Covid-19 lança o caos na indústria do turismo na Europa
Ninguém sabe se os turistas de verão chegarão ou como as empresas sobreviverão se a indústria do turismo se se mantiver no caos provocado pela covid-19.
O retrato é negro. Traçado pelo jornalista do Guardian Jon Henley, o quadro deixado pela crise da covid-19 é incerto. Ninguém sabe como o turismo vai sobreviver. E se vai sobreviver, ainda que alguns empreendimentos turísticos estejam a garantir féria seguras em família. A crise do coronavírus deixou o turismo da Europa no caos. Fronteiras fechadas e companhias aéreas paradas. A frustração para os turistas é o mal menor. O maior é o risco de arruinar os negócios de férias e devastar as economias que dependem deles. Do Algarve, em Portugal, às ilhas gregas e dos resorts chiques da costa italiana de Amalfi aos bares e discotecas das costas espanholas, ninguém é capaz de afirmar se os turistas europeus virão este ano. Muitos dos empresários do turismo não sabem se vão sobreviver se não se reinventarem.
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As perdas são dramáticas. A comissão europeia estima que os hotéis e os restaurantes da UE deverão perder metade da faturação este ano. As receitas de turismo caíram 95% em Itália e 77% em Espanha, só em março, de acordo com o grupo bancário UBS. No sul da Europa, onde a recuperação da crise de 2008 dependia em grande parte do turismo, o setor é vital para as economias nacionais. É responsável por 20% do PIB na Grécia, 18% em Portugal, 15% em Espanha e 13% na Itália, segundo o Banco Mundial.
O comissário do mercado interno da UE, Thierry Breton, pediu um plano Marshall, com fundos dos vastos pacotes de estímulo económico da Europa para evitar que hotéis, restaurantes e operadores turísticos colapsem. O executivo da União Europeia prometeu diretrizes para um reinício coordenado das viagens. Os empresários cada vez exigem ação, mas muitos governos não parecem abertos a uma resposta musculada. Férias noutros países da UE ainda não são possíveis para os alemães, por exemplo, anunciou a chanceler Angela Merkel na quinta-feira da passada semana.
Restrições nas deslocações entre países
Edouard Philippe, primeiro-ministro francês, disse que «não seria razoável imaginar viajar muito para o exterior tão cedo». A ministra das Relações Exteriores de Espanha, Arancha González Laya, afirma que o país reabrirá gradualmente ao turismo, mas não até estarem «numa posição para garantir a segurança dos turistas». As fronteiras internas permanecem fechadas para viagens de lazer e não há perspectivas de reabertura, pelo menos até final de maio.
A Alemanha acaba de ir além deste prazo, estendendo-o até meados de junho. Até nova ordem, todos os estrangeiros que chegarem a França, inclusive dos estados da União Europeia, devem declarar razões essenciais profissionais ou familiares para entrarem no país. Se não, terão de regressar à origem. Mesmo as viagens domésticas ainda estão sob restrições severas em alguns países. O primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, avisa que os italianos deveriam fazer férias em Itália e, ainda assim, não poderão viajar entre regiões, medida que entrou em vigor há dois dias, 4 de maio. Os franceses também estarão limitados a um raio de 100 quilómetros de suas casas a partir de 11 de maio.
As medidas do bloqueio na Europa
Áustria
Desde 1 de maio, as grandes superfícies e os cabeleireiros estão autorizados a abrir, bem como reuniões até dez pessoas. Os restaurantes podem abrir em determinadas condições a partir de 15 de maio. Hotéis e piscinas autorizados a abrir a partir de 29 de maio.
Bélgica
As lojas podem abrir a partir de 11 de maio. As escolas recomeçam em 18 de maio, mas com limite de alunos por sala de aula. Hotéis e piscinas autorizados a abrir só a partir de 29 de maio.
