Os perigos escondidos da moda dos transplantes capilares
À medida que os transplantes capilares se tornam num grande negócio, conheça os perigos escondidos desta intervenção cada cada vez mais na moda.
O transplante capilar está na moda e é a opção de muitos que, por certo, não vão naquela do “é dos carecas que elas gostam mais”. Adam Taylor, professor e Diretor do Centro de Aprendizagem de Anatomia Clínica da Universidade de Lancaster, descobre a ‘careca’ a este negócio lucrativo, mas que pode tornar-se num problema ‘cabeludo’ para o paciente.
“A perda de cabelo afetará todos em algum momento da vida. Mas, apesar desta inevitabilidade, tratar a calvície é um grande negócio”, diz Taylor. “Na Europa, por exemplo, houve um aumento de 240% no interesse em cirurgias de transplante capilar entre 2010 e 2021. A Turquia tornou-se aliás um destino tão popular para cirurgias de transplante capilar que alguns funcionários da companhia aérea Turkey Airlines passaram a chamar-lhe ‘Turkey Hairlines’ [Hair, em Inglês, significa cabelo].
A perda de cabelo “é um processo normal”. “Os humanos perdem normalmente 50 a 100 fios de cabelo por dia – que são repostos – mas, assim como noutros processos corporais, à medida que envelhecemos, o crescimento do cabelo desacelera.” As glândulas sebáceas que produzem o óleo que deixa o nosso cabelo brilhante “reduzem a atividade, o que faz o cabelo pareça mais opaco”.
Alguns folículos capilares “reduzem a sua produtividade, tornando os cabelos mais finos, podendo alguns parar completamente, o que resulta em menos cabelos”, explica Adam Taylor.
No entanto, “o afinamento capilar e a calvície ainda são estigmatizados e um número cada vez maior de pessoas está a optar por tratamentos de restauração” de cabelo.
Um transplante capilar “é classificado como um procedimento cosmético e não é coberto pelo Serviço Nacional de Saúde no Reino Unido“, tal como não o é em Portugal. O custo pode ser proibitivo para algumas pessoas e isso leva-as a viajar para outros países onde o procedimento pode ser muito mais barato.
Embora haja muitos relatos positivos de pessoas que fizeram transplantes capilares no estrangeiro, há casos em que a cirurgia “foi realizada por uma pessoa não qualificada“. Os transplantes capilares “devem sempre ser realizados por um cirurgião qualificado – e nem todos são elegíveis ou adequados para o transplante”, alerta Taylor.
Os candidatos mais adequados “são os que sofrem de alopecia androgénica – originalmente denominada ‘calvície de padrão masculino’, mas que afeta ambos os sexos”. “Cerca de 10% das mulheres com menos de 40 anos têm alguma evidência de perda de cabelo, aumentando para mais de 50% aos 70 anos“. Em contraste, “30 a 50% dos homens aos 50 anos têm perda de cabelo associada à alopecia androgénica”.
Os homens desenvolvem geralmente uma linha capilar recuada num ‘formato de m’, conhecido como padrão Norwood, enquanto as mulheres tendem a desenvolver uma divisão mais larga e afinamento do cabelo na coroa e na parte frontal do couro cabeludo, condição conhecida como padrão Ludwig.
Opções de tratamento
O tratamento inicial para perda de cabelo “é por norma medicinal”. A “finasterida, medicamento que trata o aumento benigno da próstata e a perda de cabelo em homens, leva três a seis meses a mostrar qualquer resultado. No entanto, quaisquer benefícios são perdidos ao fim de “seis a 12 meses após a interrupção do tratamento”. O “minoxidil, outro medicamento para tratar alopecia androgénica, demonstrou ter benefícios para a perda de cabelo, mas a terapia com luz laser, administrada com uma touca especial, demonstrou resultados mistos“.
Se os tratamentos iniciais não forem bem-sucedidos, “os pacientes podem optar por transplantes capilares”. “Existem duas técnicas mais comumente usadas: transplante de unidade folicular (FUT) – também conhecido como cirurgia de tira de unidade folicular (FUSS) – e excisão de unidade folicular (FUE)”, situa Adan Taylor.
Ambos os procedimentos “exigem a disponibilidade de cabelos viáveis, geralmente de outras áreas do couro cabeludo – e normalmente os cabelos que vão das têmporas de cada lado e ao redor da parte de trás da cabeça”.
Usando a técnica FUT, “o cirurgião remove uma tira de pele de 1-1,5 cm de largura da parte de trás do couro cabeludo”. Os cabelos e as suas estruturas de suporte “são colhidos dessa tira e inseridos na área calva”. A ferida onde a pele foi removida “é novamente costurada”. “Normalmente, o cirurgião tem cuidado para evitar cicatrizes percetíveis“.
A FUE, no entanto, é o procedimento “mais comum, graças ao seu menor tempo de cicatrização, menor risco de cicatrizes e maior número de enxertos capilares coletáveis”. “Às vezes, este procedimento é comercializado como ‘sem lâmina’ e ‘sem cicatrizes’ – o que não é o caso. Os folículos são colhidos e implantados usando lâminas afiadas e há relatos de cicatrizes, incluindo cicatrizes hiper ou hipopigmentadas, bem como elevadas ou queloides.”
De arrepiar os cabelos
O sucesso a longo prazo do transplante capilar “é variável”. Vários estudos relatam que “90% dos recetores têm boa cobertura um ano após a cirurgia – mas isso cai para 9% após quatro anos“. Muitos fatores podem afetar os resultados dos transplantes capilares, incluindo “idade, tabagismo, danos causados pelo sol no couro cabeludo e diabetes“. Seguir as orientações de recuperação “é essencial e, embora algumas clínicas anunciem transplantes capilares ‘indolores’, a recuperação costuma ser inconveniente e desconfortável“.
Durante o procedimento, podem ser usados anestésicos, o que pode deixar o couro cabeludo “inchado e sensível depois, combinado com um tempo significativo de inatividade”. Os pacientes são aconselhados “a tirar quinze dias de folga do trabalho e evitar atividades físicas extenuantes, enquanto os enxertos estiverem frágeis e inseguros”. “Pode levar de dez a 18 meses para ver os resultados completos do transplante.”
Transplantes capilares podem ser uma opção popular para os preocupados com a perda de cabelo, mas “é uma grande decisão e não deve ser tomada levianamente”. “Se está a pensar em passar pelo procedimento, faça a sua pesquisa para garantir que será tratado por um cirurgião totalmente qualificado – e esteja preparado para seguir as diretrizes de recuperação à risca para garantir os melhores resultados”, aconselha Adam Taylor, professor e Diretor do Centro de Aprendizagem de Anatomia Clínica da Universidade de Lancaster.
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