EUA/Eleições: No jogo de tabuleiro da política, “El Trump” é o vencedor na Pequena Havana

Enquanto Donald Trump joga o xadrez das eleições presidenciais norte-americanas contra Kamala Harris, na “Pequena Havana” de Miami, bairro coração da numerosa comunidade cubana, é já aclamado pela maioria como vencedor perante uma suposta ameaça “comunista”. 

EUA/Eleições: No jogo de tabuleiro da política,

Ao fundo da “Calle 8” (“Rua 8”), onde paira o aroma do café e do fumo dos “puros” charutos cubanos que se vendem no animado comércio, o jogo de eleição é o dominó e as partidas jogam-se desde manhã cedo, tão acaloradamente quanto se discute política.

Ao som distante de música “callejera” cubana, António, de 78 anos, é um dos anciãos que se juntam no Domino Park para jogar dominó ou apenas para dois dedos de conversa, com o amigo Félix e outros que vão passando. Todos, praticamente sem exceção, votaram ou vão votar no candidato presidencial republicano, a quem afetuosamente tratam por “El Trump” (“O Trump”).

Como um dueto, António e Félix complementam as frases um do outro e os argumentos são os habituais – e aqueles em que a campanha republicana aposta: o custo de vida era mais baixo no tempo de “El Trump”; os outros países respeitavam os Estados Unidos e hoje não, há guerra no mundo inteiro. 

A negação é a mesma quanto às nódoas no passado do ex-presidente republicano: o assalto ao Capitólio “foi bem feito”, por causa da “fraude eleitoral” que levou à derrota de Trump em 2020, diz António. Chega a responsabilizar “Barack Obama e os seus sequazes comunistas” pelo assalto, referindo-se ao ex-presidente democrata.

“Fraude. Frau-de, não tem outro nome”, diz António à Lusa, de olhos arregalados.  

“Kamala é comunista. Co-mu-nista. E Obama é comunista. Querem destruir este país”, exclama, pontuando as sílabas com murros na mesa.

Há críticas também para a imigração – não a do antigamente, mas a atual, dos que “vêm para roubar”.

António e Luís pertencem à geração mais antiga de cubanos na cidade mais latino-americana dos Estados Unidos, a 400 quilómetros da ilha, essa sim declaradamente comunista. “Comunista” é um insulto que António e Félix usam com visível raiva.

Uma sondagem divulgada na semana passada pela Florida International University indica que Trump é o preferido de 68% dos eleitores cubano-americanos, nível superior até ao dos que se declaram como eleitores republicanos (55%).

“Eles [democratas] o que querem é meter o comunismo aqui [nos Estados Unidos]. Ela [Kamala] é o que quer”, afirma Félix à Lusa.

Um outro cubano-americano, Luís, junta-se à conversa a caminho da mesa de jogo, declarando-se “por El Trump”.

“A democracia o que traz é miséria e problemas”, afirma. 

“A democracia… socialista”, corrige António, disfarçando algum embaraço pela confusão de conceitos do amigo. 

Mais distante das mesas de jogo, Artur fuma um charuto e conversa com um amigo. Abordado pela Lusa, vira o jogo contra os seus conterrâneos, que acusa de adotarem uma forma de pensar totalitária, ao rejeitarem opiniões e informações contrárias.

“Dizem que [Kamala] é comunista. Mas que veem nela, [Joe] Biden ou Obama que sejam comunista? São mentiras!”, exclama com um ar enfastiado enquanto segura o charuto.

De 60 anos e há 10 anos no país, Artur já votou em Kamala Harris que “tem mais ética e mais moral para levar o país para a frente” – ao contrário do “delinquente e corrupto” Trump – e critica a “falta de respeito” pelos democratas, “num país livre onde se tem direito a ter opinião”.

“Para eles tudo é comunista porque veem tudo com a mesma doutrina” totalitária cubana, sublinha. “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

 

*** Paulo Dias Figueiredo (texto) e Nuno Veiga (foto), da Agência Lusa *** 

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By Impala News / Lusa

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