«Pode acontecer uma onda muito pior», alerta presidente do Instituto Dr. Ricardo Jorge
“Não podemos facilitar porque isto tem ondas e pode acontecer uma onda muito pior, porque é aquilo que se diz: basta levantar um bocadinho o pé da mola, a mola volta a disparar”, diz Fernando Almeida.
O presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) considera que o combate à covid-19 trouxe várias lições, sobretudo o não se poder facilitar porque pode acontecer “uma onda muito pior”.
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«Não podemos facilitar porque isto tem ondas»
“Não podemos facilitar porque isto tem ondas e pode acontecer uma onda muito pior, porque é aquilo que se diz: basta levantar um bocadinho o pé da mola, a mola volta a disparar”, diz Fernando Almeida, lembrando que o novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, propaga-se com “muita facilidade” e ainda se sabe pouco sobre ele.
A pandemia de covid-19 levou a uma mudança de comportamentos da população que, diz Fernando Almeida, se vão manter. “Os nossos comportamentos daqui para o futuro jamais serão os mesmos, mas não é para agora, um ou dois anos ou três anos, jamais serão os mesmos”, vinca o presidente do INSA, o laboratório nacional de referência em questões de epidemiologia e saúde pública.
Para Fernando Almeida, “o primeiro ensinamento” retirado da pandemia é que “nunca aconteceu o que está a acontecer”.
“Todos nós pensamos que a SARS (doença respiratória aguda também provocada por um coronavírus que deu origem a uma epidemia em 2003) foi uma coisa que aconteceu há muito tempo, a gripe A aconteceu mas não teve nada deste efeito” causado pela covid-19, que além de ter um “impacto muito grande” é uma doença sobre a qual “ainda se sabe muito pouco”.
«Nunca mais isto vai ser igual»
Fernando Almeida observa que “os estudos que aparecem são muito contraditórios” em termos de tempo de incubação, de segurança e de imunidade. “Se dá muita imunidade, se a imunidade é duradoura, ainda se sabe muito pouco, porque a ciência ainda não é suficientemente robusta para tirarmos conclusões muito concretas”.
“Há uma lição que nós temos que aprender é que nunca mais isto vai ser igual, os nossos hábitos, as nossas opções estão mudadas totalmente e vão ser mudadas totalmente”, considera.
A Organização Mundial de Saúde sempre mencionou que ciclicamente vão aparecendo este tipo de doenças, a maior parte delas ligadas a alterações virais.
“Até diziam que ia haver uma doença, que não sabiam bem qual era, que era a doença X. Ora bem, aqui está ela. Quando todos nós esperávamos que era uma coisa que iria ficar confinada num país, ela está cá e com este impacto, que não é só um impacto na vida das pessoas, em todos os aspetos, mas também impacto da economia do país e de todos os países”.
Para Fernando Almeida, este é o segundo ensinamento: “não vale a pena dizermos que só acontece aos outros. Não, também nos acontece a nós e temos que estar sempre preparados para o pior, esperando que aconteça o melhor”.
O presidente do INSA destaca ainda a importância das medidas aplicadas no país para conter a disseminação do vírus. “Portugal teve a vantagem de perceber o que se estava a passar em outros países, como Itália, Espanha e França, e de se preparar com algum tempo”.
«As decisões que foram tomadas são, e foram, fundamentais»
“As decisões que foram tomadas são, e foram, fundamentais para que esta epidemia, sobretudo a pandemia em Portugal, não atingisse aquilo que era expectável por aquele crescimento exponencial dos quadros“, afirma.
“As estruturas estão a responder bem, os hospitais estão a responder bem, temos bons níveis de testes, tudo está a correr bem”, mas “não vamos facilitar”, esta é a terceira lição, nota Fernando Almeida.
O coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica, do INSA, Baltazar Nunes, também realça a importância das medidas de confinamento decretadas “numa fase inicial” da doença no país. “Foi necessário tomar estas medidas porque não sabíamos exatamente quais seriam as mais eficazes na contenção e não havia tempo”, adianta.
Fim do estado de emergência: «Façam-no de forma gradual»
Sobre o fim do estado de emergência em 02 de maio e a abertura gradual da atividade, o epidemiologista defende terá de ser “feita cirurgicamente, começando por determinados setores“.
“Façam-no de forma gradual, desenvolvam sistemas de vigilância que permitam perceber qual foi o impacto do levantamento de cada uma destas medidas, assegurando que as pessoas têm que ter comportamentos diferentes daqueles que tinham antes da epidemia”, apela Baltazar Nunes.
“Isso é essencial para conseguirmos que o tal crescimento que venha a ocorrer seja lento e gerível“, sustenta o investigador.
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