Covid-19: Mundo deve preparar-se para novas variantes perigosas

O fim da pandemia pode estar para breve, mas a covid-19 “pode ser um prenúncio de calamidades futuras”, pelo que o mundo deve preparar-se para o possível surgimento de novas variantes perigosas, alertou hoje José Manuel Durão Barroso.

Covid-19: Mundo deve preparar-se para novas variantes perigosas

O fim da pandemia pode estar para breve, mas a covid-19 “pode ser um prenúncio de calamidades futuras”, pelo que o mundo deve preparar-se para o possível surgimento de novas variantes perigosas, alertou hoje José Manuel Durão Barroso. Num artigo de opinião publicado hoje na newsletter Project Syndicate — The World’s Opinion Page, com sede em Genebra, o presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI) advertiu que se os “líderes globais” não criarem mecanismos equitativos para responder antes da próxima grande crise, “os países de baixo rendimento e os grupos de alto risco pagarão novamente o preço mais alto”.

“Após dois anos e meio de bloqueios, quarentenas e máscaras, milhões e milhões de pessoas em todo o mundo voltaram às suas vidas normais. Mas, de muitas maneiras, esse novo senso de normalidade pós-pandemia é enganoso. Vencer a covid-19 não marcará o fim da nossa atual era de instabilidade global, mas sim o fim do começo”, avisou o antigo presidente da Comissão Europeia (CE, 2004/14).

Salientando que a “batalha” contra a covid-19 está “ainda longe de terminar”, Durão Barroso realçou que só em 2022 foram infetadas mais pessoas do que no conjunto dos dois anos anteriores, apesar de se registar uma redução significativa na taxa de mortalidade — a epidemia provocou em 2022 mais de um milhão de mortes.

“À medida que os governos começam a lançar as novas doses de reforço, o mundo deve preparar-se para uma grande crise e para o possível surgimento de novas variantes perigosas”, alertou o também antigo primeiro-ministro português (2002/04) e atual presidente não executivo do banco Goldman Sachs International.

Durão Barroso, sempre em tom de advertência, sustentou que, mesmo que a covid-19 desapareça em breve, o objetivo não pode passar por regressar ao ‘status quo’ pré-pandémico “No mundo pré-pandemia, governos e comunidades estavam lamentavelmente mal preparados — não apenas para um patógeno mortal, mas também para uma confluência explosiva de crises políticas e económicas. Se continuarmos a ver o fim desta pandemia como o nosso único objetivo, o novo normal será tão frágil quanto o antigo”, alertou.

Nesse sentido, os líderes globais devem reconhecer que, “longe de ser uma exceção, a pandemia pode ser um prenúncio”.

Mesmo que a covid-19 continue a espalhar-se, a probabilidade de outra pandemia aumenta 2% a cada ano e a ameaça de novas endemias “é apenas uma das várias catástrofes iminentes”, que incluem “mudanças climáticas, guerra e insegurança alimentar”, conspirando para que a estabilidade social e económica se “mantenha como uma coisa do passado”. “Simplificando, o mundo não está preparado. […] Tal como demonstraram a covid-19 e as alterações climáticas, os mais vulneráveis são os primeiros a serem afetados”, sustentou.

“Apesar dos imensos desafios, a criação do Acesso Global à Vacina covid-19 (COVAX) tem sido notavelmente bem-sucedida. Até agora, a COVAX entregou mais de 1.750 milhões de doses de vacina em 146 países. Destes, 1.500 milhões foram para 92 países de baixo rendimento, permitindo atingir uma taxa de 20%, o suficiente para proteger os grupos de maior risco”, defendeu.

Durão Barroso alertou para o facto de, na próxima vez que o mundo enfrente uma nova crise global, os líderes terem de agir “de forma mais rápida e decisiva”.  “Mas desenvolver uma resposta global adequada também requer uma mudança de mentalidade. Mesmo agora, enquanto os líderes do G20 tentam descobrir como se preparar o mundo para futuras pandemias, não há propostas pormenorizadas sobre como poderão as economias mais pobres do mundo obter vacinas”, alertou.

Para Durão Barroso, a disposição para assumir riscos é “fundamental” e, com a COVAX, as autoridades garantiram milhões e milhões de doses de vacinas sem saber se seriam eficazes ou quantas doses seriam necessárias. “Embora o modelo COVAX não seja a única solução para calamidades futuras, oferece lições úteis que podem ser aplicadas a crises além da saúde pública. Quaisquer que sejam as políticas que implementamos para nos preparar para futuras crises globais, devemos fazê-lo rapidamente. Gostemos ou não, o próximo desastre é apenas uma questão de tempo. Preparar-se para isso deve ser o nosso novo normal”, concluiu.

 

 

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