefícios e danos”.
Antes de começar ou de parar de tomar aspirina fale com o seu médico
A chance de alguém que já teve um ataque cardíaco ou derrame sofrer outro é “geralmente suficientemente alta para justificar os riscos associados à aspirina”. “Chama-se ‘prevenção secundária’ e o NICE recomenda ainda o uso de aspirina nestes casos. Ainda assim, “há evidências para mais cautela, se nos basearmos num estudo do Reino Unido a relatar, em 2017, que pessoas com 75 anos ou mais apresentam sangramento com mais frequência quando tomam aspirina para prevenção secundária”, aponta o professor de Farmácia.
“Embora a aspirina tenha sido a pedra angular da prevenção de doenças cardíacas ao longo de décadas, o aparecimento de novas informações alimenta um ciclo constante de reavaliação e adaptação”, enquadra Alex Bye. “Cabe às autoridades de saúde responder aos novos dados e alterar as diretrizes – e aos pacientes e médicos aderir a essas recomendações.”
Sabemos agora que, “para algumas pessoas, os riscos associados ao uso diário de aspirina de baixa dosagem podem superar os eventuais benefícios”. “Se estiver a tomar aspirina diária de baixa dosagem ou a pensar tomá-la, aconselhe-se com seu o médico.”
“É sempre importante fazê-lo antes de iniciar ou de interromper este ou qualquer outro qualquer medicamento”, aconselha Alex Bye. “O seu médico pode ajudá-lo a compreender fatores de risco para doenças cardíacas e determinar a melhor estratégia de prevenção.”
Mudanças no estilo de vida, como “manter uma dieta saudável, exercitar-se regularmente e controlar a pressão arterial e os níveis de colesterol” continuam a ser fundamentais para a prevenção de doenças cardíacas”, finaliza o professor em Farmácia.
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