República Checa
A partir de 11 de maio, centros comerciais e grandes grandes superfícies podem abrir. Restaurantes com esplanada, bares, cabeleireiros e museus podem igualmente iniciar funções a partir do mesmo dia. Eventos culturais e desportivos podem ser realizados desde que limitados a 100 pessoas. A partir de 25 de maio, todos os restaurantes, bares e hotéis podem começar a funcionar sem restrições.
França
Lojas, creches e escolas primárias serão reabertas em 11 de maio. Algumas escolas do ensino secundário serão reabertas em 18 de maio e eventos com o limite de 100 pessoas também podem voltar a ser realizados. A partir de 25 de maio, restaurantes, bares e hotéis entram em funcionamento sem medidas de restrição.
Alemanha
Jardins de infância, museus e igrejas reabriram em de 4 de maio. Medidas de distanciamento social permanecem até, pelo menos, 10 de maio e só em hoje, 6 de maio, serão anunciadas decisões sobre o regresso à normalidade condicionada para escolas e eventos desportivos. Eventos de grandes dimensões continuarão restritos, ficando proibidos concertos e grandes eventos desportivos pelo menos até 31 de agosto.
Grécia
O comércio reabriu em 4 de maio, incluindo livrarias e salões de beleza. A maioria das restrições aos movimentos dos cidadãos continua suspensa. A reabertura das escolas será gradual a partir de 11 de maio.
Itália
Desde 4 de maio, passou a ser possível fazer-se visitas a familiares em pequeno número. Parques, fábricas e construção civil reiniciou a atividade na mesma data, bem como bares e restaurantes apenas para serviços de take-away. Museus, bibliotecas e lojas reabrem em 18 de maio. Cabeleireiros e salões de beleza apenas podem reiniciar a atividade em 1 de junho. na mesma data, bares e restaurantes voltar a servir refeições.
Holanda
Escolas primárias e creches serão reabertas em 11 de maio. As secundárias só em 2 de junho. Bares, restaurantes, ginásios, museus e teatros permanecem encerrados até pelo menos 19 de maio.
Portugal
Desde 4 de maio que está em marcha um plano um plano trifásico para abrir diferentes setores da economia a cada 15 dias. Já reabriram o pequeno comércio, os cabeleireiros, os stands de automóveis e as livrarias. Desportos individuais autorizados também na mesma data. As máscaras passaram a ser obrigatórias em vários espaços públicos.
Espanha
Em 4 de maio, os serviços de entrega de restaurantes, cabeleireiros e outras empresas que operem com agendamento – como no caso dos cabeleireiros em Portugal – também já reabriram. A partir de 11 de maio, reabrem esplanadas com limite de um terço da capacidade. Pessoas saudáveis podem socializar em pequenos grupos e famílias podem voltar a assistir a funerais.
Suíça
Jardins e cabeleireiros reabriram no dia 4 de maio. Seguem-se as escolas e as lojas de bens não essenciais, como alimentos, em 11 de maio. Reuniões de mais de cinco pessoas só serão permitidas a partir de 8 de junho.
Portugueses emitem vouchers para turistas usufruírem das férias mais tarde
O guia de transporte e turismo da UE sugere que as restrições de viagem no território possam ser, inicialmente, facilitadas «entre áreas com circulação do vírus relativamente baixa», levando a República Checa, a Eslováquia e a Croácia, que relataram um baixo número de infecções, a propor corredores para a costa do Adriático, o que poderia ser acompanhado com o muito discutido Passaporte Covid-19, atestando a saúde do portador antes da viagem, ou por testes no resort assim que chegarem.
A Alemanha rejeitou soluções bilaterais. O ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Maas, disse que uma «corrida na UE para ver quem permitirá as viagens turísticas» mais cedo representaria «riscos inaceitáveis», recusando a oferta da Áustria para que os alemães gozassem as férias lá. Maas apontou o exemplo da estação de esqui austríaca de Ischgl, que acelerou a propagação da pandemia na Europa central.
