Hezbollah mostra bastião “fantasma” em Beirute mas avisa que a guerra mal começou
O Hezbollah abriu hoje as portas do seu bastião em Beirute, no grande subúrbio xiita de Dahieh, onde mostrou edifícios alegadamente civis arrasados pelos últimos bombardeamentos israelitas, num cenário ainda fumegante de desolação e abandono quase total.
Durante uma visita organizada pelo grupo armado libanês para jornalistas em Beirute, ainda se sentem os efeitos dos últimos raides aéreos israelitas, que deixaram vários edifícios reduzidos a grandes pilhas de entulho, de onde ainda se erguem colunas de fumo negro, após os clarões das explosões terem iluminado na passada madrugada os céus dos arredores da capital do Líbano.
Segundo o porta-voz do Hezbollah, Mohammad Afif, tratava-se de edifícios civis, tal como outros atingidos há dois dias, incluindo os serviços do canal televisivo Al-Sirat, próximo do grupo xiita aliado do Irão, embora Israel reclame que os seus ataques foram dirigidos contra “alvos terroristas” do movimento armado.
“Estamos agora em frente ao edifício destruído do canal cultural e religioso Al-Sirat para vos confirmar que as reivindicações do inimigo sionista sobre a presença de armas ou depósitos de armas neste edifício ou noutros […) são afirmações falsas que não têm qualquer base na verdade”, declarou Afif, discursando sobre um monte de escombros, encimado por um retrato do líder histórico do Hezbollah, Hassan Nasrallah, eliminado na sexta-feira num bombardeamento israelita no seu quartel-general neste subúrbio.
A visita preparada pelo Hezbollah conduziu apenas aos lugares dos ataques supostamente ocorridos nos últimos dois dias e na passada madrugada, que deixaram marcas profundas em Dahieh, somando-se a vários outros desde que Israel intensificou nas passadas duas semanas as suas ofensivas militares contra os arredores predominantemente xiitas de Beirute.
Todos os edifícios bombardeados são “puramente civis, habitados por civis libaneses e não contêm quaisquer atividades militares”, sublinhou o porta-voz do Hezbollah, trajado de negro, antes de indicar que, nos primeiros confrontos para travar as incursões terrestres das tropas israelitas no Líbano, os combatentes do movimento tinham “travado uma batalha heroica esta manhã” em Odaisseh e Maroun al-Ras, no sul do país, e infligido “perdas claras” aos militares de Telavive.
“É apenas o início do que espera as forças de ocupação”, observou Mohammad Afif, ao assinalar que os homens do Hezbollah “estão totalmente preparados para o confronto, heroísmo e sacrifício” e que “as capacidades de resistência militar estão boas, especialmente de mísseis”, tal como a sua estrutura de comando, apesar das importantes baixas sofridas nas últimas semanas.
A multiplicação da figura tutelar de Nasrallah e de outros “mártires” do Hezbollah acompanha a visita a Dahieh, ao longo de artérias despojadas e cobertas de escombros e vidros partidos, comércio encerrado e prédios residenciais abandonados por uma população em fuga para o centro da capital, quando Israel começou a deixar avisos nas redes sociais para os habitantes abandonarem as suas casas e a bombardear os subúrbios sul numa base quotidiana ou várias vezes ao dia ou à noite.
Esta “cidade fantasma” e quase proibida, de acesso altamente condicionado à luz verde do Hezbollah, entra em contraste total com o centro de Beirute, agora sobrelotado com milhares de novos deslocados pelo conflito.
Apenas ficaram para trás escassos residentes que se recusaram a partir, membros do movimento armado xiita e das forças de defesa do bairro, que cuidam da proteção dos bens dos ausentes. “Vamos ficar”, gritam em desafio dois homens do Hezbollah, que patrulham o bairro numa ‘scooter’.
Mesmo as áreas dos edifícios demolidos pela aviação israelita são de acesso reservado, bem como a aproximação a veículos esmagados sob restos de tijolos e betão, numa demarcação quase sagrada de enormes cicatrizes a céu aberto, tão recentes como o fumo espesso e gases tóxicos que ainda libertam ou como as bandeiras do Hezbollah penduradas nas varandas partidas dos prédios vizinhos, ou ainda uma faixa vermelha deixada sobre as ruínas: “Isto foi feito pela América e por Israel”.
Além das instalações destruídas do canal Al-Sirat, ao longo da visita, os jornalistas puderam observar os restos de um edifício declarado como em uso pela defesa civil local e outros três assinalados como de uso civil, embora já não restasse ninguém no seu interior.
Sobram ainda os prédios residenciais circundantes, de janelas arrancadas, com partes das fachadas escurecidas pelo fogo, deixando à vista o interior de apartamentos e mobílias de famílias em parte incerta, tal como lojas sem vendedores nem clientes e mesquitas sem fiéis.
Apesar da desolação hoje autorizada a observar pelo Hezbollah e das perdas sofridas em resultado dos bombardeamentos israelitas, o movimento aliado do Irão, que na terça-feira lançou um ataque aéreo com mísseis contra Israel, avisa que “os assassínios, a bestialidade e a destruição” correspondem a uma “primeira volta”, segundo o seu porta-voz, para quem a guerra mal começou.
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By Impala News / Lusa
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