Governo de Meloni sob pressão para reprimir apologia do fascismo em Itália
A oposição política italiana está a pressionar o governo de Giorgia Meloni, uma coligação de direita e extrema-direita, a tomar medidas para reprimir a apologia do fascismo, após centenas de pessoas terem feito a saudação nazi numa recente manifestação em Roma.
A controvérsia surgiu após a divulgação de imagens de uma manifestação noturna celebrada no passado domingo em Roma, a assinalar o aniversário do assassinato, em 1978, de três jovens do Movimento Social Italiano (MSI), neofascista, por um grupo de extrema-esquerda, e nas quais se vê centenas de pessoas, em formação militar e vestidas de negro, a fazerem a saudação nazi (ou romana, como é designada em Itália).
As imagens dos manifestantes vestidos de ‘camisas negras’ – a designação dada aos grupos de paramilitares e militares apoiantes de Benito Mussolini na Itália fascista – a fazerem a saudação nazi provocaram a indignação da generalidade da oposição política italiana, levando mesmo o Partido Democrático (socialista), líder da oposição, a apresentar na terça-feira um projeto-lei no parlamento italiano “para tornar mais eficaz a repressão da promoção e glorificação da ideologia e símbolos fascistas”, que é crime em Itália.
No entanto, para que o texto se torne lei, serão necessários não só os votos da oposição, mas também os da ala direita do governo, cuja líder, Giorgia Meloni, da formação de extrema-direita Irmãos de Itália, considerada a ‘herdeira’ do MSI, ainda não se pronunciou sobre o sucedido no domingo, apesar dos apelos de várias figuras da oposição para que o faça publicamente e se distancie da manifestação.
Já os líderes das outras duas forças políticas que constituem a coligação governamental, Antonio Tajani (Força Itália, centro-direita) e Matteo Salvini (Liga, extrema-direita) já se pronunciaram, com o primeiro a garantir que o seu partido é “antifascista” e a apontar que “já há uma lei e está previsto que não se pode fazer apologia do fascismo”, enquanto o segundo comentou que, “felizmente, o comunismo e o fascismo, que criaram guerras, morte, fome e miséria, não voltarão”.
Também a inação da polícia tem sido muito criticada, mas hoje mesmo as autoridades anunciaram que já foram identificadas mais de 100 pessoas que fizeram a saudação fascista na comemoração do 46.º aniversário do “massacre de Acca Larentia”, como é conhecido o episódio do assassinato dos três jovens militantes de extrema-direita.
Na comemoração, que se realiza todos os anos diante da antiga sede do movimento neofascista MSI, na Via Acca Larentia, na capital italiana, participaram grupos de extrema-direita de muitas partes do país, e a unidade especial nacional de segurança, a Divisão de Investigações Gerais e Operações Especiais (DIGOS), está a trabalhar com as autoridades policiais de várias cidades para identificar mais pessoas envolvidas no evento.
Confrontado com o episódio de domingo, o ministro do Interior, Matteo Piantedosi, disse compreender a indignação perante “a utilização de gestos e símbolos condenados pela história”, mas defendeu a gestão das forças da ordem, durante uma audição perante a comissão parlamentar sobre a intolerância. Outro membro do governo a pronunciar-se foi o ministro da Defesa, Guido Crosetto, que, questionado sobre se distanciava do sucedido, limitou-se a dizer que sempre se afastou “de qualquer manifestação que recordasse regimes passados”.
A controvérsia já passou fronteiras, tendo na terça-feira o alemão Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (PPE) – a maior família política europeia, à qual pertence o Força Itália de Tajani –, enfatizado que “não há lugar na Europa para a saudação fascista”, que o PPE condena “com toda a veemência”. A comemoração da Acca Larentia também reavivou o debate sobre a existência de monumentos da era fascista em várias cidades do país, designadamente Roma, que tem, entre outros monumentos, um monólito no Foro Itálico onde se pode ler “Mussolini Dvx”.
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