Por que são atraídos os insetos pelas luzes artificiais?

As luzes artificiais são para os insetos uma incontrolável atração pela morte. Afinal, por que motivo este ímpeto se sobrepõe ao instinto de sobrevivência?

Por que são atraídos os insetos pelas luzes artificiais?

O clássico churrasco de verão acaba sempre da mesma forma. Prolonga-se pela tarde e quando o sol se põe enxames de insetos esvoaçam em torno das luzes que entretanto acendemos. Mas voar em torno de luzes artificiais pode ter consequências mortais para criaturas como traças, mosquitos e outros. Podem ficar presos sob abajures e expostos a predadores como besouros, aranhas, morcegos e pássaros.

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Esta “atração estúpida” chega mesmo a distrair os insetos de objetivos como “comer, acasalar e reproduzir-se”, diz Avalon Owens, investigadora da Universidade de Harvard, o que que não é de menosprezar. As luzes artificiais podem estar a contribuir para a diminuição das populações de insetos em todo o mundo. Dados os riscos, por que motivo os insetos são magneticamente atraídos por luzes artificiais?

Existem muitas teorias. Talvez as traças usem a Lua para navegação e as luzes se pareçam com ela. Talvez os insetos estejam a tentar escapar em direção à luz – ou a tentarem encontrar a escuridão. A terceira teoria será a de que a responsabilidade seja da “ilusão de ótica ‘bandas mach’, diz Owens. “A borda de uma área iluminada parecerá mais escura do que o resto da escuridão”, explica.

Em 1965, um investigador levantou a hipótese de que as luzes pudessem de alguma forma imitar as feromonas de acasalamento. Porém, “esta teoria era tonta”, afirma Yash Sondhi, da Universidade da Florida que estuda borboletas e sistemas sensoriais. “Naquela altura, contudo, nenhuma teoria apontava evidências”, diz, citado pela revista especializada Live Science.

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Aparentemente, os insetos voam até às luzes artificiais porque respostas evolutivas mais antigas estão a desaparecer. “Na maior parte da história evolutiva, a noite foi quase totalmente escura”, diz Owens. Hipóteses específicas são difíceis de testar porque os insetos em voo são difíceis de observar. Mas há hoje novas tecnologias que podem finalmente trazer melhores respostas.

Já neste ano, em 2023, numa pré-publicação no bioRxiv ainda não confirmada por pares, Sondhi e Samuel Fabian – do Imperial College London – e outros investigadores filmaram traças, libelinhas e outros insetos com uma câmara de alta velocidade. Repararam em algo inesperado: “as traças e as libelinhas mantinham-se ‘de costas’ para a luz o máximo possível”.

Com base nestas observações, a teoria mais recente é a de que alguns insetos voam para a luz como forma de se orientarem. É que, por norma, luz significa cima e escuridão significa baixo. “É difícil para os insetos usarem a gravidade para saberem onde está o seu corpo, porque eles estão de certa forma a nadar no ar”, aponta Owens, que não participou nesta nova investigação. E com luzes artificiais, “de repente, a metade iluminada do universo não está onde se esperaria que estivesse”.

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A experiência de Sondhi e dos seus colegas pode explicar por que razão os insetos se mantêm perto das luzes depois de chegarem lá. Mas explica, por exemplo, como é que alguns insetos encontram as luzes a longas distâncias ou por que motivo alguns ficam presos a ela e outros não.

Owens acentua que as libelinhas mantiveram as costas voltadas para a luz durante a observação, apesar de serem raramente encontradas a circular junto às luzes no campo – ao contrário das traças. Em relação às traças, diz, “ainda há essa questão maior de saber-se por que são sempre as primeiras a chegar lá”. E é exatamente isto que a leva a querer testar a ideia de que as traças usam a Lua como bússola na escala da paisagem, embora a teoria esteja longe de comprovar-se.

Em breve, todavia, isto poderá ser possível de testar, graças a câmaras ainda mais sensíveis e técnicas mais evoluídas de análise. “Estamos todos finalmente a obter estas ferramentas que podemos usar para explorar estas questões.” Entretanto, as descobertas de Sondhi podem apoiar a ideia de que a “iluminação” prejudica os insetos e deve ser evitada. “Se colocássemos a luz no chão virada para cima, os insetos iriam virar-se de cabeça para baixo e cair”, diz Owens. “E nós nunca assistimos a isto.”

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“Reduzam-se as luzes e use-se iluminação mais difusa”, concorda Sondhi, que também recomenda a utilização de luzes mais vermelhas do que azuis, devido à visão dos insetos. Sempre que possível, acrescenta ainda, devemos “desligar as luzes externas”. “Se as desligarmos enquanto ainda está escuro, muitos dos insetos recuperam-se e afastam-se”, garante Sondhi.

Como estratégia de redução de luz, Owens sugere evitar refeições de verão ao ar livre durante a noite. “Assista ao pôr do sol, porque o sol põe-se à mesma velocidade com que os seus olhos se ajustam”, diz. Além disso, acrescenta, “se o seu quintal estiver escuro, é provável que menos mosquitos encontrem o caminho até lá”.

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