Não pergunte no café. Se quer a verdadeira resposta sobre o que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha pergunte a um biólogo. Metaforicamente, a questão é uma meditação sobre a futilidade de determinar a causa de um ciclo que se perpetua. Mas, literalmente, é uma grande questão para os biólogos evolutivos. As galinhas vêm dos ovos, mas os ovos vêm das galinhas. Então, em que ficamos?

A maioria dos biólogos afirma inequivocamente que o ovo surgiu primeiro. No seu nível mais básico, os óvulos são apenas células sexuais femininas. Os ovos externos, duros, (também conhecidos como ovos amnióticos) sempre foram um divisor de águas para os vertebrados. “O ovo é um importante passo na evolução [dos vertebrados] porque permitiu que os amniotas se afastassem cada vez mais da água”, expõe Koen Stein, paleontólogo do Instituto Real Belga de Ciências Naturais, citado pela Live Science.

Antes do surgimento dos ovos de casca dura, carregados com gemas nutritivas, os vertebrados dependiam de corpos de água para se reproduzirem. A maioria dos anfíbios enfrenta ainda essa limitação aquática – precisam de manter os ovos gelatinosos húmidos para que eles sobrevivam. As aves não surgiram em nenhum registo fóssil até meados do Jurássico, há cerca de 165 a 150 milhões de anos, de acordo um estudo publicado na revista Current Biology.

Os cientistas, contudo, acreditam que os primeiros ovos com casca evoluíram muito antes disso – há aproximadamente 325 milhões de anos, de acordo com o Centro de Biodiversidade da Universidade do Texas. Isto significa que o ovo veio “muito antes da galinha”, diz Stein. Estes primeiros ovos seriam eventualmente eram maleáveis ​​e de textura coriácea, muito semelhantes aos ovos postos ainda hoje por répteis e ornitorrincos.

Havia muitos vertebrados terrestres a porem ovos amnióticos nos períodos Carbonífero, Permiano e Triássico, mas os mais famosos destes animais são os dinossauros. Stein estudou algumas das primeiras cascas de ovos de dinossauros conhecidas, do início do período Jurássico, há cerca de 200 milhões de anos. Estes ovos tinham cascas externas extremamente finas, com apenas cerca de 100 mícrons de espessura. “Essa é a espessura de um fio de cabelo humano”, explica. Porém, e com base na sua estrutura, estes primeiros ovos de dinossauro terão sido rígidos, como a porcelana, em vez de flexíveis, como uma casca de banana, tornando-os no primeiro exemplo conhecido de um ovo tal como hoje o conhecemos.

Esta espessura finíssima explica provavelmente por que os investigadores tiveram problemas para encontrar exemplos anteriores de cascas de ovos. Quando um ovo encontra um solo rico em ácido, dissolve-se lentamente. “O solo tornaria impossível a preservação de uma camada calcária tão fina”, diz Stein. Outra ideia é a de que os primeiros ovos de dinossauros tinham casca mole e, portanto, não foram preservados no registo fóssil, de acordo com um estudo de 2020 publicado na revista Nature.

Afinal de contas, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

Portanto, o ovo precedeu a galinha e o mistério está resolvido, certo? Bom, não exatamente. É que se o assunto for o primeiro ovo de galinha, a história muda. As galinhas (Gallus gallus domesticus) evoluíram provavelmente de uma subespécie da galinha vermelha da selva (Gallus gallus) há cerca de 50 milhões de anos. Os humanos que habitavam no sudeste da Ásia domesticaram-nas pela primeira algures entre 1.650 e 1.250 a.C., de acordo com um artigo de 2022 divulgado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Em algum momento do processo de domesticação, o último ancestral das galinhas modernas terá colocado um ovo com um embrião com diferenças genéticas suficientes para torná-lo distinto da sua espécie parental. Esta galinha embrionária ter-se-ia desenvolvido no ovo que não seria bem uma galinha antes de eclodir. Depois de atingir a idade adulta, terá posto o primeiro ovo de galinha como hoje o conhecemos. Desta forma, pode por isso dizer-se que a galinha é anterior ao ovo.

A história evolutiva não é apesar de tudo direta. Existem evidências de que as galinhas se cruzaram com outras subespécies de aves selvagens, mesmo depois de se adquirirem as suas próprias subespécies geneticamente distintas. Algumas destas características são mais (ou menos) evidentes em certas raças de galinhas modernas.

Além disso, a domesticação de galinhas parece ter ocorrido de forma independente, várias vezes, em partes da Índia e da Oceânia ao longo de vários milhares de anos, de acordo com a Universidade de Wisconsin-Madison. Portanto, determinar o frango original continua a ser altamente controverso. Assim-como-assim e independentemente da questão, biólogos e filósofos concordam que galinhas e ovos partilham algo importante: para quem gosta, são ambos particularmente deliciosos.

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