Web Summit: Será que valeu a pena?
Do previsto impacto na economia portuguesa ao efetivo capital conseguido pelas startups, o site da Impala foi descobrir se a Web Summit é o «pote de ouro» que se tem pintado.
De 5 a 8 de novembro, a capital portuguesa foi o centro de empreendedorismo do mundo. Em Portugal, não houve quem não falasse da Web Summit e, lá fora, não houve quem não falasse em Lisboa.
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Nos dias antes e nos que se seguiram à terceira edição do «maior e melhor evento de tecnologia, inovação e empreendedorismo do mundo», parecia que o mundo tinha engolido um livro de frases feitas: «uma oportunidade única», «com um impacto de milhões» e «vale a pena o investimento».
Mas será que valeu mesmo? Tendo em conta que, em média, para se passar das portas da Altice Arena foi preciso pagar-se cerca de dois mil euros por cabeça, esta é a pergunta que todos nos fazemos inevitavelmente, ainda que em silêncio.
Apesar de ser impossível conseguir-se uma a resposta universal, considerando que as motivações dos participantes, dos oradores, dos investidores e dos empreendedores diferem, é, contudo, possível encontrar uma verdade para cada um destes grupos de intervenientes.
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No grupo dos que foram por mera curiosidade ou capricho é impossível não obter um «feedback» positivo, já que foram sem expectativas. O mesmo aplica-se aos oradores, dado que tiveram a oportunidade de se expor a uma audiência de 70 mil pessoas, com uma «incontabilizável» exposição mediática. Os investidores encontram-se sempre numa posição privilegiada, e como espécie mais rara de todo o evento, não houve nenhum que se desse ao trabalho de ir à Web Summit sem um objectivo em vista. Ou foram com vista a actualizarem-se sobre o que se está a passar no universo tecnológico [equivalente a ver montras] ou então foram à caça do seu próximo grande projecto.
Até agora, todos estes participantes têm pouco ou mesmo nada a perder em fazerem parte dos milhares que preencheram os metros quadrados da FIL. No entanto, sobre os efeitos na economia portuguesa e nas cerca de 1200 empresas que viveram quatro dias exclusivamente em nome da Web Summit, não se pode dizer o mesmo.
Web Summit: Muito mais que euros nos bolso de Portugal
Um mês antes desta última edição, o ministro da Economia, Caldeira Cabral, anunciou que para convencer Paddy Cosgrave a deixar a Web Summit ficar mais 10 anos nem Lisboa, o país comprometeu-se a pagar à organização «11 milhões por ano» (entre outras contrapartidas), o que representa no total 110 milhões de euros por «arrendar» a década.
Na altura, o primeiro-ministro António Costa fez questão de deixar claro que a Web Summit significa «muito mais do que os 30 milhões de euros angariados em receita fiscal direta», conseguida em 2017.
Mas para lá dos euros palpáveis, o Governo, especialistas e economistas, salientaram a importância da cimeira ao tornar Lisboa num centro económico pelo menos por 10 anos.
«Quando a Web Summit chegou a Portugal, ajudou a escalar o país e permitiu que Lisboa entrasse num universo de excelência para acolher grandes projetos internacionais que trazem empregos qualificados, bem pagos e que geram valor para o país», garantiu Miguel Fontes, CEO da startup Lisboa, ao Jornal Económico. «[Este evento] é importante pela visibilidade que dá ao país e à cidade de Lisboa», acrescentou.
«Ainda não sabemos. Estamos a fazer alguns contactos. Logo se vê»
Mas se os benefícios para Portugal são irrefutáveis, para as pequenas empresas que «investiram» muito na entrada e custos associados só para marcarem presença na Web Summit, a vitória garantida já não parece assim tão inquestionável.
Durante quatro dias, o site da Impala esteve em contacto com empreendedores do mundo inteiro e, apesar de a maioria ter ficado contente com os resultados obtidos no evento, houve quem se tenha sentido aquém das expectativas criadas.
Michael Bieglmayer, CEO da Cybershoes, – uma startup que criou «sapatos para se andar na realidade virtual» – explicou-nos que fez «muitos contactos com investidores e potenciais parceiros», mas que o futuro permanece incerto. «Ainda não sabemos. Estamos a fazer alguns contactos. Logo se vê», afirmou o empreendedor que veio de Viena para Lisboa.
Já Valerie Ronché, um empresário francês de 51 anos, que veio apresentar «um dispositivo que através de uma aplicação para o telemóvel permite analisar a atividade mental e potenciar a intuição de um utilizador», garante que o investimento lhes chegou, mas graças um trabalho árduo de toda a equipa da startup.
«É preciso trabalhar muito para o conseguir [investimento]. Muito antes da Web Summit descarregamos a aplicação e começamos logo a marcar encontros com investidores, pelo menos 15 dias antes. Sabíamos que quando começa a faltar pouco tempo para o evento, todas as pessoas vão estar extremamente ocupadas e que não vão ter tempo para olhar para a nossa startup. Há alguns que respondem e outros que não, mas se se trabalhar no duro, consegue-se», recordou.
Ronché revela-nos ainda que, como resultado do evento, conseguiram fechar uma parceria com a iphone para distribuir o seu produto em Portugal, já em dezembro.
Pela primeira vez em Portugal, Natalia Bout, CEO e fundadora da empresa iDialogue – uma plataforma que promove o intercâmbio de atividades educativas entre alunos de vários pontos do mundo diferentes» – resumiu a Web Summit numa «oportunidade de possibilidades infinitas. Contudo, defendeu que existe um factor «sorte» a ter em conta nesta feira. «É preciso estar no sítio certo à hora certa»
Por outro lado, há também quem tenha visto as suas expectativas superadas. O alemão Amir Baradaran, co-fundador do brinquedo educativo Foldio, que tem como objetivo «preparar as crianças para o mundo tecnológico com que se vão deparar à medida que crescem», mostrou-se «muito feliz» com os frutos recolhidos da Web Summit.
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«Já fomos a outros evento de tecnologia na Alemanha e não se compara. Incrível. Tivemos mais atenção do que esperávamos. Já nos encontrámos com imensas pessoas que estão interessadas em comprar ou em investir no nosso projecto. Recomendados sem dúvida. [A Web Summit] Vale o dinheiro que se paga».
Apesar de não haver nenhum aferidor sobre o número de contractos de financiamento, a feira de tecnologia mais falada do mundo está mais perto de ser uma aposta do que um investimento para as startups que participam. Mas, ainda assim, é uma aposta mais segura que qualquer outra para a maioria das empresas.
Muitos dos negócios com que falámos recordaram que o investimento não é um processo de um dia, «que não se sai com um cheque no bolso», contudo, é inquestionável que se sai com uma lista de contactos e uma esperança que não tem preço.
Texto: Mafalda Tello Silva - Redação WIN - Conteúdos digitais
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