Pode Kamala Harris vencer Trump após a desistência de Biden?

Ao abandonar a corrida eleitoral passando a apoiar a sua vice-presidente, Biden ‘baralha’ as sondagens nos EUA. O que têm a ganhar e a perder os democratas no possível ‘combate’ Kamala vs Trump?

Pode Kamala Harris vencer Trump após a desistência de Biden?

As eleições nos Estados Unidos da América acontecerá em 5 de novembro. No domingo, o presidente Joe Biden retirou-se da disputa presidencial e apoiou a vice-presidente, Kamala Harris.

“Não é certo, mas é bem provável que Kamala seja agora a candidata democrata para enfrentar o ex-presidente republicano Donald Trump, em novembro”, considera Adriano Beaumont, analista eleitoral e professor de Matemática e Estatística da Universidade de Melbourne. Durante as primárias presidenciais democratas realizadas no início deste ano, Biden conquistou cerca de 95% de todos os delegados para a convenção democrata de 19 a 22 de agosto. “Muito provavelmente, estes delegados apoiarão Harris, dado o endosso de Biden”, acredita Beaumont.

Desde o debate com Trump em 27 de junho, amplamente considerado “um desastre”, que Biden enfrentava pressão para retirar-se. Numa sondagem da Ipsos para a US ABC News, foi divulgada antes da retirada de Biden, no domingo, os eleitores democratas queriam que o ainda presidente se retirasse por 60-39.

Após a tentativa de assassinato contra Trump em 13 de julho e a convenção republicana de 15 a 18 de julho, a liderança de Trump sobre Biden no agregado FiveThirtyEight de sondagens nacionais aumentou de 1,9 pontos em 13 de julho para 3,2 pontos, a maior margem desde que o agregado começou em março. As cotas de votos foram de 43,5% para Trump, 40,2% para Biden e 8,7% para Robert F. Kennedy Jr.

A presidência não é decidida pelo voto popular nacional. Em vez disso, “cada estado tem uma certa quantidade de Votos Eleitorais (EV), principalmente com base na população, com cada estado a conceder os seus EV, entregues por fim na sua totalidade ao vencedor. “São necessários 270 EV para vencer”, acentua Beaumont. O sistema EV “inclinar-se-á provavelmente para Trump”.

Biden permanecerá na Casa Branca até ao final do seu mandato, em janeiro de 2025. A sua aprovação líquida no agregado FiveThirtyEight é de -17,7, com 56,2% a desaprovarem e 38,5% a aprovarem a sua prestação. A aprovação líquida de Biden é “pior do que a de outros presidentes anteriores neste momento do mandato, exceto George Bush Sr. e Jimmy Carter”.

A aprovação líquida de Trump no agregado FiveThirtyEight é -12,0, com 53,7% desfavoráveis ​​e 41,7% favoráveis. As suas classificações estão relativamente inalteradas desde abril. “Infelizmente, o FiveThirtyEight não tem classificações de aprovação para Kamala”, fator que inviabiliza qualquer comparação.

“É muito cedo para analisar as sondagens Kamala vs Trump”, considera Beaumont. “Harris não tinha sido candidata presidencial até hoje e o reconhecimento do nome de Biden explica os números frequentemente melhores do que os dela. Uma sondagem nacional recente da YouGov para a CBS News deu a Trump uma vantagem de cinco pontos sobre Biden e de três pontos sobre Kamala Harris.

“Há duas coisas que devem beneficiar Harris. A primeira é que os dados económicos melhoraram, com a inflação a cair e os ganhos reais a crescer. A segunda é que, enquanto Biden teria quase 82 anos no momento da eleição, Kamala terá apenas 60. Trump tem 78 anos e diferença de idade desfavorável a Biden será agora favorável a Kamala Harris”, acredita o analista.

Nomear um candidato que não tenha sido testado em batalha nas primárias é “muito arriscado”. “Quando Harris concorreu à presidência em 2020, retirou-se da disputa em dezembro de 2019, antes de qualquer primária.”

Com a idade de Biden a ser “uma grande preocupação para os eleitores, mudar para um novo candidato pode provar-se ser uma jogada sensata para os democratas”. Enquanto Biden vinha a perder, as sondagens do Senado dos EUA nos estados indecisos presidenciais de Pensilvânia, Nevada, Wisconsin, Michigan e Arizona sugerem que “os candidatos democratas estão a ganhar e a saírem-se muito melhor do que Biden”. Por isso, “talvez os democratas tivessem apenas um problema: Biden”.

Em junho, a inflação geral nos Estados Unidos caiu 0,1%, depois de ter permanecido inalterada em maio, e a inflação em 12 meses caiu para 3,0%, a menor desde junho de 2023. A inflação básica subiu 0,1% em junho depois de aumentar 0,2% em maio e cresceu 3,3% nos últimos 12 meses, o menor aumento desde abril de 2021.

A baixa inflação em maio e em junho “impulsionou os ganhos reais (ajustados pela inflação) nestes meses, com ganhos horários reais a subirem 0,9% em maio e em junho e semanais reais a subirem 0,7%”, analisa Eduardo Beaumont. Nos 12 meses até junho, os ganhos horários reais subiram 0,8% e os semanais reais 0,6%.

Em junho, foram criados 206 mil empregos líquidos, mas a taxa de desemprego aumentou 0,1% para 4,1% – “trata-se da maior taxa de desemprego desde novembro de 2021“.

The Conversation

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