Hernâni Carvalho: «Todos somos capazes de matar»
Hernâni Carvalho lançou esta segunda-feira o seu mais recente livro, «Matadores», onde retrata dez histórias de dez portugueses que mataram mais de três pessoas de uma vez.
Dez histórias de dez portugueses que mataram mais de três pessoas de uma só vez, em território nacional. Este é o tema do novo livro de Hernâni Carvalho, intitulado de «Matadores», lançado esta segunda-feira, 15 de abril. O jornalista pretende mostrar a lei portuguesa e as suas lacunas, que tipo de tratamento é dado às vitimas, o que é um crime e como é a segurança interna.
Com base na premissa de como matam os portugueses no século XXI, Hernâni Carvalho tenta mostrar a sociedade em que vivemos, como se desenvolve uma investigação criminal, e qual o papel das autoridades. «Numa conversa simples e acessível», refere ao Portal de Notícias.
A seleção dos casos teve por base a «diferença». O facto de os «matadores» serem «pessoas de estratos sociais diferentes e de os crimes se terem concretizado por motivos diferentes». «Diariamente, lido com muita criminalidade contada e refletida, como lidam as vítimas e com os perfis dos agressores. Assim, pretendi saber se há ou não influência genética na criminalidade, há ou não psicopatia e se há ou não agressores específicos para determinadas vítimas.»
Hernâni Carvalho tece ainda duras críticas ao Relatório Anual de Segurança Interna, que segundo o mesmo, «não nos permite conhecer a segurança de um país com rigor», uma vez que existe um «branqueamento de resultados, ausência de perspectiva de gestão, ausência de estratégia política e uma tentação para o populismo».
«O facto de a pena ser a mesma incentiva as pessoas à criminalidade»
Dois dos 10 casos que o livro retrata são o de Manuel Baltazar, mais conhecido por «palito», e o de Pedro Dias.
«Palito» foi acusado de quatro crimes de homicídio qualificado, um crime de detenção de arma proibida e outro de violação de proibições ou interdições, depois de ter disparado contra a filha, a ex-mulher e duas familiares, em Viseu. Foi condenado a uma pena de mais de 63 anos prisão, mas o ordenamento jurídico português determina que ninguém cumpra mais de 25 anos de pena. Manuel Baltazar esteve 34 dias desaparecido e foi capturado pela Polícia Judiciária, no momento em que se preparava para para entrar na própria casa.
Pedro Dias foi acusado de disparar contra dois militares da GNR e dois civis, em 2016. Apenas uma das vítimas sobreviveu. Pedro Dias foi condenado a mais de 70 anos de prisão, que, na prática serão 25 anos.
«Não pode haver o mesmo tratamento das vítimas. Uma pessoa que mate três não pode ser condenada da mesma forma que uma pessoa que mate uma», refere Hernâni Carvalho. «Isto de a pena ser a mesma, até incentiva as pessoas à criminalidade.»
«Todos somos capazes de matar»
O jornalista diz que «todos somos capazes de matar». Hernâni Carvalho recua aos tempos passados em que esta capacidade «nos fez sobreviver e chegar até aos dias de hoje». Mas, «mesmo hoje essa capacidade mantém-se e não poucas vezes a vemos vir à tona em alguns de nós». «No momento exacto, estas condições que temos vindo a herdar dos nossos mais remotos antepassados ativam-se.»
«Em situações extremas todos somos mesmo capazes de matar», conclui.
Texto: Jéssica dos Santos
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