Líbia: migrantes presos, torturados e vendidos por 340 euros

21 Nov 2017 | 16:45

Migrantes chegam à Líbia em busca de uma vida melhor mas são apanhados nas redes do tráfico humano. Reportagem que está a chocar o mundo mostra homens a serem vendidos por 340 euros.

São vendidos em casas abandonadas nos arredores de Tripoli, capital da Líbia. Migrantes, vindos de vários países africanos, chegam àquele país para tentarem atravessar o Mediterrâneo em direção à Europa. Aliciados por traficantes, a quem pagam elevadas somas de dinheiro, acabam presos, torturados e traficados. Como gado.

A reportagem da CNN já motivou uma investigação, instada por António Guterres. O Alto Comissário das Nações Unidas, disse estar «horrorizado» com esta realidade e instou as autoridades líbias a fazerem uma investigação sobre estas redes de tráfico humano.

As imagens (que pode ver no vídeo acima) mostram um leilão onde pessoas são arrematadas como animais. 340 euros é o valor mais alto pelo qual é vendido um ser humano. Esses homens são, depois, usados como mão de obra escrava em explorações agrícolas.

Líbia é ponto de passagem procurado e perigoso

Só este ano já morreram 2985 migrantes a tentar atravessar o Mediterrâneo. 2016 foi, desde o início da crise dos refugiados, o ano mais mortífero: 4713 mortes.

A Líbia é, paradoxalmente, o país mais procurado por migrantes e refugiados da África subsariana. A maioria foge da pobreza, mas muitos também de zonas do continente afetadas pelo terrorismo. Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), estão atualmente 700 mil migrantes na Líbia. Em 2006, este país tinha uma população de 5,6 milhões de habitantes. Esse número aumentou para 6,1 milhões, não sendo quantificável quantas pessoas em situação ilegal residam atualmente em território líbio.

Um cenário propício para a atuação de traficantes que, iludindo os migrantes e refugiados com a promessa da chegada ao continente europeu, fazem deles prisioneiros.

Exploração sexual de mulheres e crianças

De acordo com o mais recente relatório do ACNUR (que pode consultar na íntegra aqui), o tráfico para exploração sexual tem vindo a aumentar em território líbio, «afectando particularmente mulheres oriundas da Nigéria e dos Camarões». Aumentou também o número de crianças que chegam sozinhas à Líbia, número esse que já representa 14% do total dos refugiados e migrantes.

O mesmo relatório indica que nem todos os migrantes que chegam à Líbia planeiam ir para a Europa. «Cerca de metade» tem a intenção de ficar naquele país temporariamente, para depois voltar aos seus países de origem. No entanto, a falta de estabilidade económica, o clima de insegurança e instabilidade governativa, além das situações de abuso e exploração, fazem com que a tentativa de chegar ao continente europeu permaneça, ainda, um objetivo.

Foto: Ismail Zetouni / Reuters