Jean-Paul Gaultier prepara filme de animação depois de espetáculo que chega a Portugal
O criador de moda francês Jean-Paul Gaultier está a preparar um filme de animação, contou hoje em Lisboa, onde está a promover o espetáculo “Fashion Freak Show”, focado na sua vida e carreira.
Em janeiro de 2020, Jean-Paul Gaultier mostrou, em Paris, a última coleção que criou para ser apresentada em desfile. Desde a ‘reforma’, tem andado a promover a sua primeira criação para palco, que é apresentada este mês em Lisboa e no Porto.
Estreado em dezembro de 2018 em Paris, o espetáculo iniciou no verão de 2021 uma digressão mundial, que já passou pelo Reino Unido, Alemanha e Japão, e tem datas agendadas em Espanha, Itália e Austrália.
Embora esteja focado em “Fashion Freak Show”, o criador de moda está já “a trabalhar num filme de animação”, mas escusou-se a revelar quaisquer detalhes sobre o mesmo. “Tem de ser uma surpresa”, disse, após uma conferência de imprensa de apresentação do espetáculo, em Lisboa.
Criar o espetáculo que o traz agora a Portugal foi para Jean-Paul Gaultier “quase a mesma coisa” que preparar um desfile, porque o fez como fazia a cada apresentação pública de uma coleção.
“Preocupava-me muito sempre com a música, a luz, como apresentar, como terminar. Quando fazes um desfile, também tratas da cenografia. É como uma peça de teatro”, recordou, salientando que para ele, em tempos apelidado de rebelde da moda francesa, moda “também é espetáculo”.
Embora seja conhecido por criar verdadeiros espetáculos a cada apresentação de uma coleção, em “Fashion Freak Show”, o criador de moda sentiu-se ainda “mais livre”.
“Posso fazer mais extravagâncias. Não só nas roupas, mas também na forma de expressar, a música, e fazer coreografia, que não sei fazer e por isso falei com a [coreógrafa] Marion Motin. Precisava de coreografia a sério, que não sou capaz de fazer”, contou. A banda sonora ficou a cargo de Nile Rodgers, uma escolha “óbvia”, visto que a sua música “marcou momentos da vida” de Gaultier.
O espetáculo, que o produtor Gary McQueen considera um desafio descrever, porque “não é cabaret, musical ou teatro, mas é tudo isso”, conta a vida e a carreira de Jean-Paul Gaultier, criador de moda desde 1976, que começou como aprendiz de Pierre Cardin e acabou por se tornar um dos nomes mais importantes da moda a nível mundial.
Jean-Paul Gaultier acredita que quem vê “Fashion Freak Show” fica a conhecer tanto o homem como o profissional de moda, através da representação de vários momentos da sua vida e carreira, os melhores, mas também os piores.
Para o criador de moda, o pior momento presente no espetáculo foi a morte do namorado de então, Francis Menuge, em 1990. “Foi com ele que comecei a coleção Jean-Paul Gaultier. Ele deu-me a energia para criar a minha coleção. Se ele não tivesse estado lá, provavelmente teria estado a trabalhar apenas para uma grande casa [de moda]. Com ele fiz algo, construímos algo”, partilhou.
A morte de Francis Menuge “representa também o momento de chegada da SIDA”. “Ele morreu de SIDA. É tudo simbólico, dramático. Mas ainda que tenha sido um sofrimento, não me arrependo de nada”, contou.
Quando se pede a Jean-Paul Gaultier que escolha um melhor momento de vida e carreira, que esteja representado em “Fashion Freak Show”, aponta dois: “O início, quando fiz o meu primeiro desfile, porque começou ali a minha carreira, e o final, que é explosão de alegria”. O final de Jean-Paul Gaultier na moda não representou o final da marca, vendida em 2015 ao grupo catalão Puig, nem da apresentação de coleções.
O criador dos corpetes pontiagudos de Madonna deixou o pronto-a-vestir em 2015, passando desde então a dedicar-se exclusivamente à alta-costura, e desde que se retirou das ‘passerelles’, passou a convidar outros ‘designers’ de moda para criarem por si.
“É uma ideia que já tinha há muito tempo, e quando decidi reformar-me de fazer moda em cada estação, pensei que poderia fazer isso com o meu nome. Por que não fazer Jean-Paul Gaultier por a, b ou c?”, disse.
Gaultier recordou que quando começou a trabalhar em moda admirava Yves Saint Laurent e “adorava ter feito uma coleção para ele”, além disso, adorava Pierre Cardin e trabalhou para ele.
“Foi bom trabalhar para alguém que tem um estilo. Se calhar é pretensioso achar que tenho um estilo, mas acho que tenho. Achei que seria bom, a cada estação haver uma interpretação diferente do meu estilo. E acho que até agora tem sido ótimo. Trazem algo que era muito Gaultier, mas feito da maneira deles. Adoro essa ideia e ainda estou muito orgulhoso dela”, disse.
“Fashion Freak Show” é apresentado em Lisboa, no Campo Pequeno, entre quarta-feira e domingo, e no Porto, no Pavilhão Rosa Mota, entre os dias 16 e 19 deste mês.
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