Ferro Rodrigues defende intervenção do Presidente da República na crise da justiça

O ex-presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues defende uma intervenção do Presidente da República na crise da justiça, criticando, tal como Augusto Santos Silva, a atuação do Ministério Público em casos judiciais que causaram crises políticas.

Ferro Rodrigues defende intervenção do Presidente da República na crise da justiça

Na origem das criticas de Eduardo Ferro Rodrigues está a libertação dos arguidos que estiveram 21 dias detidos no âmbito da investigação aos alegados casos de corrupção na Madeira, após o juiz de Instrução ter concluido que os elementos da acusação não justificavam a privação da liberdade.

Em declarações ao jornal Público, Ferro Rodrigues disse que Marcelo Rebelo de Sousa deve agir “rapidamente” e dar um “sinal” de que a atual situação na justiça “não pode continuar” e que é “necessária uma intervenção”.

O antigo líder socialista referiu que o Presidente da República é o “único órgão de soberania que neste momento tem todos os poderes”, justificando de seguida que: “o Governo não tem todos os poderes, a Assembleia da República também não”, sugerindo que Marcelo Rebelo de Sousa se reúna com os Conselheiros de Estado.

Ferro Rodrigues considerou que a reunião dos Conselheiros de Estado deveria decorrer ainda antes do arranque da campanha eleitoral em 25 de fevereiro, “para obrigar os partidos a assumirem propostas e compromissos”.

O antigo líder socialista considera “inadmissível” que “os políticos todos e os partidos todos façam de conta que não está a acontecer uma coisa gravíssima” no sistema de justiça.

Já na quarta-feira o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, se declarou “perplexo” com a detenção, durante 21 dias, do presidente da Câmara do Funchal, na Madeira – que se demitiu entretanto – e de mais dois arguidos, quando afinal, o juiz de Instrução conclui que os elementos da acusação não justificavam a privação da liberdade.

Em entrevista à Rádio Renascença, Augusto Santos Silva sublinhou que é preciso fazer uma reflexão muito profunda – na próxima legislatura – sobre as condições, em seu entender demasiado fáceis, com que se priva da liberdade os cidadãos, em Portugal.

Em declarações divulgadas hoje no jornal Público, Ferro Rodrigues criticou a “completa irresponsabilidade e mediocridade” do Ministério Público (MP).

Ferro Rodrigues disse estar “indignado” por o Estado de Direito ser “cada vez menos respeitado” e desafiou a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, a “ter dignidade de assumir o ónus” das consequências dos casos judiciais que acabaram por causar crises políticas no Governo e na Região Autónoma da Madeira.

De acordo com o antigo presidente da Assembleia da República, é preciso pôr fim “ao politicamente correto” de afirmar “à justiça o que é da justiça e à política o que é da política”.

Além de Augusto Santos Silva, também a dirigente socialista Ana Catarina Mendes criticou na quinta-feira as “detenções bombásticas” na justiça que resultam depois em falta de indícios de crime e insurgiu-se contra julgamentos e “humilhações na praça pública”, manifestando-se indignada com a ligeireza desses casos.

Em 24 de janeiro, a Polícia Judiciária (PJ) realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.

Na sequência desta operação, a PJ deteve o então presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD), que também já renunciou ao cargo, o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e o principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, Custódio Correia.

Os três arguidos foram libertados na quarta-feira com termo de identidade e residência, três semanas após as detenções, por despacho do juiz de instrução criminal, que considerou não terem sido encontrados indícios da prática “de um qualquer crime”.

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