Plantar mais árvores pode reduzir um terço das mortes prematuras nas cidades
A escassez de árvores e outra plantação nas grandes cidades origina as chamadas ilhas de calor urbano, que podem ser 12ºC mais quentes do que os ambientes rurais e levar a mais mortes prematuras.
O desenvolvimento urbano reduz significativamente as áreas sombreadas e as enormes superfícies pavimentadas retêm muito calor. Como resultado, as cidades tendem a ser mais quentes do que os arredores rurais. O fenómeno é conhecido como efeito de ilha de calor urbana (ICU). Durante um dia de verão, as cidades podem ser até 12℃ mais quentes do que as áreas rurais. Pode não parecer, mas esta diferença faz disparar o número de mortes prematuras nos grandes centros urbanos.
As ilhas de calor urbano são um grande perigo ambiental para os moradores. As investigações sugerem que para cada aumento da na temperatura em 1℃ o risco de morte aumenta entre 1% a 3%. A exposição ao calor também aumenta o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias. A mais recente investigação sobre esta problemática – conduzida por Meelan Thondoo (da Universidade de Cambridge), Mark Nieuwenhuijsen (da Universidade Católica australiana) e Tamara Iungman (do Instituto de Barcelona para a Saúde Global) – calculou as taxas de mortalidade de habitantes urbanos em 93 cidades europeias (57 milhões de pessoas no total) entre junho e agosto de 2015. “Descobrimos que 6.700 mortes prematuras durante este período estavam relacionadas com as ilhas de calor urbano”, reportam os investigadores.
O ritmo do aquecimento global está a acelerar e, por isso, a contribuir ainda mais para o risco de mortes. “Espera-se que 2 a 3 mil milhões de pessoas vivam nas cidades até 2050. Os impactos das ICU na saúde piorarão muito provavelmente nos próximos anos.”
Existem várias estratégias para proteger os residentes urbanos dos impactos do calor. Por exemplo, “cobrir telhados e fachadas com vegetação (telhados verdes), decorá-los com cores mais claras e substituir superfícies pavimentadas por áreas de vegetação”. O nosso modelo revelou que um terço (2.644) das mortes resultantes da ICU na Europa poderiam ser evitadas, aumentando a cobertura das copas das árvores para 30% de todos os bairros urbanos.
Três linhas-mestras para reduzir as mortes prematuras nas cidades
A meta foi estabelecida “no ano passado por um estudo publicado no Journal of Forestry Research“. Desde então, “foi adotado por várias cidades do mundo, incluindo Barcelona (Espanha), Bristol (Reino Unido), Filadélfia (EUA), Camberra (Austrália) e Seattle (EUA)”.
As florestas urbanas regulam os microclimas de uma cidade “de forma eficaz”. A investigação permitiu concluir que “as florestas urbanas arrefecem a temperatura média de 601 cidades europeias de 1,1°C a 2,9°C”.
Bairros arborizados também estão ligados à melhoria da saúde mental e física. Na Califórnia, “um aumento de 10% na cobertura de árvores da vizinhança foi associado a uma redução de 19% nas taxas de obesidade e diabetes tipo 2″.
A vegetação, “particularmente em redor das escolas”, pode ser “importante no desenvolvimento cognitivo das crianças“. Testes cognitivos a crianças em idade escolar em Barcelona revelaram um “desenvolvimento de memória de trabalho 6% melhor em crianças em escolas com os níveis mais altos de verde”, em comparação com aquelas nas escolas “menos verdes”.
Mais árvores equivale a menos calor
“Encontrámos uma variação substancial nas taxas de mortalidade por ICU nas cidades europeias. Em 2015, Gotemburgo, na Suécia, não registou mortes prematuras por ICU, enquanto o calor urbano foi responsável por 32 mortes prematuras por cada 100 mil pessoas na cidade romena de Cluj-Napoca.” As cidades com as maiores taxas de mortalidade por ilhas de calor urbano situavam-se “no sul e no leste da Europa”. A maioria destas cidades tinha por norma “baixa cobertura de árvores e registava o maiores efeitos de ICU.
