Lula recusa confirmar possível candidatura para 2022 e considera polarização positiva
O ex-presidente do Brasil Lula da Silva recusou hoje confirmar se será novamente candidato nas eleições presidenciais de 2022 e considerou a polarização política no país como algo positivo.
“Seria pequeno se estivesse pensando em 2022 neste instante. Agora o PT [Partido dos Trabalhadores] tem que colocar as suas lideranças para andar pelo país, como Gleisi [Hoffmann, presidente nacional do PT] e Haddad [Fernando Haddad, antigo prefeito de São Paulo e ex-candidato presidencial em 2018] estão fazendo. Tem momento para tudo, não podemos ficar a responder se vamos ter candidato agora ou não”, disse Lula, em São Paulo.
“Em 2022, o partido vai pensar no momento das convenções e discutir se vai ter candidato, ou se vai apostar numa frente ampla”, acrescentou o ex-mandatário, na sua primeira declaração pública após as condenações no Paraná terem sido anuladas, não descartando uma aliança com partidos de centro.
Questionado pela imprensa sobre as críticas à “polarização política” no Brasil, provocada pela disputa entre Lula e Bolsonaro, o histórico líder do PT considerou o fenómeno como algo positivo.
“O PT polariza desde 1989. O PT sempre polarizou e espero que continue assim. (…) Significa que o PT é muito grande. Não pode ter medo de polarizar, tem que ter medo é de ficar esquecido. Gosto de eleição em duas voltas justamente para construir as alianças e reunir o país”, disse.
“A polarização é importante, o que não pode é cometer erros, como o do PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira] em 2014, em não querer aceitar o resultado. Deu no que deu, no Bolsonaro [Jair Bolosnaro, atual Presidente do Brasil]. Se o adversário vai ser Bolsonaro, não sei. Ele tem uns 20% de ‘milicianistas’, vamos ver”, avaliou Lula, sobre o alegado apoio de milicianos a Bolsonaro nas presidenciais de 2022.
Lula da Silva falou hoje à imprensa, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, São Paulo, na presença de figuras políticas como Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) que perdeu a eleição presidencial para Jair Bolsonaro, em 2018, e Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Segundo o ex-mandatário, será “mais fácil” construir uma frente de esquerda para disputar as próximas eleições presidenciais, “para produzir um programa de luta contra o que está a acontecer com a direita”.
“Vejo muita gente falar sobre ‘frente ampla’, mas o que se fala agora é frente de esquerda. Ela será ampla se conseguirmos conversar com outras forças políticas. É possível, é. Nos estados brasileiros temos vários governadores eleitos em aliança ampla. Quando chegar a época da eleição as coisas vão acontecer, não estou preocupado com isso agora”, reforçou Lula da Silva.
Sobre o ex-governador Ciro Gomes, que também já concorreu à Presidência do Brasil e que na terça-feira declarou que Lula pode ter sido considerado inocente pela Justiça, mas que não é honesto, o antigo chefe de Estado disse que o ex-aliado precisa de se reeducar e deixar de “meninice” na política.
“Ciro deve assumir a responsabilidade de ser um homem de 64 anos. Se Ciro quer ser Presidente, ele tem de respeitar as pessoas, ele primeiro tem que se reeducar. Se Ciro continuar com essas grosserias, não vai ter apoio da esquerda, não vai ter confiança da direita, vai ter menos votos”, advogou Lula.
O juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, anulou na segunda-feira todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal no Paraná, relacionadas com as investigações da operação anticorrupção Lava Jato.
Isto não quer dizer que o antigo chefe de Estado brasileiro tenha sido inocentado já que os processos serão remetidos para a justiça do Distrito Federal, que vai reavaliar os casos e pode receber novamente as denúncias e reiniciar os processos anulados.
Com a decisão, porém, Lula da Silva voltou a ser elegível e recuperou seus direitos políticos.
Lula, de 75 anos e que governou o Brasil entre 2003 e 2010, chegou a cumprir 580 dias de prisão, entre abril de 2018 e novembro de 2019 e, desde então, o ex-presidente recorria da sua sentença em liberdade condicional.
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