Ginecologista responde a 10 questões que tem vergonha de perguntar sobre o que se passa lá em baixo
A obstetra e ginecologista Shree Datta sabe que muitas mulheres sentem vergonha de fazer certas perguntas sobre o próprio corpo e por isso responde… sem tabus.
Médica obstetra e ginecologista, Shree Datta responde a 10 das perguntas mais comuns sobre o que se passa “lá em baixo”, mas que muitas mulheres têm vergonha de perguntar.
1. Como sei se o meu corrimento vaginal é normal?
«O corrimento é realmente um sinal muito bom de saúde vaginal. O corrimento claro ou leitoso é completamente normal. É necessário garantir que a sua vagina esteja saudável e limpa e mantenha o equilíbrio bacteriano sob controlo. Por esse motivo, duches internos na vagina não são recomendados, pois podem alterar o equilíbrio bacteriano natural da vagina. Usar sabão e água na pele externa é bom. O tipo e a quantidade de corrimento podem depender do momento do ciclo menstrual. Por exemplo, geralmente é mais espesso e mais gelatinoso na segunda metade do ciclo. Dito isto, se houver alteração persistente na cor, na consistência ou no cheiro, é aconselhada uma ida ao ginecologista.»
2. Os meus períodos são muito intensos. O que causa isto e como posso corrigi-lo?
«Escusado será dizer que a frequência e a duração dos períodos variam de pessoa para pessoa. Por isso, vale a pena vigiar o que é normal para si. Faça um registo do número de produtos higiénicos íntimos e anote eventuais alterações ou reações a cada um deles. Os pensos higiénicos também podem fazer a diferença. Os copos para menstruação são ótimos para vigiar o fluxo menstrual. Por exemplo, pode precisar de um grande para os dois primeiros dias da menstruação e um menor para os outros dias.
«Ter longos e intensos períodos (com coágulos ou sangramento intenso com alterações horárias ou duas a cada hora) é um alerta para ser examinada pelo seu ginecologista. Por vezes, as causas de períodos longos e intensos são sinal de miomas e pólipos que podem estar a crescer no útero. Às vezes, pode simplesmente ser o resultado da toma de medicamentos que podem alterar o fluxo da menstruação. Mas também pode ser a causa de algum desequilíbrio hormonal na tiróide, de modo que estas são igualmente outras coisas que devemos verificar.»
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3. É doloroso fazer sexo, porquê?
«Acredite ou não, é comum acontecer sexo desconfortável em alguns momentos e há uma lista bastante longa de possíveis causas. Pode ser tão simples quanto fazer sexo pela primeira vez com um novo parceiro, sentir-se com stress ou estar a tentar uma nova posição. Pode achar que o sexo é mais desconfortável em certos pontos do seu ciclo menstrual ou precisar de mais lubrificante. Problemas médicos como infecções, miomas ou endometriose também podem causar dor ao sexo. Por isso, é importante consultar o seu médico se o sexo for persistentemente desconfortável. Se o sexo sempre foi problemático, vale a pena procurar ajuda para verificar se há uma ligação física ou emocional subjacente.»
4. Por que é que tenho vontade de fazer xixi com tanta frequência?
«Ir à casa de banho para urinar mais de oito vezes por dia pode ser incrivelmente prejudicial ao seu estilo de vida. Em primeiro lugar, é importante estar atenta às quantidades de álcool e de cafeína ingeridos, bem como à quantidade de água que está bebendo. Mas lembre-se de que se você não beber água suficiente, a sua urina fica mais concentrada e isso pode irritar a bexiga, levando-a ir ao WC com mais frequência. Também pode acontecer ter uma infecção urinária ou bexiga hiperativa.
«Certos medicamentos ou condições médicas, incluindo prisão de ventre, podem também afetar a frequência com que vamos à casa de banho. Além disso, qualquer coisa que exerça pressão sobre a bexiga – um fibróide no útero ou durante a gravidez, por exemplo – também pode levar à micção frequente. Também é boa ideia fortalecer os músculos pélvicos, fazendo regularmente exercícios de Kegel. Estes músculos apoiam a bexiga e o intestino e afetam a função sexual.»
5. Continuo a sangrar entre períodos e depois do sexo. O que poderá ser?
«Existem muitas razões pelas quais podemos sangrar entre períodos menstruais ou depois do sexo. Para ajudar a esclarecer a causa, tome nota de quando sangrar, quão intenso é o sangramento e quanto tempo dura em relação aos seus períodos. Lembre-se de que não é incomum sangrar se, por exemplo, alterarmos a contracepção para uma nova pílula ou aparelho. Para algumas mulheres, um leve sangramento no ponto da ovulação (meio do ciclo) pode ser normal.
