Humidade apresenta riscos para a saúde. Saiba quais e como se pode proteger

A humidade e os bolores consequentes têm feito a vida negra aos portugueses neste inverno.

Humidade apresenta riscos para a saúde. Saiba quais e como se pode proteger

A humidade e os bolores consequentes têm feito a vida negra aos portugueses neste inverno. Procurámos perceber de que forma é que surge a humidade e como é que pode afetar a nossa saúde. Assim, conversámos com David Barros Coelho, Pneumologista no Centro Hospitalar Universitário de São João e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que nos deu ainda algumas dicas para a nossa proteção.

De que forma é que se cria humidade em casa?

A humidade no ambiente domiciliário é um problema comum, principalmente nos meses mais frios e chuvosos de inverno. Portugal é o 2º país da União Europeia no qual os habitantes mais reportam presença de infiltrações e humidade.

Nos locais com mais humidade relativa (valores acima dos 50-60%), pode existir crescimento de micro-organismos, nomeadamente fungos, amplamente conhecidos como bolores. Estas áreas da habitação podem estar sujeitas a altos níveis de humidade devido a ruturas e infiltrações no telhado, em janelas, na canalização ou em locais onde tenha existido uma inundação. Existem também características e materiais da casa que podem predispor ao crescimento de bolores, como é o caso de certas madeiras, materiais derivados da celulose como papéis de parede, carpetes, vasos, entre outros.

Os problemas de saúde relacionados com as más condições da habitação (como acontece na presença de humidade) fizeram com que a Organização Mundial de Saúde criasse um novo termo denominado “Síndrome do Edifício Doente”.

Que perigos reais é que a humidade/ bolor traz à nossa saúde? É só a nível respiratório que afeta?

Níveis de humidade acima dos 60% propiciam o crescimento e proliferação de fungos/bolores, sendo que estes podem ser prejudiciais à saúde em vários órgãos e com diferentes graus de gravidade. A humidade nas paredes, por exemplo, é um local ideal para crescimentos de bolor/fungos ou até mesmo de bactérias.

Os fungos, à semelhança de outros microrganismos como as bactérias, são capazes de causar doença a pessoas expostas aos mesmos.

Por um lado, existem pessoas que estão sensibilizadas à presença de fungos, o que pode causar ou agravar a asma em crianças e adultos. Outras doenças mais raras, como a pneumonite de hipersensibilidade, ocorrem por mecanismos similares, podendo originar casos de insuficiência respiratória terminal.

Por outro lado, podem existir infeções causadas por fungos que podem afetar não só a saúde respiratória, mas também a pele, unhas, cérebro ou outros órgãos.

Quem está em maior risco de problemas de saúde associados à exposição ao bolor?

odas as pessoas podem desenvolver sintomas como tosse ou irritação das vias aéreas quando expostas a fungos. No entanto, doentes com patologias respiratórias crónicas como Asma, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) ou Fibrose Quística estão em risco de agravamento da sua patologia com esta exposição. Existe ainda um grupo de pessoas que, por razões ainda pouco conhecidas, sofrem uma sensibilização e reações alérgicas com a exposição aos bolores.

Por outro lado, doentes com problemas no sistema imunitário, seja por doenças como a infeção por VIH, doenças oncológicas, doenças hematológicas ou por estarem tratados com fármacos imunossupressores, também são mais suscetíveis a desenvolver sintomas e complicações graves.

Para quem já sofre de problemas respiratórios, de que forma se pode proteger?

O foco nesta situação está inevitavelmente na prevenção da exposição, já que há evidência que intervenções precoces, na diminuição da exposição a humidade e bolores têm efeitos protetores, incluindo em crianças suscetíveis a asma.

É assim essencial tomar medidas na eliminação da humidade e bolores – corrigir problemas estruturais dos edifícios que causem infiltrações, tentar manter níveis baixos de humidade relativa dentro de casa, ventilar eficazmente as áreas mais suscetíveis à presença de humidade como a casa-de-banho e cozinha.

Com importância semelhante, é essencial o planeamento da construção dos edifícios de forma a evitar o surgimento de infiltrações.

Dicas e conselhos para acabar com a humidade

– Manter níveis de humidade entre os 30-50% durante todo o dia, se necessário com utilização de ar condicionado ou desumidificadores;

– Evitar utilizar carpetes ou alcatifa em locais mais húmidos, particularmente na casa-de-bano, cozinhas, caves;

– Utilizar o exaustor sempre que cozinhar;

– Evitar secar a roupa dentro de casa;

– Abrir as janelas e ventilar a casa diariamente;

– Limpar e secar exaustivamente materiais húmidos ou inundados. Algumas partículas dos bolores mortos podem ainda causar reações alérgicas, sendo essencial uma limpeza apropriada. Os bolores podem ser removidos utilizando água e detergente ou soluções com lixívia.

– Sempre que encontrar problemas relacionados com bolores ou infiltrações e se tiver problemas de saúde respiratória ou que afetem o sistema imunitário, exponha as suas questões aos profissionais de saúde e autoridades de saúde pública regionais, de forma a obter uma resolução especializada.

Texto: Constança Castanheira; Fotos: D.R.
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