Como conseguem os gatos passar por espaços tão pequenos?

Os gatos conseguem passar por buracos incrivelmente pequenos, mas como é que a anatomia lhes permite fazerem o que parece realmente impossível?

Como conseguem os gatos passar por espaços tão pequenos?

Os gatos são tão flexíveis que um estudo de 2014 investigou, com alguma ironia, se os felinos eram líquidos. Brincadeiras à parte, “a mecânica tradicional dos fluidos não consegue explicar as contorções impressionantes dos gatinhos ao espremerem-se em pequenos buracos”, constata Charles Q. Choi, citado pelo LiveScience. Afinal, como conseguem os gatos tais proezas?

A chave para esta habilidade de aparentemente “fluírem” por pequenas aberturas é “a sua cintura escapular única”. Nos humanos, a cintura escapular é composta pelas escápulas e as clavículas, de acordo com o National Center for Biotechnology Information (NCBI).

Como conseguem os gatos passar por espaços tão pequenos?
As escápulas dos gatos estão “presas ao resto do corpo apenas por músculos, e não por ossos”

“As escápulas e as clavículas são, nos humanos, unidas. A cintura escapular resultante fornece suporte rígido para os músculos dos braços”, observa-se no NCBI.

Em contraste, as escápulas dos felinos estão “presas ao resto do corpo apenas por músculos, e não por ossos”, explica-se na Catonsville Cat Clinic em Maryland, o que é “igualmente válido para as clavículas dos gatos”, acrescenta Nathalie Dowgray, chefe da International Society of Feline Medicine no Reino Unido. Além disso, as clavículas felinas “são muito menores, em comparação com o resto do corpo do gato, do que as clavículas humanas são em relação ao resto dos nossos corpos, acrescenta Dowgray.

Estas características anatómicas ajudam os gatos a espremerem-se em aberturas apertadas. “Ser capaz de encaixar-se em espaços pequenos é uma vantagem evolutiva para, por exemplo, caçarem presas pequenas, como ratos, mas também para se esconderem e escaparem de potenciais predadores”, justifica Dowgray.

Os bigodes dos gatos, por outro lado, também os ajudam a passar por espaços exíguos. Trata-se de “pelos duas vezes mais grossos que os pelos de proteção” dos gatos (os pelos mais longos e grossos no pelo dos gatos) e ficam três vezes mais profundos na pele, explica Nathalie Dowgray.

“A base de cada bigode é repleta de terminações nervosas, fornecendo aos gatos um sistema de navegação altamente sensível que transmite grandes quantidades de informação sobre o que os rodeia”, prossegue. “Isto inclui julgar o tamanho de pequenos espaços antes de tentar passar por eles.”

A flexibilidade impressionante dos felinos significa que eles são essencialmente líquidos? Marc-Antoine Fardin, físico da Universidade Paris Diderot, investigou esta questão num estudo de 2014, pelo qual ganhou um Prémio Ig Nobel – paródia do Prémio Nobel que homenageia investigações que “fazem as pessoas rirem, mas depois pensarem”.

Um estudo mais recente, já deste ano, também ironizou sobre o assunto, concluindo que “os gatos são (quase) líquidos” e que confiam na consciência do tamanho do corpo ao aproximarem-se e passarem por pequenos buracos. A investigação, publicada no iScience, testou se os gatos passariam por buracos cada vez mais estreitos e, separadamente, cada vez mais curtos. Descobriu-se que gatos passavam diretamente por aberturas altas e estreitas, até mesmo buracos mais estreitos do que a largura do peito do gato, “mas diminuíam a velocidade antes de alcançarem e passarem pelos mais curtos”.

A equipa de investigadores concluiu que eles “abordam buracos estreitos e curtos de forma diferente, o que indica uma dependência da representação do tamanho do corpo no gato”.

Já agora, por que é que os gatos gostam de espremer-se em espaços minúsculos? “Os gatos escolhem geralmente esconder-se em espaços pequenos, como debaixo da cama, quando se sentem stressados ​​ou assustados, pois isso ajuda-se a sentirem-se mais seguros e protegidos”, diz Dowgray. “Também escolhem espaços pequenos para privacidade quando precisam de um tempo longe do ambiente que os rodeia”, acrescenta, aconselhando “perturbá-los que estão em espaços pequenos”. “A menos que possamos desconfiar de que estejam feridos ou indispostos”, diz.

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