«Algumas infecções sexualmente transmissíveis podem causar sangramento não relacionado com os períodos menstruais, assim como stress ou gravidez. Também pode dever-se a alterações celulares no colo do útero. Ao consultar o ginecologista, peça uma ecografia para despiste de miomas ou pólipos no seu útero, o que pode afetar a duração, a frequência e a intensidade do período, além de sangrar entre os períodos.»
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6. Preciso de fazer hemograma se já fiz a vacinação contra o HPV?
«O vírus do papiloma humano (HPV) é uma infecção sexualmente transmissível comum, com mais de 100 tipos, que pode causar verrugas e cancro cervical. A infecção pelo HPV geralmente não causa sintomas. Portanto, aqueles com HPV não sabem que têm a infecção e geralmente leva de 18 a 24 meses a eliminar. O programa de vacinação, embora eficaz, não protege contra todos as estirpes do HPV que podem causar cancro do colo do útero. Por isso a importância do hemograma.
«Como a vacina não protege contra todos os tipos de HPV, ainda é importante realizar hemogramas principalmente após os 25 anos de idade. Este exame é aconselhável a cada três anos entre os 25 e os 50 anos. Daqui em diante, aconselham-se hemogramas de cinco em cinco anos.»
7. Não menstruo há três meses, mas o meu teste de gravidez é negativo. E agora?
«Além da gravidez, há muitas outras razões pelas quais o seu período pode parar. As coisas em que pensamos quando os períodos param podem incluir, por exemplo, uma mudança na contracepção hormonal. A pílula Mirena pode aliviar e até parar os períodos em algumas mulheres, mas pode também acontecer que circunstâncias stressantes estejam a influenciar o ciclo menstrual, ou mesmo a interrompê-lo. Exames escolares ou um divórcio levam muitas vezes a estas interrupções.
«Muitas vezes, situações do foro psicológico podem repercutir-se fisicamente e não são raros, entre outros, efeitos como alterações no peso e, acredite ou não, tem igualmente um enorme impacto sobre a menstruação. Portanto, perda repentina de peso, praticar muito exercício ou excesso de peso significativo podem afetar os períodos. Problemas médicos como diabetes ou tiróide hiperativa também podem influenciar se a menstruação – alterá-la, interrompê-la e modificar a frequência. Naturalmente, a verificação hormonal é sempre aconselhada nestes episódios, para garantir que este não seja o primeiro sinal de menopausa precoce, que, apesar de tudo, afeta apenas 1% das mulheres com menos de 40 anos.»
8. Continuo com dores na barriga, que pioram no período menstrual. O que está a acontecer comigo?
«Embora as dores menstruais sejam comuns, a dor pélvica na segunda metade do ciclo menstrual e os períodos dolorosos podem sugerir endometriose. Esta é uma condição médica em que o revestimento do útero é encontrado noutro local – geralmente nos ovários e em redor do útero, bem como no seu interior. Não conhecemos a causa exata, mas sabemos que é dependente de hormonas e tem antecedentes genéticos. A endometriose pode causar dores regulares, que pioram pouco antes e durante o período menstrual.
«No entanto, a dor também pode ser causada por infecção ou pela síndrome do intestino irritável (SII). Por isso, é importante consultar um médico para garantir o diagnóstico e o tratamento correto. Faça registos diários da sua dor quando está menstruada. Se as dores não estiverem relacionadas com os períodos, as causas podem incluir um quisto ovariano ou SII.»
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9. Tenho ovários policísticos, isso significa que não poderei ter filhos?
«É verdade que a síndrome dos ovários policísticos (SOP) pode afetar os períodos e, em alguns casos, a fertilidade, mas nem sempre. A SOP é comum, afetando entre 2 a 26 mulheres em cada 100, e está relacionada com o número de folículos cheios de líquido que temos nos ovários. É comum em pacientes de SOP a ausência de sintomas e por isso deve estar-se alerta a períodos irregulares ou inexistentes, acne ou aumento de pêlos faciais ou corporais.
«Estar acima do peso ideal também pode estar associado à SOP, embora o diagnóstico dependa da regularidade menstrual, de exames ao sangue e a uma ecografia. A longo prazo, a SOP pode estar relacionada com outras condições médicas, como diabetes, pressão arterial alta e alterações no revestimento do útero. Por isso é importante procurar a orientação do seu ginecologista.»
10. Devo depilar-me antes de consultar um ginecologista?
«Não há necessidade de depilar os pêlos púbicos antes de uma visita ginecológica, pois pode ser consultada com ou sem pêlos. O único momento em que podemos considerar a remoção dos pêlos púbicos é se estivermos a realizar uma cirurgia na pele em redor da vagina. E, mesmo assim, apenas os removeremos na zona de intervenção, conforme necessário.»
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