Japão usa fertilizante de fezes humanas para agricultura mais barata

Cerca de “dez vezes mais barato” e com “benefícios para o ambiente”, o fertilizante produzido no Japão a partir de fezes humanas não é novo, mas ganhou novo impulso desde a invasão russa à Ucrânia.

Japão usa fertilizante de fezes humanas para agricultura mais barata

O Japão resgatou uma alternativa, utilizada no passado, para vencer as dificuldades de importação de fertilizantes químicos da Ucrânia, o uso de fertilizante de fezes humanas. Este tipo aparentemente bizarro de fertilizante tem garantido plantações de baixo custo no país e a utilização está a todo vapor em várias regiões, ultrapassando inclusive a venda do estrume convencional.

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Os japoneses apelidam o recurso tradicional às fezes humanas de “shimogoe” – ou “fertilizante do fundo de uma pessoa”. No entanto, a alternativa encontra uma onda crítica, com muitos a afirmarem tratar-se de um “processo caro”, embora o valor do produto final “seja barato”, apesar do “odor desagradável e muito trabalhoso”.

Venda de fezes humanas dispara 160% no Japão

Com as redes de esgoto e estações de tratamento, assim como dos fertilizantes químicos, o costume deixou de ser usado no Japão. As vendas de shimogoe, porém, aumentaram 160% nos últimos meses em várias regiões do país. O governo japonês incentiva o ressurgimento da técnica fruto das preocupações com a segurança alimentar desde a invasão da Rússia na Ucrânia, uma das maiores produtoras do mundo.

O Ministério da Agricultura espera duplicar o uso de esterco animal e dejetos humanos até 2030, com a meta de que representem 40% de todo o uso de fertilizantes no Japão. Em Miura, nos arredores de Tóquio, camiões a vácuo para transporte de dejetos humanos chegam um após o outro a uma instalação de tratamento. A água é removida e as bactérias fermentam os sólidos restantes em enormes tanques.

O metano produzido durante o processo é queimado para fornecer água quente e eletricidade à instalação e o produto final é um pó semelhante ao solo que pode ser espalhado nos campos. “Este fertilizante é particularmente bom para vegetais folhosos, como repolho”, diz Kenichi Ryose, gerente das instalações do Centro de Biomassa Miura.

Independentemente da polémica e das queixas, o empresário Toshiaki Kato afirma que, pela primeira vez desde que começou a produzir o fertilizante em 2010, o produto esgotou. “O nosso fertilizante é popular por ser barato e está a ajudar os agricultores a reduzirem os custos crescentes”, assegura. “Também é bom para o meio ambiente”, acrescenta, contrariando os críticos.

Como é feito o fertilizante shimogoe

O fertilizante é produzido através de uma combinação de lodo de esgoto tratado de fossas sépticas e dejetos humanos das fossas. Cada saca de 15 quilos deste fertilizante custa 160 ienes (1,03 euros). De acordo com os comerciantes, o valor é um décimo do preço dos produtos feitos com matérias-primas importadas.

Na região de Saga, no sudoeste do Japão, as autoridades relatam que as vendas aumentaram entre duas a três vezes. Existem, mesmo, grupos de turistas a quererem conhecer o produto para poderem aplicá-lo nas áreas onde vivem. O shimogoe foi um fertilizante essencial na era pré-moderna do Japão, diz Arata Kobayashi, especialista em fertilizantes.

De acordo com Kobayashi, no início do século XVIII, um milhão de habitantes de Tóquio – então chamada Edo – “produziam cerca de 500 mil toneladas de fertilizantes por ano”. “Beneficiam todos com este sistema de reciclagem”, garante. “Não criaram um sistema de reciclagem de propósito, foi o resultado de todos em busca do lucro.”

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