Nos países de destino mais afetados, parte da estratégia envolve a garantia de que os turistas possam adiar as férias, em vez de cancelá-las. Em Portugal, que mantém o número de óbitos por covid-19 pouco acima dos mil, estão a ser emitidos vouchers para aqueles que se viram forçados a cancelar, permitindo reagendamento das viagens para 2021.
«É improvável que os turistas estrangeiros regressem até abril do próximo ano», teme a associação de empresas turísticas do Algarve
Alguns hotéis e restaurantes ainda contam com a possibilidade de reabrir, mas o representante da associação de empresas turísticas do Algarve, Elidérico Viegas, disse que muitos não o farão. «É improvável que os turistas estrangeiros regressem até abril do próximo ano», considera. O surto de coronavírus em Espanha transformou-se num dos piores do mundo. Mais de 25 mil pessoas morreram, mas alguns dos pontos turísticos do país saíram relativamente incólumes, permitindo alguma esperança de que ainda possam remediar a época de verão.
«As Baleares estão entre as áreas mais seguras da Europa, com uma das taxas mais baixas de contágio», disse Iago Negueruela, da autoridade regional responsável pela economia e pelo turismo das ilhas. As autoridades aguardam com prudência que os turistas internacionais possam visitar Maiorca e Ibiza a partir do fim de julho.
Espanha foi o segundo país mais visitado do mundo em 2019, com quase 84 milhões de turistas. A forte dependência económica do turismo deixou as administrações numa luta para desenvolver protocolos para minimizar as alterações do turismo neste amo. «Queremos ter tudo preparado para que os turistas possam regressar o mais depressa possível», disse Negueruela. O desafio está em encontrar um equilíbrio entre atrações como as discotecas de Ibiza e a nova realidade exigida pela covid-19. «Alguns setores terão adaptações mais significativas», prometeu.
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Grécia e Chipre querem protocolo para evitar confusão entre diferentes países com regras diferentes
Grécia Chipre pressionam entretanto a UE para um acordo comum. Para ambos, a questão é existencial. Mais de um quinto da força laboral destes países está empregada no setor do turismo, praticamente o dobro da média da União, e o turismo é o maior contribuinte das suas economias. «O mais importante agora é um protocolo comum de viagens para evitar a confusão entre diferentes países com regras diferentes», considera o vice-ministro do Turismo do Chipre, Savvas Perdios.
A Grécia prevê o início da temporada turística em julho. A baixa taxa de infecção por coronavírus e mortes por covid-19 alimentam o otimismo de que pode projetar-se como destino seguro. «Todas as apostas são para os próximos dois meses», disse Grigoris Tasios, presidente da Federação Panhellenic de Hoteleiros. Os resorts no norte da Grécia procuram aumentar a ocupação com estados vizinhos dos Balcãs, que também lidaram com o pandemia. «Roménia, Bulgária, Sérvia e Macedónia têm em conjunto uma população de 40 milhões e as viagens até à Grécia podem ser feitas de carro», notou.
Não se espera que os negócios recuperem os pré-coronavírus até 2023
A federação de pequenas empresas da Itália espera menos 25 milhões de visitantes estrangeiros entre julho e setembro. A Sicília, um dos principais destinos do país para o turismo de verão, 65% das reservas canceladas. A Agência Nacional de Turismo prevê uma quebra de 20 mil milhões na receita, em comparação com 2019. O ministro do turismo italiano, Dario Franceschini, disse que o país está a trabalhar arduamente para encontrar um equilíbrio entre as preocupações de segurança e a reabertura das instalações turísticas. «Não será fácil, mas vamos conseguir», garante.
Alguns locais turísticos implementaram barreiras de acrílico de quatro metros em frente à praia e separadores do mesmo material entre as mesas das esplanadas. Mas apesar destas e de outras medudas, todos sabem que o impacto no turismo será sentido nos próximos anos. Não se espera que os negócios recuperem os pré-coronavírus até 2023.
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