Covid-19 é nome de doença e de barbearia em Angola

Covid-19 foi provavelmente uma das palavras mais pesquisadas na Internet desde 2020, que mais se continua a ouvir e certamente a que todos querem esquecer. Mas em Angola, há também quem queira marcar esta época, batizando a sua barbearia, nascida em tempos de pandemia, com o nome da doença.

Covid-19 é nome de doença e de barbearia em Angola

A placa desta barbearia angolana que ostenta orgulhosamente o nome de Covid-19 não passa despercebida a quem atravessa Ndalantando, capital da fértil província do Kwanza Norte, sobretudo num dia de sol que torna ainda mais luminosos os contrastes do azul do céu, os tons castanhos das casas e o verde da paisagem. Mais discretas são as iniciais do seu proprietário – SBD – o simpático Silvestre Batista Domingos que explicou como a doença deu nome à sua loja, aberta a 29 de maio de 2020, dois meses depois pandemia ter sido declarada em Angola.

“Decidi chamá-la assim por que foi inaugurada no momento em que o país estava a registar os primeiros casos de covid-19”, contou o empreendedor, de 29 anos, acrescentando que o “pai” da ideia foi de um amigo. “Ele é praticamente um humorista e quando passou por aqui sugeriu-me esta ideia.  Ele disse-me que os nomes atraem as atenções das pessoas, razão pela qual a senhora está aqui a falar comigo”, sorri.

O jovem queixa-se do negocio estar fraco – a barbearia está vazia e ainda só tinha atendido um cliente –, mas lá vai dando para pagar as contas e ajudar os irmãos que estão a estudar na faculdade. “A covid-19 afetou muito a vida das pessoas, razão pela qual estamos aqui sem clientes porque devemos abster-nos da presença de muita gente, as pessoas têm de cumprir os decretos”, comenta, dizendo que esteve financeiramente dependente da família durante alguns meses, em 2020 , enquanto vigorou o estado de emergência e a barbearia esteve fechada.

Garante que na loja tenta sensibilizar os clientes para o uso da máscara e dispõe de desinfetantes para lavar as mãos, mas o barbeiro reconhece que “o uso da máscara depende da consciência de cada pessoa” e seja em Ndalantando ou na capital angolana, a grande maioria ignora esta obrigatoriedade, embora se apressem a colocar a proteção para falar com os jornalistas.

Nesta província angolana, como no mundo inteiro, todos ouviram falar da pandemia que a partir de 2020 se impôs, com restrições e novas regras, na vida quotidiana dos cidadãos, mas poucos valorizam a doença, acabando por recorrer às medidas de biossegurança, mais para assegurar o cumprimento da lei do que por receios do contágio. “Utilizamos mais a máscara quando estamos perante a policia”, reconhece Silvestre, embora diga também que “é algo psicológico”, pois “não usar a máscara pode contrariar o vírus ou afetar o próximo”. “Algumas pessoas têm medo, outras não”, diz, a propósito do vírus, garantindo que nunca esteve em contacto com ninguém com covid-19. Mas assume ter algumas cautelas: “Quanto mais nos precavermos, mais ela tem tendência para desaparece e se ignorarmos então ficará connosco como um paludismo”.

Sansão de Agosto, o cliente que hoje foi à Covid-19 ainda está por perto da barbearia, junto de um grupo de jovens negociantes que observam os forasteiros com curiosidade disse que a doença já “assustou muito o país” e lembra que é obrigatório usar a máscara. “É o nosso dever e tive de a usar para poder falar”, diz. No início da pandemia, com Angola a viver o estado de emergência, a polícia chegou a matar cidadãos que foram interpelados por causa da falta de uso de máscara, mas hoje o cumprimento das regras não parece tão exigente e poucos são os que caminham na rua com a proteção facial, apesar de continuar a ser obrigatória.

“Uns usam, outros não usam, usamos mais quando estamos dentro de uma instituição”, continua, lamentando o impacto da covid-19 na vida dos angolanos. “No caso de trabalho, das escolas que estiveram paradas, algumas instituições, as viagens, andar de um sítio para o outro”, aponta, indicando que também ficou “mais parado” por ter perdido o seu emprego numa padaria. “Frequentei mais a lavra, foi lavra-casa, lavra-casa”, conta.

Américo António dos Santos vende lubrificantes nas imediações da barbearia, acompanhado das filhas pequenitas. Diz preocupar-se com a covid-19 e lamenta os problemas que a doença tem causado, que vão muito para além da saúde. “Desde que temos conhecimento desta doença, temos de nos preparar”, sublinha o comerciante, apontando os problemas causados a nível do trabalho e das restrições à circulação das pessoas. “Vendo menos, por que nem toda a gente para aqui e outros de momento estão desempregados”, justifica.

Américo dos Santos  diz que as pessoas devem usar as máscaras por causa da doença, e não da polícia, mas admite que, no início, “multavam mesmo”, o que atualmente já não acontece. A covid-19 persiste – e lá está a barbearia para recordar – mas poucos deverão ser os que ainda se preocupam com ela e menos ainda os que reconhecem a necessidade de usar mascara, sinal de que o negócio da biossegurança ali em Ndalantando, será certamente, por esta altura, menos próspero do que o de Silvestre Domingos.

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