Apenas 3,3% de Thessaloniki, na Grécia, é coberto por árvores, resultando em temperaturas urbanas “2,8℃ mais altas do que as da área circundante”. Por outro lado, “27% de Gotemburgo é coberto por árvores, proporcionando um efeito ICU de apenas 0,4℃”. De forma geral, “as cidades do sul da Europa serão as que mais beneficiarão com o aumento da cobertura arbórea. “O nosso modelo estima que Barcelona poderia reduzir a taxa de mortalidade por ICU em 60%, ao atingir a meta de 30% de cobertura de árvores”, estimam os autores do estudo.
O caminho a seguir
A intensidade do efeito ICU, porém, depende de “múltiplos fatores” e é “específica em cada cidade”. Enquanto a cobertura vegetal “influencia as temperaturas urbanas durante o dia”, as noturnas “são influenciadas pela altura do desfiladeiro urbano“, aumentando-as. A capacidade de arrefecimento de uma copa de árvore “também varia”, dependendo “do tipo e do tamanho”, “do clima natural da cidade e do grau em que as árvores são mantidas”.
Os climas mais secos, “como Thessaloniki, favorecem árvores menores e com menos folhagem”. Por outro lado, “o clima mais frio e húmido de Gotemburgo favorece árvores maiores e mais frondosas, que fornecem melhor proteção contra o calor diurno”. Devido a esta variação, “construímos uma ferramenta – a que chamámos Índice de Esforços de Arrefecimento”. O índice “avalia quanto arrefecimento pode ser alcançado em cada cidade para cada 1% de aumento na cobertura arbórea”. “Também gerámos mapas de alta resolução para cada cidade no sentido de identificar as áreas onde a arborização é mais urgente”.
Em algumas cidades, “a maioria das florestas urbanas crescerá em terrenos privados”. “Os programas de plantio de árvores devem, portanto, encorajar os residentes a plantar árvores”. Em Victoria, cidade da costa oeste do Canadá, “os bairros recebem uma doação de 682 euros para plantar árvores residenciais”. Até agora, “mais de 78 árvores foram plantadas em propriedades privadas” de toda a cidade.
O espaço também pode ser uma restrição em áreas urbanas compactas. Portanto, “aumentar a cobertura arbórea para 30% pode ser um desafio para algumas cidades europeias”. Mas cada cidade “pode adaptar essa meta ao seu contexto” local. Por exemplo, “uma meta de copa de árvore mais baixa pode ser combinada com medidas alternativas, como telhados verdes em áreas urbanas compactas”.
Os terraços representam 67% da superfície de Barcelona. Como a população urbana da cidade continua a crescer, o município lançou um guia para transformar telhados em áreas com cobertura vegetal “parcial ou total”. O guia apresenta os benefícios sociais e ambientais dos telhados verdes e oferece conselhos para escolher o tipo adequado de terraço para o edifício.
A incorporação de infraestrutura urbana verde nas cidades deve torná-las “mais resilientes às mudanças climáticas”. Plantar árvores, contudo, “pode não ser suficiente”. O crescimento das árvores é um processo “longo e cerca de metade morrem em dois anos“. Preservar as árvores existentes e complementar os esquemas de plantio de árvores com outras medidas que reduzam a intensidade das ICU, “como a redução do uso de carros”, são “igualmente importantes”.
As árvores urbanas fornecem “benefícios substanciais” à saúde pública e ao meio ambiente. “O nosso estudo sugere que, ao aumentar a cobertura de árvores, as mortes prematuras por ilhas de calor urbano nas cidades europeias podem ser reduzidas.” Mas para que a resiliência das cidades aumente, “continua a ser importante combinar maior cobertura arbórea com outras infraestruturas verdes urbanas”.
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