Luís Carvalho leva cerejas à ‘passerelle’ da ModaLisboa em dia de tempestade
As cerejas foram a inspiração do criador Luís Carvalho para a coleção da estação quente apresentada sábado na ModaLisboa, em dia de tempestade, que o portuense Ricardo Andrez lembrou antes com um desfile de “cenário apocalíptico”.
Com o passar das horas, foram sendo cada vez menos os espetadores e mais os lugares vazios no segundo dia da ModaLisboa, devido às previsões meteorológicas de chuva e ventos fortes provocados pelo furacão Leslie.
Mas vários resistentes ficaram até perto da meia-noite no pavilhão Carlos Lopes para conhecer a coleção “Cherry”, de Luís Carvalho, na qual o criador optou por “desenvolver estampados”, voltando a apostar em algo que “já não introduzia há algum tempo” – os padrões fortes.
“A partir daí, fui desenvolvendo todo o conceito: a forma da cereja deu-me ideia de construir alguns moldes e algumas formas que foram evidentes nalgumas peças e a flor de cerejeira levou-me para o lado oriental, daí os quimonos e aquelas laçadas”, observou Luís Carvalho.
Embalado por uma versão da canção “Can’t help falling in love”, o desfile foi progredindo em termos de cores, passando pelo branco, verde seco, azul e preto até culminar no padrão de cereja, ao mesmo tempo que as silhuetas foram variando entre a fluida e a estruturada em coordenados femininos e masculinos de cetim e algodão.
Mais alinhada com o temporal no exterior do pavilhão esteve a apresentação da coleção do ‘designer’ portuense Ricardo Andrez, que remeteu para um “cenário apocalíptico”.
“O início desta coleção foi a ideia que os humanos tiveram do ‘bug’ do milénio [problema previsto ocorrer nos sistemas informáticos na passagem de 1999 para 2000] e esse cenário quase de fim do mundo foi uma paródia para nós porque nada se passou”, disse Ricardo Andrez à Lusa.
A inspiração levou, assim, a uma aposta em “algo extremamente forte em termos gráficos”, com estampados geométricos, cores fortes e “um misto de silhuetas”, adiantou.
Para o jovem criador Patrick de Pádua, o “ponto de partida” para a próxima primavera/verão “foi a mulher”, que deu nome à coleção apresentada esta noite, na qual sobressaíram cores quentes como o amarelo, vermelho e laranja e materiais como os plissados, a ganga e a renda.
Os tons coloridos refletiram, assim, a vontade de Patrick de Pádua em “sair do registo a que estava habituado, sempre nos pretos e nos beges”, segundo disse à Lusa.
Também de cor foram feitas as coleções da marca brasileira Cia Marítima e do ‘designer’ sérvio Aleksandar Protic: enquanto a primeira percorreu cidades de todo o mundo com um “Passaporte Carimbado” de padrões, o segundo apresentou tons fluorescentes alusivos à liberdade e ao futuro.
Ao final da tarde, o desfile de Alexandra Moura, em parceria com o evento Portugal Fashion, arrancou quando o tempo lá fora começou a piorar, mas isso não impediu a criadora de lembrar as férias em casa da avó durante a infância através de coordenados florais, gráficos e de bordados.
A religião foi também evocada no desfile de Alexandra Moura, que terminou com um cântico religioso que remetia para o dia comemorativo das aparições de Nossa Senhora de Fátima, que se assinalou no sábado.
Ainda o furacão Leslie não tinha chegado à costa portuguesa quando o coletivo Awaytomars apresentou a coleção “Drawn by light” [atraído pela luz, em português] ao ar livre, no lago do Botequim do Rei, no alto do Parque Eduardo VII.
Desta vez, a coleção foi criada com a participação de 809 pessoas, isto porque a Awaytomars é uma plataforma de cocriação aberta ao público. Ou seja, qualquer pessoa pode fazer parte do processo criativo.
Nesta coleção, na qual sobressaíram peças em amarelo, laranja, verde e azul, voltaram a destacar-se os padrões, criados com recurso a métodos sustentáveis de impressão digital.
O primeiro desfile de hoje no Pavilhão Carlos Lopes foi de uma estreante na ‘passerelle’ da ModaLisboa: Constança Entrudo, de 24 anos.
Para a primavera do próximo ano, esta jovem ‘designer’ criou uma coleção que “não tem género, é para homens e mulheres” e na qual “todas as peças estão ligadas de alguma forma, através de botões (uma colaboração com a joalheira Colomb D’Humieres) feitos de materiais diversos, encontrados em lugares diferentes”.
A 51.ª edição da ModaLisboa termina no domingo.
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