Victoria Handmade – Como se fazem as cestas portuguesas que estão na moda
O Instagram e as lojas de fast fashion encheram-se de cestas tradicionais portuguesas. Mas há uma marca nacional que as faz como ninguém.
Nos últimos meses, o Instagram (e depois as lojas de fast fashion) encheram-se de cestas tradicionais portuguesas. Marcas como Dior, Dolce & Gabbana ou Chanel já tem os seus próprios modelos inspirados nesta tendência, mas, sejamos sinceros, nenhuma chega aos calcanhares da tradição portuguesa.
Em Janeiro de 2015, o site Who What Wear já previa que esta moda vincada por Jane Birkin ia voltar à rua. Demorou, mas, quando assim foi, uma marca portuguesa já tinha meio caminho feito.
Esperança, fundadora da Victoria Hadmade, cresceu dentro de uma cesta de junco. E o junco tornou-se a sua arte. Arte que está na família há 70 anos.
A cesta portuguesa renovou-se e agora a mulher moderna usa-a como fizeram a mãe e a avó. Agora, com novas formas, cores e padrões – mantendo-se o modo de fabrico –, enche perfis de Instagram pelo mundo fora.
A tradição caiu em desuso e eram cada vez menos os artesãos a conhecer a arte. A Victoria Handmade nasceu ainda antes da reviravolta na tendência, quando, há quatro anos, Esperança quis homenagear a família e tirou (finalmente) a ideia da gaveta.
O pai aprendeu a arte – que durante décadas foi o seu sustento – e aí nasceu a história da família. Passaram por todas as fases – muita procura nos anos 70 e 80 e posterior decréscimo nos anos 90 – e acabaram por se reinventar.
Tudo começou quando a avó Vitória, matriarca, pôs o pai da fundadora do projeto aos 9 anos – conhecido pela aldeia como Toino da Vitória– a aprender a trabalhar o junco. Os ensinamentos foram passados a cada uma das filhas.
«A minha primeira memória é a de ver a minha mãe tecer enquanto estou deitada, ao lado dela, num cobertor, a ouvir o barulho do pente a bater num dos teares», recorda.
Esperança não sabe bem com que idade aprendeu a arte. «Foi inato», conta. Tinha emprego estável, mas a vontade de homenagear a arte da família nunca lhe saiu da cabeça.
Como são feitas as cestas tradicionais?
O junco cresce em terreno alagadiço e é a equipa que o apanha. São cerca de 150 a 200 molhos e cada um é sensivelmente da altura de um homem comum.
Nos meses de junho, julho e agosto, meses de mais calor, é exposto ao sol – único método de secagem – para ser usado durante o resto do ano.
Após o corte, tem cor verde forte e é o processo de seca ao sol que lhe retira essa cor, transformando-a numa tonalidade creme/pérola.
Os molhos são separados por tonalidades e os mais escuros vão a tingir com anilinas, à moda antiga. Também depois deste processo o sol é grande aliado na secagem.
São dias inteiros a tear. No fim, é tudo cosido à mão. As peças são personalizadas e únicas, podem ter apontamentos em pele e até o nome das donas gravado.
As malas da Victoria Handmade são retiradas do contexto rural para o contexto urbano. E esse, acredita Esperança, é o segredo do sucesso. «As pessoas associam memórias às cestas. Gostam das peças mais tradicionais, mas querem algo mais contemporâneo», conta a fundadora.
Atualmente, o projeto conta com três pessoas a tempo inteiro e uma em part-time. São todos da família. Os mais novos trazem ao projeto ideias e design mais inovadores, mas nunca desprezam a tradição.
Os preços destas malas vão desde os 36 aos 154 euros.
Texto: Marta Amorim | Fotos: Cedidas por Victoria Handmade
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