Estudo revela que Portugal perdeu número recorde de médicos dentistas
O número de dentistas com inscrição suspensa há mais de cinco anos, período após o qual se considera que não voltarão a exercer em Portugal, aumentou 7,6% em 2023, atingindo o valor mais elevado de sempre, revela um estudo.
Segundo o estudo ‘Números da Ordem 2024’, hoje divulgado pela Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), em 31 de dezembro de 2023, havia 1.339 profissionais com as inscrições suspensas há mais de cinco anos, a maioria portugueses (74,1%). De entre os 347 estrangeiros, 175 são do Brasil.
O bastonário da OMD, Miguel Pavão, lamentou que Portugal tenha formado e perdido estes 1.339 médicos, alertando que a situação vai continuar a agravar-se.
“A situação continua a agravar-se porque continuamos de certa forma a despejar no mercado de trabalho, que já está saturado, jovens médicos dentistas que acabam por ter as perspetivas profissionais muito reduzidas e de ser difícil manterem uma situação profissional estável e realizar as suas vidas do ponto de vista familiar”, do seu bem-estar e da sua sustentabilidade económica, disse Miguel Pavão.
No entanto, os jovens dentistas deixam o país “com tristeza”: “Este abandono do país acontece, normalmente, só ao final do primeiro ano, onde tentam procurar oportunidades profissionais no mercado de trabalho”, mas acabam por ter de as procurar no estrangeiro.
No final de 2023 existiam 2.312 profissionais com inscrição suspensa, mais 235 inscrições do que em 2022. “É o segundo maior aumento de sempre. Só em 2022 é que tínhamos assistido a um aumento tão grande [258]”, notou Miguel Pavão. Pelo segundo ano consecutivo, a taxa de crescimento é de dois dígitos (11,3%), um facto que não ocorria desde 2019 quando o crescimento foi de 12,2%.
Mais de metade (54,4%) das 2.312 inscrições suspensas tiveram como objetivo trabalhar no estrangeiro. Destes 1.257 (26,8%) escolheram exercer em França, 18,1% no Reino Unido e 13,4% em Espanha, que supera a Itália como o terceiro destino face aos ‘Números da Ordem 2023’. O estudo confirma o aumento (2,2%) de médicos dentistas com inscrição ativa, totalizando 12.988, o que se traduz no aumento do rácio de profissionais.
No final de 2023, o valor voltou a agravar-se: passou de um médico dentista por 814 pessoas residentes em 2022, para um dentista para 796 pessoas no ano passado. “Este resultado afasta Portugal da recomendação da Organização Mundial da Saúde que define um rácio de 1MD/1500-2000 habitantes”, salienta a OMD.
A Área Metropolitana do Porto (1MD/564) e Viseu Dão Lafões (1MD/640) têm excesso de médicos dentistas, enquanto as regiões do Baixo Alentejo (1MD/2051) e Alentejo Litoral (1MD/2052) têm falta destes profissionais.
Analisando estes dados, Miguel Pavão disse ser “indiscutível que Portugal tem uma disfuncionalidade do ponto de vista territorial, uma disfuncionalidade demográfica e também de oportunidades”, sendo a medicina dentária “um exemplo muito clarividente” desta desigualdade.
“Nas 25 regiões do país há 19 com uma baixa densidade de médicos dentistas. Isto demonstra que há oportunidades pelo país fora, mas naquilo que é a escolha de um jovem entre exercer no interior do país ou emigrar, a opção tem sido emigrar”, afirmou.
Para o bastonário, deveria existir “mais atratividade, e talvez um programa mais consolidado, para atrair diferentes profissões na área da saúde” para as zonas mais desertificadas do país que ajudasse a sedimentar e a fixar não só os profissionais, mas também as famílias. Segundo o estudo, apenas as regiões do Oeste, Lezíria do Alentejo, Alto Alentejo e Alentejo Central estão dentro dos parâmetros da OMS.
Miguel Pavão manifestou ainda preocupação com o elevado número de alunos nas instituições de ensino superior, notando que Portugal é o segundo país que mais dentistas forma na União Europeia, conforme confirmou o Eurostat. “É urgente parar e pensar numa estratégia nacional que inverta estes números”, defendeu.
Em Portugal existem sete instituições de ensino superior a lecionarem o curso de mestrado integrado em medicina dentária, que foram convidadas a colaborar no estudo, sendo que o Instituto Universitário de Ciências da Saúde e o Instituto Universitário Egas Moniz não apresentaram qualquer valor. “É um retrato incompleto. Lamentamos porque as universidades são um elemento fundamental na estratégia que urge definir para a medicina dentária em Portugal”, disse Miguel Pavão.
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